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Não é certeza que Moro seja indicado para o STF, diz Eduardo Bolsonaro

Em entrevista, o deputado fala sobre a denúncia da PGR por ameaças a ex-namorada e defende as mudanças na estrutura das polícias

Eduardo Bolsonaro: ele chega ao segundo mandato estufado de votos (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Eduardo Bolsonaro: ele chega ao segundo mandato estufado de votos (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 06h00.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2019 às 06h00.

O deputado Eduardo Bolsonaro, o 03 do presidente Jair Bolsonaro, é um dos homens fortes do novo governo. Escrivão da PF com estilo de policial operacional, aos 34 anos, Eduardo chega ao segundo mandato estufado de votos: conseguiu em São Paulo, mais de 1,8 milhão de votos, multiplicando em 22 vezes a votação de 2014.

Herdeiro do estilo verbal agressivo do pai, começa a nova legislatura como alvo de uma denúncia que tramita no Supremo Tribunal Federal oferecida pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge sobre supostas ofensas e ameaças que o deputado teria feito à sua ex-namorada, a jornalista Patrícia Lélis.

“Não tem pé nem cabeça”, disse, em entrevista à Pública, chamando a jornalista de um “show de horrores”, “uma mitômana diagnosticada por perícia policial”. Também afirma que nunca foi seu namorado e que ela forjou as conversas que serviram de base à acusação de Dodge.

Eduardo Bolsonaro também fala de sua experiência policial e diz que será o interlocutor de um projeto de reforma ampla na segurança, que mexa na estrutura das corporações.

“Será que não é hora de copiar um modelo internacional de sucesso?”, pergunta, citando como referência de inspiração os Carabineiros, no Chile, que resolvem quase 100% dos crimes, enquanto o Brasil, com 64 mil homicídios por ano, não passa de 8% de resolução.

Na guerra interna instalada na Polícia Federal desde que as categorias se organizaram em sindicatos, Eduardo tem posições a favor dos agentes e provavelmente fará um contraponto ao ministro Sérgio Moro, mais ligado aos delegados.

Perguntado sobre a possibilidade de Moro ser indicado para o STF daqui a dois anos, fez uma revelação que contraria a suposta promessa de seu pai quando o então juiz foi convidado para seu governo. “Não é uma certeza (que Moro seja indicado para o STF). É uma possibilidade. Ninguém afirmou isso ainda”, diz.

Leia os principais trechos da entrevista:

Em denúncia que tramita no STF, a PGR cita ameaças que teriam sido feitas pelo senhor à jornalista Patrícia Lélis. Como o senhor responde?

Nunca namorei, nunca tive qualquer relação, nunca saí com ela e nem sequer pedi ela em namoro. Ela já é diagnosticada como mitomaníaca num inquérito da Polícia Civil por perícia técnica e tem uma carreira de fazer denúncias. Como viu que não dava em nada, ficou confortável para ela mandar denúncia contra quem quer que seja. Já havia mandado contra o Marco Feliciano (deputado do PSC-SP), num processo que foi arquivado.

Se olhar o vídeo da entrevista à Luciana Gimenez (Rede TV) vai ver que é ridículo o quanto mente. Agora, não satisfeita, forjou uma conversa no Whatsapp como se eu estivesse a ameaçando.

Vamos parar para pensar: ela disse que namorou comigo três anos e oito meses, mas nenhum amigo meu a conhece e ela não tem foto comigo que não seja de meu gabinete, onde tiro foto com todo mundo. Tinha que ter alguma foto, pelo menos, com minha mãe, meu pai ou minha vó. Não tem.

Quando fez a gravação, a pessoa que se passou por mim está lá gravando, não tem meu número de telefone gravado na agenda dela. Parece até que estava tudo montado. A câmera grava num tripé. Ela nem se mexe. As imagens ali são perfeitas: parece estar esperando o momento em eu ia ameaçá-la.

