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Não torço pela prisão do Lula, afirma Aécio

"Nós não temos de nos envergonhar em momento algum do apoio que demos à agenda do governo Temer", disse o senador.

Aécio Neves: "Depois de um determinado período, em junho, quando as convenções são realizadas, acho difícil impedir uma candidatura presidencial." (Wilson Dias/Agência Brasil)

Aécio Neves: "Depois de um determinado período, em junho, quando as convenções são realizadas, acho difícil impedir uma candidatura presidencial." (Wilson Dias/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de dezembro de 2017 às 12h56.

São Paulo - O senador Aécio Neves (MG) afirmou ao Estado que não se pode descartar uma nova candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República.

"Depois de um determinado período, em junho, quando as convenções são realizadas, acho difícil impedir uma candidatura presidencial."

Já que o sr. descarta disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, para qual cargo pretende concorrer no ano que vem?

Não há hipótese da Câmara. Não faria sentido. Existem em Minas manifestações das mais variadas para que eu dispute cargos majoritários. Teremos uma candidatura para ser contraponto ao governo do PT. O caminho natural é o Senado.

Será uma eleição sem doação empresarial. Como pretende financiar sua campanha?

Defendi que nós deveríamos manter o financiamento empresarial em limites muito mais estreitos do que aqueles que já existiam, com controle maior. Fomos voto vencido. Perdemos aqui com o voto de muita gente que se arrepende um pouco disso. Coube ao Estado financiar as campanhas. É uma nova experiência. Meu sentimento é que após essas eleições nós vamos estar discutindo o retorno do financiamento privado.

Por quê?

Porque a tendência é cada vez mais você onerar o Estado nesse financiamento. Os recursos que serão destinados nesse ano, pelo que estou percebendo, serão maiores do que aqueles anunciados inicialmente. Esse assunto fatalmente voltará.

O financiamento empresarial não é a origem de todos esses casos de corrupção?

Não acho que seja o financiamento privado. A questão da corrupção é de caráter e posicionamento pessoal de cada um. O que houve foi uma apropriação de determinadas empresas do processo político. Defendemos limites estreitos. Não podemos ter mais no Brasil o cenário em que uma empresa financia 300 parlamentares e cria vínculos com eles.

O sr. foi vaiado na convenção do PSDB. Sentiu um clima hostil por parte de ex-aliados? Chegaram a pedir que não fosse ao evento?

Pelo contrário. Eu fui recebido de forma entusiasmada por centenas de militantes do partido, que me homenagearam. Reconhecem o trabalho que eu fiz no PSDB. Se existiram insatisfações, não cheguei a ouví-las.

Mas considero natural que possa ter ocorrido, principalmente daqueles que estavam descontentes com a eleição de Geraldo Alckmin, presidente do PSDB. Porque tinham outras preferências.

Fiquei feliz de ver o governador Geraldo Alckmin tendo a possibilidade de receber um partido unido. Ele terá o grande desafio de resgatar o DNA reformista do PSDB.

O PSDB não pode apoiar as reformas da boca para fora. Não pode ser caudatário da ação de outros partidos. Somos vanguarda. Sempre fomos.

Foi muito positivo que o PSDB fechasse questão (obrigar a votar em bloco) em relação à votação da reforma da Previdência. Mas é óbvio que esse fechamento de questão precisa de alguma consequência. Alguma sanção tem de haver, senão fica parecendo jogo de cena.

O governo Temer defende um projeto único de poder, com um candidato que defenda o legado da atual gestão na eleição. Alckmin deve fazer esse papel?

Não acho que esse seja o papel do PSDB. Ao mesmo tempo, nós não temos de nos envergonhar em momento algum do apoio que demos à agenda do governo Temer. Essa foi uma decisão coletiva, não individual do presidente do partido.

Muitos que hoje bradam pelo "fora, Temer" foram lá entregar a ele um conjunto de propostas. O item 6 era exatamente a reforma da Previdência.

Condicionamos nosso apoio à adoção dessa agenda. Goste ou não do presidente Temer, boa parte dela está em curso. É um governo impopular, mas o Brasil de hoje é melhor do que no final do governo Dilma.

É governo dos sonhos? Não é. Não é o governo do PSDB. Sempre foi o governo do PMDB. Mas a saída do PSDB do governo não podia ser um jogo de cena. Seria oportunista. O partido corria o risco de repetir aquilo que sempre condenamos no PT.

Não podemos jogar pedras no governo porque ele é impopular. Algumas alianças podem acontecer com naturalidade. Na vida como na política, a virtude nunca está nos extremos. O PSDB precisa resgatar esse espaço, do ponto de equilíbrio. Não devemos agora negociar alianças de forma açodada.

O que achou do agendamento do julgamento do recurso de Lula no TRF-4 para janeiro? O ex-presidente FHC disse que prefere enfrentar Lula nas urnas do que vê-lo preso.

Eu não torço pela prisão do Lula. Não torço pelo que ele representou para o país. Mas ele tem de responder para a Justiça, que não pode ser seletiva. O que o ex-presidente Fernando Henrique externou é um sentimento pessoal.

Temos de resgatar na eleição a capacidade de discutir o país. Temos de sair da delegacia de polícia e voltar a falar ao coração das pessoas. Precisamos restabelecer um clima minimamente respeitoso.

Lula consegue se candidatar?

Deve-se trabalhar com a possibilidade do Lula candidato. Não é apenas a decisão do TRF da 4.ª Região, mas os recursos que ele ainda pode entrar. Depois de um determinado período, em junho, quando as convenções são realizadas, acho difícil impedir uma candidatura presidencial.

Quanto mais cedo essa questão for resolvida, melhor para o processo eleitoral. O PSDB precisa estar preparado para disputar com qualquer um, até mesmo com o Lula.

Como sair da "delegacia de polícia" num momento em que a classe política enfrenta um desgaste tão forte, com ex-governadores e ex-ministros presos, assim como um ex-presidente da Câmara?

Isso não vai desaparecer. Vai estar presente nas eleições, mas não pode ser o mote da eleição. Se trouxermos o Supremo ou o juizado de primeira instância para ter protagonismo nas eleições, quem perde é a população.

Mas reconheço que todos os partidos políticos passam por uma gravíssima crise de representação, no Brasil e no mundo. As pessoas estão buscando outra conexão com seus representantes, que não seja pelos partidos.

O sr. chegou a dizer que a "falência da política" explicaria uma possível pré-candidatura do Luciano Huck à Presidência. Ele, por sua vez, disse que estava decepcionado com o senhor...

Depois de algum tempo, eu voltei a conversar com ele. Restabelecemos uma relação. O que eu quero em relação ao Luciano e a qualquer outra pessoa é uma oportunidade de apresentar minha defesa sem prejulgamento.

Há um desgaste político enorme, mas não houve crime. Quando falo da falência da política, não me refiro a ele especificamente, mas ao surgimento de figuras fora do campo político. Serve para outros nomes chamados de outsiders.

Discute-se uma proposta de semipresidencialismo. Alguns partidos de esquerda disseram que é golpe. O que acha?

Eu defendo o parlamentarismo. Com 28 partidos no Congresso, seria inviável. Seria queimar uma bela saída para o Brasil.

Como vê a possibilidade de o Supremo restringir o foro privilegiado?

O foro vai acabar. É uma tendência natural. Defendo que acabe para todo mundo. Conversei com o presidente (da Câmara) Rodrigo Maia (DEM-RJ) sobre isso. Ele acha que até o fim de março será votado na Câmara.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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