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'Não somos discípulos de Deltan Dallagnol', diz Renan em discurso na CPI

Relator da comissão que investigará omissões do governo durante a pandemia, o emedebista prometeu atuar de forma isenta e imparcial

À mesa, relator da CPI da Covid-19, senador Renan Calheiros (MDB-AL). (Edilson Rodrigues/Agência Senado)

À mesa, relator da CPI da Covid-19, senador Renan Calheiros (MDB-AL). (Edilson Rodrigues/Agência Senado)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 27 de abril de 2021 às 14h09.

Última atualização em 27 de abril de 2021 às 15h30.

Relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigará ações do governo no combate à pandemia de Covid-19, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) prometeu, nesta terça-feira, 27, atuar de forma isenta e imparcial, sem tomar conclusões antes das investigações concluídas. O emedebista foi indicado à relatoria pelo presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), na reunião inaugural do colegiado, pela manhã.

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No primeiro discurso após a indicação, Renan garantiu que se pautará “pela isenção e imparcialidade que a função impõe”, independente de “valorações pessoais” e opiniões. "Não somos discípulos de Deltan Dallagnol, nem de Sergio Moro", declarou Renan, em referência ao ex-procurador da República, coordenador da Operação Lava Jato, e ao ex-juiz federal, respectivamente.

No discurso, o senador deixou claro que não arquitetará "teses sem provas ou power points contra quem quer que seja" e não "desenhará o alvo para depois disparar a flecha". Segundo Renan, a CPI não será um "cadafalso com sentenças pré-fixadas ou alvos selecionados". Ele se comprometeu a fazer uma investigação “técnica, profunda, focada no objeto que justificou a CPI e despolitizada”.

"Estaremos discutindo aqui o direito à vida, não se alguém é direita ou da esquerda", declarou Renan. As opiniões e impressões que ele tiver, disse, estarão sempre "subordinada aos fatos" apurados. "Serei relator, não das minhas convicções, mas o redator do que aqui for apurado e comprovado. Nada além, nada aquém", afirmou.

Renan assegurou que a CPI respeitará o contraditório, o direito à defesa, a presunção de inocência e a paridade de armas. "Garantias civilizatórias que tantas vezes foram negligenciadas nos últimos tempos e que só contribuem para reprovável erosão das instituições", acrescentou. "Não estamos aqui para maquinar ações persecutórias, para blindar, engavetar, tergiversar ou procrastinar", disse.

Segundo o senador, "agindo com imparcialidade, a partir de decisões coletivas, sem comichões monocráticas, ninguém arguirá nenhum tipo de suspeição no futuro desse trabalho". Mais cedo, no início da sessão, senadores governistas tentaram barrar a indicação do emedebista à relatoria, apesar do acordo firmado entre a maioria dos titulares do colegiado.

Logo no início da sessão, o senador Jorginho Mello (PL-SC) argumentou que Renan deveria ser impedido de relatar uma comissão que pode investigar o próprio filho -- Renan Filho (MDB) é governador de Alagoas. A maioria dos senadores, no entanto, foi contra o entendimento do senador do PL. 

Na segunda-feira, 26, decisão liminar da Justiça Federal do Distrito Federal tentou barrar a possibilidade de indicação de Renan. Nesta terça, no entanto, a liminar foi derrubada pelo Tribunal Federal da 1ª Região (TRF-1). O desembargador Francisco de Assis Betti decidiu que o juiz não “detém competência constitucional nem regimental para implementar a medida”.

'Negacionismo'

Renan continuou o discurso dizendo que "o negacionismo em relação à pandemia ainda terá de ser investigado e provado, mas quanto ao negacionismo em relação à CPI da Covid já não resta a menor dúvida". Os fatos serão apurados com instâncias técnicas do Estado, como Polícia Federal, Ministério Público e Tribunal de Contas da União (TCU), disse.

"Estaremos aqui para averiguar fatos e desprezar farsas", reforçou. A comissão, segundo Renan, "será um santuário da ciência, do conhecimento e uma antítese diária e estridente ao obscurantismo negacionista e sepulcral, responsável por uma desoladora necrópole que se expande diante da incúria e do escárnio desumano". Será a comissão "da sacralização da verdade contra o macabro culto à morte e contra o ódio", continuou.

Para Renan, "contrapor o caos social, a fome, o descalabro institucional, o morticínio, a ruína econômica e o negacionismo não é uma predileção ideológica ou filosófica, é uma obrigação democrática, moral e humana". Ele classificou como "os inimigos da relatoria" a pandemia e pessoas que "por ação, omissão, incompetência ou malversação, se aliaram ao vírus e colaboraram com o morticínio".

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