A procuradora Raquel Dodge fez ofício e enviou para Claro perguntando se o número era de Eduardo Bolsonaro. A Claro respondeu que sim, assim como sabiam as quatro mil pessoas que fazem parte de meu grupo no Whatsapp, que é de domínio público. Dodge perguntou se eu tinha alguma coisa a falar sobre isso, preliminarmente.

Achei tão infundado que preferi não responder. E a própria procuradora falou que me daria oportunidade de defesa e depois faria outras diligências, que aprofundariam a investigação. Não falei nada porque achei sem pé, nem cabeça. Falei: não vou me meter nisso aí.

Para minha surpresa, ela não fez qualquer diligência nova e já ofereceu a denúncia, no mesmo dia em que o STF estava acolhendo denúncia contra o então candidato Jair Bolsonaro. As chamadas no Jornal Nacional: ‘Jair e Eduardo Bolsonaro denunciados no STF’, com estardalhaço.

Não estou acusando a procuradora de nada, mas acho que faltou um pouquinho de zelo para fazer uma investigação mais profunda antes de expor figuras públicas, como nós.

É por isso que nosso foro é o STF, para que a investigação tenha probidade. Ela poderia ter feito alguma diligência. Preparei a defesa. Vamos ver se inicia ou não o processo. Acredito que vai arquivar.

Patrícia Lélis é um show de horror. O Jornal Nacional não falou o nome dela, só falou que o Eduardo Bolsonaro ameaçou uma jornalista. Se falasse, qualquer um que desse um ‘Google’ ia ver o repertório de mentiras e de delírios.

É uma pessoa que deveria ser interditada. Mas já que diz que é sã, uma vez arquivado o processo, estudo entrar com ação por denunciação caluniosa e danos morais.

Que papel o senhor pretende exercer numa reforma no sistema de segurança?

Quero conhecer melhor o novo diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, e ver o que ele acha da (proposta) Lei Orgânica da PF (que propõe carreira única). Aqui (na Câmara) têm várias sugestões, mas nunca foi pra frente. É mais fácil frear um projeto do que colocar adiante.

Há um conflito grande entre delegados e outras categorias da PF, o que acaba sendo difícil para se chegar a um consenso. Os delegados são contra a carreira única ou o modelo chileno (ciclo completo de investigação) porque acham que seriam extintos.

Mas será que não é o momento de copiar um exemplo internacional de sucesso? No Chile, por exemplo, os carabineiros resolvem quase 100% dos casos. Uma reforma na segurança é muito importante para o país.

Como resolver os conflitos internos na PF?

Sou favorável à criação de uma cota de 50% dos cargos de delegado em concursos, preenchida por profissionais de outras categorias da PF que tenham pelo menos três anos de atividade. Isso já vai dar uma oxigenada na carreira e quebra o corporativismo. Gosto do exemplo da PRF (Polícia Rodoviária Federal): lá o chefe de hoje pode ser o subordinado de amanhã. Por isso é muito mais sensível no trato com os subordinados. É praticamente um modelo de carreira única.

Os delegados também têm conflito com os promotores/procuradores. Mas também não se pode transformar as atribuições de um delegado da água para o vinho, mudando a regra do jogo no meio do jogo. O ideal é chamar todas as categorias para buscar um consenso.

Mas vocês também pregam a extinção do inquérito, que é presidido pelos delegados…

É preciso reformular o inquérito policial para que se investigue o que tem significância. Pode chamar de inquérito, persecução, tanto faz. O que não tem sentido é a cada 30 dias ter de mandar o inquérito para o MP (Ministério Público) com pedido de prazo. Se for direto com o MP daria celeridade e efetividade.

O lobby e o corporativismo prejudica a população. Casos como furtos de celulares, por exemplo, nem chegam às delegacias porque a população não registra a ocorrência. O ciclo completo (na investigação) dá passos a favor da punição do marginal.

Um policial federal chega ao topo da carreira com 13 anos de trabalho, sendo bom ou ruim no serviço. Defendo um estímulo à carreira, que (o de baixo) consiga chegar a postos de chefia ou na direção-geral pelo mérito.

