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Negacionismo é o aspecto mais negativo do Brasil no exterior, diz FHC

Ex-presidente do diz que houve desconcerto de autoridades internacionais pela velocidade com que o novo coronavírus se alastrou no Brasil

FHC: ex-presidente avaliou que atualmente o risco de ruptura institucional no Brasil é "grande" (Nacho Doce/Reuters)

FHC: ex-presidente avaliou que atualmente o risco de ruptura institucional no Brasil é "grande" (Nacho Doce/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 26 de maio de 2020 às 17h18.

Última atualização em 26 de maio de 2020 às 18h07.

"Negacionismo, isso não dá". Esse é o aspecto mais grave que autoridades internacionais têm tido sobre o Brasil hoje, segundo relatou nesta terça-feira, 26, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista ao JOTA.

"As pessoas que mandam hoje no Brasil têm uma visão de mundo não de direita, mas atrasada, que não reconhece a ciência. E o fato de se ter uma liderança atrasada é pior do que se ter uma liderança de direita, que é apenas uma posição ideológica", disse FHC após ser questionado sobre como figuras do exterior estão avaliando a situação atual do país.

O ex-presidente, que recentemente participou do Foro Ibero-Americano, afirmou que a resposta brasileira à pandemia do novo coronavírus "foi ridícula" e "grave", o que gerou um "certo desconcerto [de autoridades internacionais] pela velocidade com que a doença se alastrou por aqui".

Para FHC, a desigualdade foi naturalizada no Brasil mesmo diante da covid-19, "que chegou de avião, mas agora penetra as camadas mais populares". Ele disse que o cenário é angustiante, principalmente em torno das perspectivas de recuperação na pós-pandemia.

"O risco maior vai ser ao final da pandemia, com a trágica realidade do desemprego, fechamento de empresas e dívida pública aumentando. Esse governo tinha um projeto de poder liberal, inclusive na parte econômica, e ele bateu de frente com a realidade", afirmou.

Risco de ruptura institucional

O ex-presidente, que ficou no cargo entre 1995 e 2003, avaliou que sempre há risco de uma crise institucional no Brasil, mas que "hoje o risco é grande".

Na entrevista, ele fez uma comparação com o período da Ditadura Militar, que durou vinte anos e foi marcado pelo fechamento do Congresso, o cerceamento de direitos civis, repressão e ausência de liberdade de imprensa.

"Em 64 havia um projeto de poder lá fora, entre Estados Unidos e Rússia. Agora não. Há uma pandemia e houve uma reunião ministerial em que não se falou sobre a pandemia, sobre o desemprego. Esses são os problemas concretos", disse.

Para FHC, a presença de ministros militares no governo, e consequentemente, segundo ele, da "militarização do instrumento decisório" no país, sinaliza fraqueza do governo.

"Quando governos são frágeis, eles apelam para o que têm", afirmou, acrescentando que não acredita que os generais que hoje estão no governo de Jair Bolsonaro "estejam lá com um propósito, mas isso não quer dizer que não possa virar alguma coisa".

"Você acha que os militares que deram golpe em 64 queriam fazer o que foi feito depois? Um sistema repressivo, sem liberdade de imprensa e com tortura? Não queriam, isso foi indo".

O ex-presidente, contudo, é cauteloso ao falar sobre impeachment. "Eu chamo de paciência histórica. Eu não votei nele, mas a maioria votou. Então é melhor manter as regras, mas chega um momento que não dá. E isso depende mais dele do que de nós", avaliou.

Ele sinalizou que "não vivemos em uma ditadura, ainda", mas sugere que quem não está no governo "tem a obrigação de olhar e dizer que está errado".

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