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Na Câmara, cresce pressão para votar a urgência do PL do Marco Temporal de terras indígenas

Projeto transfere do Executivo para o Legislativo a competência para realizar as demarcações de terras indígenas

Cresce na Câmara dos Deputados a pressão para votar na próxima semana a urgência do projeto de lei que trata da demarcação de terras indígenas (Adriano Machado/Reuters)

Cresce na Câmara dos Deputados a pressão para votar na próxima semana a urgência do projeto de lei que trata da demarcação de terras indígenas (Adriano Machado/Reuters)

Izael Pereira
Izael Pereira

Reporter colaborador, em Brasília

Publicado em 24 de maio de 2023 às 19h40.

Última atualização em 24 de maio de 2023 às 19h48.

Cresce na Câmara dos Deputados a pressão para votar na próxima semana a urgência do projeto de lei que trata da demarcação de terras indígenas. O pedido foi apresentado pelo deputado Zé Trovão (PL-SC) e conta com assinaturas dos demais parlamentares do PL além de deputados de partidos do chamado Centrão.

À EXAME, o líder do PSB, Felipe Carreras (PE), afirmou que o requerimento deve ser colocado em votação na semana que vem. O autor do pedido, Zé Trovão, disse que inicialmente a ideia era que o requerimento fosse votado ainda nesta quarta-feira, 24. Ainda segundo ele, como a votação foi adiada, o projeto também deve ser votado no mesmo dia do requerimento.

Leia mais: Demarcação de terras indígenas: o que muda com o decreto assinado por Lula?

Contudo, devido à complexidade do tema, dificilmente o texto seria votado no mesmo dia. Isso caso seja aprovada a urgência que, na avaliação da deputada Erika Kokay (PT-DF), também não deve passar pelo plenário. “Acho difícil, a proposta não trata apenas de terras indígenas, fala de tudo que é ruim”, disse.

Para que o pedido de requerimento seja aprovado são necessários 257 votos favoráveis.

A proposta do Marco Temporal

Parado na Câmara dos Deputados desde 2021, o projeto de lei do Marco Temporal (PL 490/07) voltou a andar em meados de abril a partir de requerimentos apresentados por parlamentares do Partido Liberal (PL) e ligados à bancada ruralista. O texto foi apresentado pela primeira vez em 2007 pelo então deputado Homero Pereira (PR-MT) e transfere do poder Executivo para o Legislativo a competência para realizar demarcações de terras indígenas.

A tese do Marco Temporal estabelece que apenas as terras já ocupadas por povos indígenas na data da promulgação da constituição, 5 de outubro de 1988, podem ser reivindicadas por eles. Assim, um grupo que historicamente ocupa um território, mas que não estava nele na data exata estabelecida, pode ficar sem o direito à demarcação.

A proposta altera a Lei nº 6.001/1973 que dispõe sobre o Estatuto do Índio, que ampara a demarcação de terras realizada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) com base em critérios técnicos e antropólogos. Atualmente, a aprovação da demarcação cabe ao presidente, por meio de decreto.

Em fevereiro, em entrevista à EXAME, o presidente da Frente Parlamentar da Agricultura, o deputado Pedro Lupion, se referiu ao tema como uma das prioridades da bancada — uma das mais poderosas do parlamento. Para Lupion, o julgamento, no Supremo Tribunal Federal (STF), do recurso extraordinário (RE 1017365), que discute se a data da promulgação da Constituição Federal (5/10/1988) deve ser adotada como marco temporal para definição da ocupação tradicional da terra por indígenas, cria um "precedente que não vai afetar só o produtor rural, vai afetar diversas áreas".

Para ele, a possível aprovação do PL 490 deixará "claro que a legislação prevê que vale o Marco Temporal de 1988". "A gente conseguiria ter uma situação um pouco mais tranquila", afirma. "O que a gente quer é que o índio possa ter autonomia, que ele possa produzir. O índio brasileiro pode ser bem de vida, pode ter condições de subsistência, de trabalho, de criar seus filhos, respeitando sua cultura, suas origens e as áreas. É uma guerra de narrativas."

Supremo julgará Marco Temporal em junho

O movimento dos deputados coincide com o anúncio da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, de que o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 1017365, com repercussão geral, que discute se a data da promulgação da Constituição Federal – 5/10/1988 – deve ser adotada como marco temporal para definição da ocupação tradicional da terra por indígenas, será retomado no dia 7 de junho.

O julgamento está suspenso por pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes. Até o momento, foram proferidos dois votos: o do relator, ministro Edson Fachin, que se manifestou contra o Marco Temporal, e o do ministro Nunes Marques, a favor.

O deputado Zé Trovão, no entanto, nega que a tentativa de acelerar a votação do projeto que aborda o tema seja uma forma de “ameaça” ou pressão ao STF. O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), no entanto, já havia afirmado que a questão poderia ser definida pelos parlamentares antes mesmo de o STF tomar uma decisão.

"Vocês não podem me aplaudir quando eu cumpro o regimento e pauto a CPI do MST. Vocês não podem me aplaudir quando eu cumpro o regimento e disse que pautaria o Marco Temporal se o Supremo pautasse lá o Marco Temporal", afirmou Lira, durante o debate do PL (projeto de lei) das Fake News, ao ser questionado sobre a retirada de pauta da proposta de regulamentação das redes sociais, reiterando que também tem compromisso com propostas da oposição.

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