O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista no Palácio da Alvorada, em Brasília (Ricardo Stuckert / PR/Divulgação)
Publicado em 23 de outubro de 2025 às 11h32.
Às vésperas do encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou, nesta quinta-feira, 23, em Jacarta, capital da Indonésia, a necessidade de ampliar o multilateralismo nas relações entre países e citou que quer uma "democracia comercial" em vez de protecionismo.
“Queremos multilateralismo e não unilateralismo. Queremos democracia comercial e não protecionismo”, disse Lula durante evento com empresários e autoridades em Jacarta, na Indonésia.
Para Lula, as transações comerciais entre Brasil e Indonésia podem, futuramente, ser feitas em moedas locais. “É para isso que nós fomos eleitos: para representar o nosso povo e gerar empregos de qualidade”, disse.
O presidente também citou os sistemas de pagamento Pix, do Brasil, e QRIS, da Indonésia, como referências no Brics.
“[Modelos como esse] podem inspirar medidas que facilitarão o comércio em moedas locais entre os países do bloco”, afirmou. "Esse movimento também faz parte de uma estratégia mais ampla do Brasil de diversificar parcerias e facilitar o comércio."
E complementou:
"Como a Indonésia, o Brasil se opõe a medidas unilaterais e coercitivas que distorcem o comércio e limitam a integração econômica."
Durante visita de Estado, Lula anunciou que pretende disputar um quarto mandato nas eleições de 2026.
A declaração foi feita durante uma entrevista à imprensa, ao lado do presidente da Indonésia, Prabowo Subianto, durante visita de Estado ao país.
Lula afirmou estar “com a mesma energia de quando tinha 30 anos” e reforçou que pretende seguir na política após o fim do atual mandato.
“Eu vou completar 80 anos, mas pode ter certeza que eu estou com a mesma energia de quando eu tinha 30 anos de idade. E vou disputar um quarto mandato no Brasil”, declarou.
Lula destacou o crescimento do comércio bilateral nas últimas duas décadas, mas disse que os valores ainda estão distantes do potencial.
“Nosso comércio cresceu mais de três vezes, de US$ 2 bilhões para US$ 6,5 bilhões”, afirmou. “Mas eu disse ao presidente Subianto que é quase inexplicável para as nossas sociedades que Indonésia e Brasil, juntos com quase 500 milhões de habitantes, só tenham um comércio de US$ 6 bilhões. É pouco para a Indonésia, é pouco para o Brasil.”
Lula também relembrou sua visita ao país em 2008, durante a crise financeira global. “Apostamos no mercado interno e na diversificação de nossas parcerias comerciais, e saímos fortalecidos da crise”, disse.
No evento, Lula elogiou o empenho dos empresários brasileiros. “Quero cumprimentar os empresários que fizeram essa travessia do Oceano Atlântico e do Oceano Índico para chegar aqui. Não é uma viagem fácil, não é uma viagem simples”, afirmou.
Ele ressaltou a importância da confiança para investimentos internacionais.
“Uso seis palavras para convencer as pessoas a investir: estabilidade fiscal, jurídica, política, econômica, social e previsibilidade, que os investidores precisam para saber se vale ou não a pena investir, se serão pegos ou não de surpresa", disse. "E isso o Brasil faz questão de oferecer a todo e qualquer investidor que queira procurar o Brasil como um país onde ele possa estabelecer seus investimentos e ter como retorno aquilo que é o resultado do investimento."
Durante a visita, também foram assinados memorandos em áreas como agricultura, energia, mineração, ciência, estatística e promoção comercial.
“Vamos fazer um esforço grande para que Indonésia e Brasil se transformem em dois parceiros fundamentais na geografia econômica do mundo”, disse.
O presidente destacou ainda o potencial de ampliação das trocas comerciais.
“Eu queria dizer que é muito pouco. Um país de 280 milhões de habitantes e um outro país de 215 milhões de habitantes, com tanta similaridade entre si e com tanta necessidade entre si, não têm trabalhado o suficiente para que hoje nós pudéssemos ter um comércio acima de US$ 15 ou US$ 20 bilhões”, afirmou.
O presidente afirmou que Brasil e Indonésia têm condições de liderar o mercado global de biocombustíveis. “A Organização Marítima Internacional não pode adiar eternamente a decisão de descarbonizar o setor”, disse.
“Vamos mostrar na [COP30, em Belém], que é possível promover o desenvolvimento, enfrentar a mudança do clima e proteger as florestas tropicais”, declarou.
Lula também detalhou o funcionamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF). “Aqui é importante dizer para os empresários que essa é uma grande inovação que vai acontecer na COP. Esse fundo é um fundo de investimento em que o Brasil, ao anunciá-lo, depositou US$ 1 bilhão nesse fundo.”, explicou.
“Se esse fundo funcionar, ninguém vai mais ficar pedindo dinheiro como se tivesse pedido esmola para poder manter a nossa floresta em pé e para evitar que o planeta tenha um aquecimento acima de um grau e meio”, acrescentou.