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"Mulheres Unidas Contra Bolsonaro" tem 1 milhão de membros no Facebook

"Ele representa tudo que é de atraso na luta pelos direitos das mulheres", afirmou a publicitária Ludmilla Teixeira, uma das criadoras do grupo, para EXAME.

 (Facebook/Reprodução)

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João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 12 de setembro de 2018 às 09h08.

Última atualização em 12 de setembro de 2018 às 13h17.

São Paulo - Mais de um milhão de mulheres estão unidas contra Jair Bolsonaro – pelo menos no Facebook. Um grupo, criado há menos de duas semanas na rede social, atingiu 1 milhão de integrantes na madrugada desta quarta-feira (12).

O grupo foi criado como forma de mobilização contra a candidatura, pelo PSL, do capitão reformado à Presidência da República – atual líder nas pesquisas eleitorais divulgadas nesta semana, com 24%, segundo o Datafolha, e 26%, de acordo com o Ibope.

"Ele representa tudo que é de atraso na luta pelos direitos das mulheres, ele ataca diretamente a licença maternidade, a diferença salarial entre homens e mulheres", afirmou a publicitária Ludmilla Teixeira, uma das criadoras do grupo, em entrevista a EXAME.

A iniciativa é apartidária e não é alinhada com nenhum espectro ideológico; são aceitas mulheres de esquerda e de direita, indiscriminadamente. A única bandeira fixa, resumiu Ludmilla, é: "não importa o seu candidato, desde que não seja Bolsonaro".

O diálogo com essa parcela do eleitorado, inclusive, se mostrou um fracasso. No início, diz a publicitária, foi permitida a entrada de eleitoras declaradas de Bolsonaro, mas o clima ficou hostil e as fundadoras ficaram preocupadas em criar um antro de brigas, em vez de um pólo de debate e crescimento.

Rejeição

Segundo o Datafolha, divulgado na última segunda-feira (10), Bolsonaro é o candidato mais rejeitado pelo eleitorado: 43% declararam que não votariam nele de jeito nenhum, parcela que sobe para 49% entre as mulheres.

De acordo com um texto publicado no site Observatório das Eleições pelo professor de ciência política Jairo Nicolau, da UFRJ, a situação de Bolsonaro é singular, porque nas últimas eleições "não há casos de um candidato à Presidência com uma discrepância tão grande" entre votos de homens e mulheres.

Ele analisou dados do pleito de 2010 e 2014, além da pesquisa Datafolha de agosto, na qual Bolsonaro tinha 30% da intenção de voto dos homens, ante só 14% das mulheres, 16 pontos percentuais de diferença.

A segunda candidata com maior discrepância entre os gêneros é Marina Silva (Rede), com então 19% da preferência feminina e 13% da masculina, uma diferença de apenas 6 pontos percentuais.

Diante desses números, é possível entender porque o grupo cresce tão rapidamente. Mas sua fundadora deixa claro: a iniciativa não é contra a pessoa de Jair Bolsonaro, que, disse Ludmilla, merece respeito, e sim contra sua candidatura.

Regras e objetivos

O objetivo principal do grupo é organizar mobilizações de rua, por todo o Brasil, para protestar contra Bolsonaro e dizer para a sociedade: "nós não queremos esse presidente".

Já estão sendo planejados atos ou encontros em São Paulo, Rio de Janeiro, Campo Grande e São José dos Campos. Chegar às ruas era o plano principal desde o início.

Ludmilla e a empresária Rosa Lima decidiram criar um grupo no Facebook como forma de reunir mulheres para organizar atos e passeatas. O negócio começou tímido, com as melhores amigas de ambas, mas em poucos dias tomou novas proporções.

"Meu celular explodiu de notificação, não conseguia nem dormir", brinca Ludmilla. Várias postagens já organizam discussões sobre os planos de governo dos outros presidenciáveis, a falta de mulheres no Legislativo e até dúvidas sobre como dialogar com os eleitores de Bolsonaro.

Homens não são aceitos, porque a ideia é que seja um espaço de protagonismo das mulheres para discutir formas de mobilização. Na visão das organizadoras, a presença de homens poderia também acuar algumas mulheres a se manifestar sobre assuntos relacionados à gênero.

Mas, para ela, nada impede que o grupo se transforme em uma rede de mulheres para discutir temas, como a descriminalização do aborto e o estatuto do nascituro, e também apoiar mulheres vítimas de violência.

O grupo foi criado antes do atentado contra Bolsonaro, que levou uma facada na última quinta-feira (6) durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG) e segue hospitalizado. As organizadoras repudiam veementemente o ataque e o uso da violência, mas decidiram manter o grupo após uma reflexão conjunta de que, justamente, é preciso se manifestar pacificamente.

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