Brasil

Não há como defender Delcídio, avalia governo

Diante das declarações do senador divulgadas com a determinação de prisão do parlamentar pelo STF, o governo entendeu que não há como defendê-lo


	Palácio do Planalto: núcleo duro da presidente Dilma passou a manhã em reuniões para avaliar o tamanho do estrago e decidir o que fazer
 (.)

Palácio do Planalto: núcleo duro da presidente Dilma passou a manhã em reuniões para avaliar o tamanho do estrago e decidir o que fazer (.)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de novembro de 2015 às 22h55.

Brasília - Diante das declarações do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) divulgadas com a determinação de prisão do parlamentar pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto entendeu que não há como defendê-lo e decidiu adotar distanciamento do caso, informaram à Reuters três fontes do Planalto.

Pego completamente de surpresa pela prisão do seu líder no Senado, em um momento em que o governo comemorava um alívio na crise política dos últimos 10 meses, o núcleo duro da presidente Dilma Rousseff passou a manhã em reuniões para avaliar o tamanho do estrago e decidir o que fazer.

Em diálogos que constam na decisão do ministro do STF Teori Zavascki, que determinou a prisão preventiva de Delcídio, o senador é citado oferecendo dinheiro, influência política e até uma rota de fuga para beneficiar o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Depois de analisar as gravações das conversas de Delcídio com o advogado e o filho de Cerveró, a avaliação entre os auxiliares da presidente é que não há como defender o senador e, portanto, ele também não tem mais condições de seguir na liderança do governo, disseram à Reuters as fontes sob condição de anonimato.

Ao mesmo tempo, o Planalto avalia que esta é uma crise que não cabe ao governo Dilma, já que o senador não envolve o Executivo e fica claro que tentava evitar a delação de Cerveró por temer que fossem dadas informações sobre seu suposto envolvimento com a Lava Jato, que investiga um esquema de corrupção na Petrobras.

Durante todo o dia, o governo se fechou e evitou comentários sobre a situação do senador. Pela manhã, um evento em que a presidente recebeu a seleção brasileira de handebol feminino, inicialmente programado para ser aberto – o cenário estava inclusive montado – foi fechado para a imprensa.

À tarde, Dilma se recolheu ao Palácio do Alvorada e para lá transferiu sua agenda.

Os ministros evitaram fazer comentários ou dar entrevistas, e nem mesmo se ensaiou uma defesa de Delcídio, que tinha ótimo trânsito no Planalto e é um dos petistas mais próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo não sendo “de raiz”.

"Os eventos tornam o cenário ruim. No entanto, fica patente no áudio que a ação dele é individual, e jamais fala em nome do governo", disse à Reuters uma fonte graduada do governo.

O mesmo distanciamento foi adotado pelo PT. Em nota, o presidente do partido, Rui Falcão, afirmou que o PT “não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade” e que “nenhuma das tratativas atribuídas ao senador tem qualquer relação com sua atividade partidária, seja como parlamentar ou como simples filiado”.

No texto, Falcão diz ainda que convocará a Executiva Nacional para tomar as “medidas cabíveis” – o que possivelmente significará a expulsão de Delcídio do PT.

A única comunicação do Planalto na tarde desta quarta-feira foi uma nota informando da decisão de manter o Senado sob a liderança dos quatro vice-líderes – Paulo Rocha (PT-PA), Wellington Fagundes (PR-MT), Telmário Mota (PDT-RR) e Hélio José (PSD-DF) – até que seja tomada uma decisão final sobre quem substituirá Delcídio, na próxima semana.

Pela manhã, instados pela presidente, os ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação da Presidência) propuseram anunciar Fagundes como um líder interino até que o Planalto tomasse uma decisão definitiva.

Dilma, no entanto, vetou a ideia e preferiu esperar, disse à Reuters uma fonte palaciana. Não há decisão ainda se o próximo líder será um dos quatro senadores ou ainda um outro, mas a presidente preferiu esperar para apresentar um nome só. Até lá, os quatro dividirão a liderança.

AGENDA LEGISLATIVA

O temor do governo é uma paralisia dos trabalhos do Congresso pela prisão do senador, em um momento em que se via, pela primeira vez em meses, uma melhoria da relação política do Planalto com o Congresso e um arrefecimento da crise, especialmente depois que se afastou, ao menos temporariamente, o risco de impeachment da presidente.

A sessão do Congresso, marcada para a manhã desta quarta, iria apreciar a mudança da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano para incluir um déficit consolidado que pode chegar a 117 bilhões de reais.

Se terminar um ano com o Orçamento prevendo superávit, como está agora, o governo incorre em crime de responsabilidade fiscal.

Na avaliação do cientista político Carlos Melo, do Insper, a situação do governo vai se agravar com a prisão de Delcídio, e a vulnerabilidade da presidente vai aumentar.

“O mais óbvio é não votar nada, não encaminhar nada. Essa é a grande tragédia para o governo. Você tem uma agenda importante, que é urgente, e que não vai andar”, afirmou.

Para o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas, em um primeiro momento a agenda legislativa do governo vai atrasar, mas no médio prazo não fará tanta diferença.

Acompanhe tudo sobre:Dilma RousseffPersonalidadesPolíticaPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos TrabalhadoresSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

STF rejeita recurso e mantém pena de Collor após condenação na Lava-Jato

O que abre e o que fecha em SP no feriado de 15 de novembro

Zema propõe privatizações da Cemig e Copasa e deve enfrentar resistência

Lula discute atentado com ministros; governo vê conexão com episódios iniciados na campanha de 2022