Marcha das Mulheres Negras: “estamos dando o tom das lutas, estamos nos organizando, organizando a luta do ponto de vista feminino" (Marcello Casal Jr/ Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 20 de novembro de 2015 às 18h09.
Mulher e negra. Vítima de uma só vez de machismo e racismo. Foram essas duas chagas que um grupo de 20 mulheres da Primeira Marcha das Mulheres Negras foi apresentar para a presidente Dilma Rousseff.
Em um encontro rápido, ficou marcado que ‘a luta é feminina e ninguém vai aceitar retrocesso nos direitos conquistados’.
Segundo a secretária de combate ao racismo da CNTE, integrante do Movimento Negro Brasileiro, Ieda Leal, o grupo convocou a presidente para que ela assine essa pauta pelo fim do extermínio da juventude negra, pelo fim da intolerância religiosa, do racismo, do machismo, do feminicídio.
"Detalhamos para a presidente situações de preconceito e esperamos que ela possa nos ajudar. Somos mais de 55% da população.”
A presidente, de acordo com integrantes da comitiva, se mostrou receptiva e frisou várias vezes que ficou feliz em ver mulheres exercendo a cidadania, tomando as rédeas da situação.
Para Ieda, as mulheres estão em uma nova posição de embate, empoderadas.
“Estamos dando o tom das lutas, estamos nos organizando, organizando a luta do ponto de vista feminino. Retornaremos para os nossos locais de trabalho diferente, com mais sede de organizar a luta. Estamos mais emparedadas não tem volta. A luta é feminina e ninguém vai aceitar retrocesso.”
A subsecretária-geral das Nações Unidas e diretora executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka, também esteve no Brasil para participar da marcha. Após reunião com a presidente, ela destacou que vê no Brasil empenho em combater a violência de gênero.
“Não há nenhum país no mundo com plena igualdade de gênero. Certamente há países com diferentes níveis de avanços. O esforço às vezes traz perdas e ganhos, o importante é que ele se mantenha.”
PL do Cunha
Questionadas sobre o projeto do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que dificulta o acesso hospitalar às vítimas de estupro, a secretária especial das mulheres, Eleonora Menicucci, enfatizou que a presidente Dilma sancionou em 2013 uma lei que facilita o acesso e que é isto que está em vigor e deve ser seguido.
A ministra da Secretaria das Mulheres, dos Direitos Humanos e da Igualdade Racial, Nilma Lino, acrescentou que não será aceito nenhum tipo de retrocesso. Ela minimizou o projeto, disse que está em fase inicial de discussão e que o governo ainda não pensou em nenhuma articulação para barrá-lo.
Confusão
Embora não tenha sido tratado na reunião com a presidente, a confusão em frente ao Congresso com agressão às mulheres que foram pedir o fim da violência de gênero foi amplamente discutida pelo grupo no Planalto.
“O nome do que aconteceu é racismo. Enfrentamos problemas sérios de intolerância, o que não impediu que nossa marcha seguisse em frente. É preciso reverter esse racismo. Defendemos liberdade de expressão, mas não vamos admitir qualquer tipo de violência. Não temos bomba, não temos armas, acharam que íamos entrar naquela baixaria, mas não nos rendemos. Vamos querer que quem cometeu o crime seja punido.”
De acordo com a ministra, todas as providências estão sendo tomadas para que o caso seja apurado.