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No Rio sob intervenção, roubo cai e morte por policiais aumenta

Eleita para ser "laboratório" da intervenção, a favela Vila Kennedy, na zona oeste, viu seus índices de violência dispararem

Soldados patrulhando a Vila Kennedy em intervenção militar no Rio de Janeiro (Dado Galdieri/Bloomberg) (Dado Galdieri/Bloomberg)

Soldados patrulhando a Vila Kennedy em intervenção militar no Rio de Janeiro (Dado Galdieri/Bloomberg) (Dado Galdieri/Bloomberg)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de dezembro de 2018 às 10h32.

Rio - Com fim agendado para a próxima segunda-feira, dia 31, a intervenção federal na segurança pública do Rio conseguiu reduzir os homicídios dolosos, mas teve aumento recorde de mortes por policiais.

Entre fevereiro, quando passou a vigorar a medida, e novembro, mês com dados mais recentes, os índices de roubos de carga, de carros e na rua também recuaram.

"Temos a convicção de que trilhamos um caminho difícil e incerto, mas cumprimos a missão", afirmou nesta quinta-feira, 27, o interventor, general Walter Braga Netto.

Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), o total de registros de letalidade violenta no Rio de fevereiro a novembro foi de 5.025 - 45 ocorrências a mais do que no mesmo período do ano anterior.

A alta é puxada pela explosão de mortes por policiais - 1.185, ante 859 no mesmo período de 2017, alta de 40% e recorde em 16 anos de série histórica do ISP. Já os homicídios dolosos (sem contar mortes por policiais) caíram 6%.

O total de policiais mortos recuou 32% - de 134 para 91, número ainda considerado elevado por especialistas. Já os roubos de carga caíram 20%; roubos de automóvel, 8%; e roubo de rua, 6%.

"Após dez meses, atingimos todos os objetivos propostos, de maneira a recuperar a capacidade operativa dos órgãos de segurança pública e baixar os índices de criminalidade", afirmou Braga Netto nesta quinta, na cerimônia de encerramento da intervenção.

"Consistentemente, todos os relatórios que lançamos mostram aumento da violência armada na intervenção", disse a socióloga Maria Isabel Couto, do laboratório de dados sobre violência urbana Fogo Cruzado.

"Significa que a própria política de segurança tem impacto grande na violência armada. É efeito claro do aumento das operações grandes e com muitos agentes." Outro mau resultado, para especialistas, é o não esclarecimento da morte da vereadora Marielle Franco, em março.

Segundo balanço oficial, o Gabinete de Intervenção empenhou para gastar R$ 890 milhões - 74% do orçamento total de R$ 1,2 bilhão reservado para o órgão. O gabinete promete elevar o montante empenhado a 90% do orçamento até sábado, 30 - nas regras do orçamento público, quando um valor é empenhado, o governo assume que terá crédito para fazer o pagamento.

Laboratório

Eleita para ser "laboratório" da intervenção, a favela Vila Kennedy, na zona oeste, viu seus índices de violência dispararem. De nove indicadores medidos pelo Observatório da Intervenção, só um ficou estável: roubo de carros. Os outros pioraram, como homicídio doloso (alta de 7,6%) e roubo ao comércio (aumento de 26,5%), segundo dados da 34.ª DP.

Também cresceu em 171% o número de disparos e tiroteios, segundo a ONG Fogo Cruzado. Isso fez com que profissionais da Clínica da Família Wilson Mello Santos, que ficava no meio da comunidade, abandonassem o prédio. Agora, o atendimento é improvisado num centro comunitário na entrada da favela. "Não dá para trabalhar, é tiro o tempo todo. E já aconteceu de os bandidos invadirem a clínica", contou um funcionário, sob anonimato.

"A violência diminuiu com a presença do Exército, mas, conforme eles foram saindo, tudo voltou", disse um morador da favela. Procurado, o Gabinete da Intervenção não se manifestou sobre a Vila Kennedy. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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