Hoje o policial é desestimulado porque é direcionado a se acomodar. Deveria ser o contrário. Agentes, escrivães e demais categorias deveriam ocupar cargos de chefia. A antiguidade deveria ser valorizada.

O conflito interno na PF dura quase 30 anos. Por que o entendimento é difícil?

Vamos falar a verdade aqui, porque gente boa ou ruim tem em qualquer lugar. O que mais me deixa indignado, o que irrita, é (ver) que, às vezes, o (policial) ‘antigão’, que está há anos no front, se depara com um delegado novo, aprovado em concurso, que chega à delegacia sem experiência e começa a dar ordens. Se for arrogante não vai funcionar.

Cheguei a uma delegacia que estava há dois anos sem fazer escuta porque havia um conflito entre o delegado chefe e o agente do grampo. A briga entre eles permite que o bandido escape.

Os agentes apostam no seu cacife político para mudar a correlação de forças…

Quero ser um interlocutor para as reformas necessárias à segurança. O problema é chegar a um consenso mínimo para isso. Por isso estou procurando o diretor da PF, Maurício Valeixo. O ideal é que, quando a proposta estiver pronta, o Congresso possa votar à vontade. É necessário dar fôlego às investigações e melhores condições à polícia.

O policial federal é a categoria que apresenta o maior índice de suicídios. Uma das razões é a frustração profissional. O cara entra pensando que vai ser o cara da Lava Jato, da DEA (a agência americana de combate às drogas), da Interpol e cai numa área burocrática ou na fronteira, que é a primeira lotação, e se frustra.

Que lição o senhor tirou da experiência na polícia?

A grande lição que aprendi na PF é que não existe curso para ser policial. O melhor vai ser o que for sagaz, proativo e o que tenha peito para ‘cair pra dentro’ do problema. É o que não vai ficar pensando: ‘se fizer isso ou aquilo, o promotor e o juiz vão acusar’. Se pensar nisso, não faz nada. Ficará sentado, no ar condicionado.

Os que combatem o crime sabendo que estão correndo o risco de ir para cadeia têm o meu respeito. O grande charme da PF é a multidisciplinaridade: têm o químico, o dentista, o técnico nuclear, etc…

O senhor tem conversado com autoridades de outros países. Em que isso pode ajudar?

Sempre gostei da área internacional, de observar os exemplos de outros países, como Estados Unidos, França… Não precisa inventar a roda. É só copiar o que deu certo no exterior, com alguma adaptação e coragem. O corporativismo, que existe dos dois lados, é o fator mais complicado. Precisa ver quem tem coragem de propor o melhor para sociedade. Ninguém ficaria alijado.

Quero me colocar à disposição de todas as categorias, inclusive a dos delegados. Não sou xiita. Os (servidores) administrativos também podem ajudar e participar. Quero saber quem é bom de tiro, se é sagaz, que não seja só um carimbador.

Como Moro tem mais relação com os delegados e o senhor com os agentes, não há um risco de conflito no coração do governo?

É natural que o ministro Sérgio Moro tenha tido mais contato com os delegados. Eles estavam mais próximos a ele na Lava Jato. Mas cabe a nós falar com o Moro. Sei que ele não se acha dono da verdade e nem acho que seja corporativista por ter mais proximidade com os delegados. Vamos levar ao ministro uma proposta de consenso.

A Fenapef acordou e está participando do legislativo. Somos dois escrivães, um agente e três delegados. Cabe a nós fazer aqui dentro um trabalho formiguinha para, quando o projeto chegar, os parlamentares saibam que as deficiências (estruturais e operacionais) impactam no resultado das investigações.

O Moro pode ir para o STF daqui a dois anos. Não seria esta a hora de ele ter apresentado um pacote mais amplo sobre segurança pública, incluindo a reforma das corporações?

Não é uma certeza (que Moro seja indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para uma vaga no STF). É uma possibilidade. Ninguém afirmou isso ainda. Moro pode fazer bem à polícia porque não é da polícia. É um juiz, isento, e pode tocar um projeto sem corporativismo.

*Este conteúdo foi publicado originalmente no site da Agência Pública.

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