Brasil

Nem, chefe do tráfico no Rio: do luxo na favela para a prisão

Antônio Francisco Bonfim Lopes, apelidado de "Nem", dirigiu durante 10 anos o tráfico na Rocinha, a favela mais populosa do Brasil

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2011 às 20h41.

Rio de Janeiro - Nem, 35 anos, que vivia como um rei na maior favela do Rio, comandava 200 pessoas em uma poderosa rede de narcotráfico e chegou a simular sua morte para escapar da polícia, foi preso e levado nesta quinta-feira à prisão de segurança máxima Bangu.

Antônio Francisco Bonfim Lopes, apelidado de "Nem", dirigiu durante 10 anos o tráfico na Rocinha, a favela mais populosa do Brasil e uma das maiores da América Latina, com mais de 120.000 habitantes.

Em sua casa com salão de festas, academia e terraço com vista para o mar, Nem ganhava cerca de 3 milhões de reais por mês pela venda de maconha, cocaína e crack - o qual refinava em laboratórios clandestinos na favela - e ecstasy, a única droga que consumia, segundo afirmaram policiais não identificados à imprensa local.

Ex-funcionário modelo de uma empresa de telecomunicações, entrou no crime organizado casualmente, depois de ter pedido dinheiro emprestado a um ex-chefe do narcotráfico da Rocinha para pagar os gastos hospitalares de um de seus filhos, disse à AFP William de Oliveira, presidente do Movimento Popular de Favelas e morador da Rocinha por toda a vida.

Para pagar suas dívidas, começou a traficar e logo se tornou chefe da facção "Amigo dos Amigos" (ADA), que controla a Rocinha, informou Oliveira.


"Era trabalhador (...). Não era uma má pessoa. Espero que possa pagar por seus crimes e retornar como cidadão à favela para ficar com sua família", afirmou esse ex-vizinho do líder criminoso.

Nem, que enfrenta nove mandados de prisão por narcotráfico, homicídio e lavagem de dinheiro, nunca tinha sido preso. Foi preso na madrugada desta quinta-feira pela polícia quando fugia da Rocinha escondido no porta-malas de um automóvel, diante de uma iminente operação policial para a retomada da favela.

"Ele tem a palavra final em tudo o que acontece dentro das comunidades, oferecendo uma imagem de benfeitor e escondendo os rastros de sangue e terror", afirmou a polícia em sua ordem de busca.

Em janeiro de 2010, tentou forjar sua própria morte para escapar da Justiça, encarregando seu enterro e pagando um médico para que fizesse uma certidão de óbito falsa.

Em agosto do mesmo ano, fugiu de um baile na favela perseguido pela polícia, e invadiu com seus cúmplices do Hotel Intercontinental de São Conrado, onde fez 35 reféns até que conseguiu escapar.

Nem é suspeito também do assassinato de duas mulheres de 20 e 25 anos que entraram na Rocinha em maio de 2010 e desapareceram. Segundo o delegado da divisão de homicídios do Rio, Felipe Ettore, as duas foram condenadas à morte pelo "tribunal do tráfico" dirigido por Nem, pelo desvio de uma carga de haxixe com valor estimado de 30.000 reais.


No domingo passado, frente à iminente ocupação policial da favela, Nem ofereceu uma grande festa de despedida, durante a qual chorou por seu futuro e misturou uísque com ecstasy, o que provocou uma convulsão e teve de ser atendido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Rocinha. Temeroso de ser preso no local, fugiu com o frasco de soro ainda no braço, segundo a polícia.

Nem, um homem alto e magro, "tem sete filhos, dois deles adotados, de três mulheres diferentes, e disse que quando sair da prisão voltará a ter uma vida normal", afirmou nesta quinta-feira o delegado da Polícia Federal do Rio, Victor Poubel.

Acompanhe tudo sobre:cidades-brasileirasDrogasMetrópoles globaisRio de JaneiroViolência urbana

Mais de Brasil

Em depoimento ao STF, Cid diz que Bolsonaro 'sempre buscou fraude nas urnas'

Ao STF, Cid diz que Zambelli e Delgatti debateram fraudes nas urnas com Bolsonaro antes da eleição

Cid diz ao STF que recebeu 'dinheiro' de Braga Netto em plano para monitorar Moraes

Greve de caminhoneiros em Minas Gerais ameaça abastecimento de combustível