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"Nossa pauta está muito alinhada à agenda do governo eleito", diz Ilan, eleito presidente do BID

Primeiro presidente a assumir a instituição afirma que tomará posse no dia 19 de dezembro

Ilan Goldfajn,: primeiro brasileiro eleito presidente do BID (Adriano Machado/Reuters)

Ilan Goldfajn,: primeiro brasileiro eleito presidente do BID (Adriano Machado/Reuters)

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Agência O Globo

Publicado em 20 de novembro de 2022 às 18h49.

Eleito presidente o BID em primeiro turno neste domingo ao conquistar o apoio de 30 países que representam 80% dos votos da instituição, Ilan Goldfajn, primeiro presidente brasileiro do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), afirma que suas prioridades, como combate à pobreza, desenvolvimento e ações contra o aquecimento global, estão alinhadas às prioridades do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.

Após um ruído -- quando o ex-ministro Guido Mantega, então na equipe de transição do petista, chegou a tentar adiar a escolha do presidente da instituição pelos próximos cinco anos, sem sucesso, a não objeção do novo presidente do Brasil foi fundamental para que Ilan fosse eleito em primeiro turno.

Após ser eleito, ele afirmou que assumirá o cargo em 19 de dezembro, um dia após o fim da Copa do Mundo que, segundo ele "se tudo der certo", pode ser vencida pela seleção brasileira. Ao assumir o banco depois da queda de um presidente - o americano Mauricio Claver-Carone, após denúncias de conduta indevida com uma subordinada -, Ilan afirma que terá que resgatar o protagonismo do BID e o orgulho de seus funcionários. Veja, abaixo, sua entrevista:

Como o senhor viu sua eleição em primeiro turno para presidente do BID?

Tive o apoio de países que contam com 80% do poder de voto (da instituição), quase 30 países (dos 48 que integram o banco, incluindo dólares europeus e asiáticos) votando a favor do meu nome, e foi no primeiro turno, enfrentando outros quatro candidatos. Isso mostrou um apoio importante na candidatura, de vários tipos de países. Tivemos votando a favor Canadá, Estados Unidos, e países como Colômbia, Peru, todo o Mercosul, países caribenhos, América Central, foi muito importante.

Quais suas prioridades?

Eu acho que o banco tem que retomar seu papel, como instituição mais importante da América Latina. Tem que ser um lugar em que todos olhem e digam é o local que eu preciso ir para ter uma expertise, um conhecimento técnico quando precisar, essa é a instituição que vai financiar as minhas necessidades, quando tivermos uma visão para a região, é o BID que tem que liderar e projetar essa visão no mundo. De liderança mesmo. E os funcionários vendo isso vão voltar a ter orgulho da instituição, ficar motivados e ter esperança, essa é a visão que eu tenho pro BID.

Como o BID pode ajudar no desafio ambiental?

Essa é uma das minhas prioridades, o financiamento climático. Hoje já existem umas métricas de que ao menos 30% do financiamento tem que ir para projetos com a temática ESG (sigla em inglês para compromisso ambientais, sociais e de governança). Há várias formas de você ajudar o combate ao aquecimento global. De um lado há as metas dos países em reduções de emissões de gases, onde você tem que reduzir o uso de carbono e isso pode ser feito de forma responsável ao longo do tempo. Quando você financia, você leva em consideração estas questões. Segundo, você também tem que financiar e olhar os países que estão sendo afetados pelos desastres ambientais, como furacões e enchentes, desastres naturais que estão cada vez mais frequentes. O BID tem que ajudar na reconstrução destes lugares e tem ajudar estes países, que precisam se adaptar, para ficarem cada vez mais resilientes a estes desastres.

A combinação de financiar a redução do uso do carbono, de forma responsável em cada país com sua velocidade, e do outro lado ajudar os países a lidar com o aquecimento global. E finalmente, vindo do Brasil, a gente tem que falar da Amazônia. A gente tem que ajudar a manutenção da biodiversidade, financiando projetos que preservam a floresta, trazendo a questão da Amazônia para a agenda.

Ou seja, usar instrumentos financeiros e taxas de juros para a questão ambiental?

É isso que o BID faz, financia projetos de energia limpa, financia projetos e condiciona projetos à preservação da natureza e do clima e financia projetos que ajudam a biodiversidade e a conservação da floresta. A liberação de dinheiro está condicionada ao combate do aquecimento global.

A sua eleição foi marcada por ocorrer no meio do processo de transição política do Brasil, onde ex-integrantes da equipe de Lula, como o ex-ministro Guido Mantega, chegou a defender o adiamento da escolha do presidente do BID. Como o senhor vê a relação com o futuro governo brasileiro?

A minha relação será de total harmonia. Será um prazer trabalhar com o governo eleito, nós vemos a nossa pauta, as nossas prioridades, muito alinhadas com a agenda do novo governo, então vejo muito natural este trabalho para frente. Hoje, eleito presidente do BID, vou trabalhar com todos os países da América Latina. e vou trabalhar com todos os países que foram eleitos, e o governo do Brasil não será uma exceção. Vamos trabalhar com harmonia, conjuntamente, em uma pauta que tem muitas similaridades.

Não há sentimento ruim, pela tentativa de alguns em boicotar o seu nome?

Não houve nenhuma objeção a meu nome, todo mundo que eu falei no Brasil me deu apoio, então essa percepção internacional foi aceita, e o apoio foi geral da região, de todos os países da América Latina, de Equador à Venezuela, do Panamá à Guatemala, do Haiti a Argentina, Colômbia, Peru, Uruguai, Paraguai.. foi uma votação expressiva que me dá um mandato muito importante para a frente

Como o senhor vê a sua gestão?

A marca da minha gestão será de transparência, de comunicação e diálogo. Uma gestão baseada em evidências, baseada em resultados, que faz prestação de conta. Se quiser olhar o que eu fiz no BC (ele comandou a instituição durante o governo de Michel Temer), como mudou a comunicação com a transparência, e pretendo fazer o mesmo no BID, muitas mudanças na mesma linha, de transparência.

O senhor assumiu o BID após uma crise ética, que levou à queda de um presidente acusado de relações indevidas com uma subordinada…

Certamente, temos que motivar de volta todo mundo para eles voltarem a ter orgulho da instituição, e isso começa com a liderança. Começa com a percepção que há um rumo, uma direção e prioridades.

Quando o senhor assumirá o banco?

A gente acabou de acabar hoje que começo no dia 19 de dezembro. Eu poderia assumir em até 60 dias após a minha eleição, só que o BID está sem comando desde a saída do presidente anterior (em setembro), isso dá uma certa incerteza ao banco. Nós não podemos deixar isso acontecer, então vamos começar agora no dia 19 de dezembro. Se tudo correr bem o Brasil será campeão da Copa do Mundo no dia 18 e eu começo no dia seguinte.

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