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Negros pediram mais auxílio emergencial, mas brancos tiveram maior sucesso

Dado é de estudo mais amplo divulgado nesta quarta pelo Instituto Locomotiva, sobre como o racismo está arraigado no Brasil

Brasileiros aguardam em fila para receber segunda parcela do auxilio emergencial do governo durante a pandemia do novo coronavírus.  (Bruna Prado/Getty Images)

Brasileiros aguardam em fila para receber segunda parcela do auxilio emergencial do governo durante a pandemia do novo coronavírus. (Bruna Prado/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 17 de junho de 2020 às 12h24.

Última atualização em 17 de junho de 2020 às 15h16.

A maioria dos que solicitaram ao governo o auxílio emergencial de 600 reais, anunciado à população mais vulnerável em meio à pandemia do coronavírus, é formada de pessoas negras. Entre os contemplados até agora, no entanto, a taxa de sucesso dos não negros é melhor.

Levantamento feito pelo Instituto Locomotiva mostra que, entre os negros que pediram o auxílio, 74% tiveram o pedido liberado. Essa taxa foi de 81% entre os não negros que fizeram a solicitação. Do grupo total de candidatos ao benefício temporário, 43% eram negros e 37% não negros.

A informação é de um estudo mais amplo divulgado nesta quarta-feira, 17, pelo instituto e que mostra como o racismo está arraigado no Brasil, onde negros ocupam mais posições precárias e com menor renda, mas são menos beneficiados.

"7% ainda acham que não existe racismo no país. Precisamos continuar incentivando e falando sobre a importância de cada vez mais os pretos estarem nos espaços de poder”, diz Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa) e do Data Favela.

A pesquisa também deixa mais claro de que forma a população negra sentiu mais os efeitos econômicos do coronavírus, especialmente quanto à diminuição da renda e não pagamento de contas: 73% dos que afirmam terem tido diminuição da renda famíliar, 73% negros e 60% não negros. Dos que deixaram de pagar contas, o número é 49% ante 32%, respectivamente.

“A diferença salarial é muito grande. O que impacta na economia, já que os negros perdem poder de consumo. É importante que o mercado olhe para essa pesquisa, e comece a se diversificar”, diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva e fundador do Data Favela

Trabalhadores não negros ganham em média 76% a mais que os negros, mostra o estudo. A média do salário também é bem discrepante: R$ 1.764 contra R$ 3.100.

Mesmo assim, dos pequenos empresários que estão tendo de manter seu negócio fechado durante a pandemia, a maioria é formada de negros: 38% ante 35% de não negros.

A população negra consome R$ 1,9 trilhão por ano, o que representa 40% do total do consumo brasileiro, de acordo com a Locomotiva. No país, 56% se declaram negros (pretos ou pardos) ou 118,9 milhões de pessoas.

A pesquisa foi feita entre os dias 4 e 5 de junho, por meio de um questionário que coletou 1.459 entrevistas, de 72 cidades de todos os estados do país.

 

 

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