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Mulheres são mais afetadas por usuários de drogas na família

A pesquisadora Maria de Fátima Padin destaca que os dados revelam uma sobrecarga sobre as mulheres, pois boa parte delas também é chefe da família


	Mulher: levantamento aponta que 58% dos entrevistados relataram que a habilidade para trabalhar ou estudar foi afetada.
 (Wikimedia Commons)

Mulher: levantamento aponta que 58% dos entrevistados relataram que a habilidade para trabalhar ou estudar foi afetada. (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2013 às 16h32.

São Paulo – Interferências no trabalho, incômodos na vida social, pessimismo em relação ao futuro, furto de objetos pessoais na própria casa, ameaças são situações vivenciadas cotidianamente por parentes de dependentes químicos que levam a consequências “devastadoras”, segundo avaliação de pesquisadores.

O impacto ocorre tanto no aspecto físico e financeiro, como nas relações interpessoais. Estima-se que 28 milhões de pessoas convivam com usuários de drogas no país.

Os dados do Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), foram apresentados hoje (3) na capital paulista.

O estudo aponta que quem mais sofre com o impacto negativo causado pela dependência de álcool ou substâncias ilícitas são as mulheres, que representam 80% dos entrevistados e são, portanto, as responsáveis pelo tratamento dos usuários. As cuidadoras têm entre 35 e 64 anos.

A empresária Regina Camarneiro, de 55 anos, conhece bem essa realidade. Há quase oito anos, ela convive com o vício do filho que usa cocaína desde os 27 anos. "A família fica abalada, o casamento acaba, não por conta disso, mas porque tudo se desestrutura”, relatou Regina à Agência Brasil.

A pesquisadora Maria de Fátima Padin destaca que os dados revelam uma sobrecarga sobre as mulheres, pois boa parte delas também é chefe da família.

“Uma mãe cuida do ente querido, mas também de uma família. Elas têm um desgaste, porque permanecem no tratamento.


Precisamos olhar essa população com um olhar diferenciado”, avaliou. Entre os parentes, as mães, que representam 46% dos entrevistados, apresentam mais sintomas físicos e psicológicos na comparação com outros parentes.

De acordo com a pesquisa, a família do dependente químico geralmente apresenta maior situação de vulnerabilidade e risco para o desenvolvimento de problemas de saúde.

O levantamento aponta que 58% dos entrevistados relataram que a habilidade para trabalhar ou estudar foi afetada.

Em relação aos problemas na vida social, 47% apontaram dificuldades. O pessimismo em relação ao futuro foi citado por 29% dos pesquisados; situações de furto, por 26%; e 12% disseram ter sido ameaçados pelo parente usuário de drogas.

Ainda sobre os problemas relacionados à convivência com um dependente químico, 21% disseram temer que o paciente vá beber ou se drogar até o fim da vida. “Eu me encaixo nesse grupo. Ele teve oferta de todos os tratamentos possíveis”, disse Regina. Ela, que frequenta um grupo de mútua ajuda, explica que hoje entende que os recursos são limitados. “No Amor Exigente [grupo em que atua como voluntária], temos como um dos princípios que os recursos se esgotam, os financeiros, os emocionais”, relatou.

O levantamento revela que mais da metade (57,6%) das famílias têm outro parente usuário de drogas. Os entrevistados, no entanto, avaliam que as más companhias (46,8%), a autoestima baixa (26,1%) e a ausência do pai (22,7%) foram os fatores de risco mais relevantes que levaram ao uso.


Os fatores genéticos foram citados por 10,3% dos pesquisados. “Esses dados simbolizam o quanto essas famílias não têm orientação. As mães não sabem se o filho faz parte do grupo de risco”, avaliou Padin. Ela cita que foram desconsiderados, por exemplo, fatores como o histórico familiar e a predisposição fisiológica, que pode ser genética ou bioquímica.

A pesquisadora avalia que faltam políticas públicas de incentivo à prevenção. “Os pais poderiam detectar se o filho faz parte de um grupo de risco e quais são os cuidados que podem ser dados precocemente. Quando se descobre o uso, os sinais já estão salientados e só se busca ajuda quando o quadro se agrava”, apontou. Entre os fatores que podem ser observados, ela cita, além do histórico familiar, comportamentos agressivos ou insucesso escolar. “São sinais que preconizam que o indivíduo pode estar no início de utilização.

Foi assim que a jornalista Cleide Cauduro, de 56 anos, percebeu que os filhos de 19 e 20 anos estavam usando álcool e maconha. “Percebi uma mudança de comportamento.

Ficaram mais distantes, repetiram a escola. O menino ficava isolado, achei que ele estava deprimido. Foi quando procurei um psiquiatra”, relatou. Ela conta que isso ocorreu com três dos quatro filhos. “Com um acompanhamento, dois conseguiram parar, mas um deles precisou de internação”, contou. Segundo Cleide, os filhos estão sem usar drogas há 12 anos.

A maior parte dos pacientes em tratamento era usuário de mais de um tipo de droga (73%), sendo mais da metade consumidora de maconha (68%) em combinação com outras substâncias. O álcool foi citado por 62%, a cocaína por 60,7% e o crack por 42,5%.

Sobre o serviço buscado pelos parentes, a internação foi citada por 21,5%, enquanto centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), unidades de referência para atendimento a dependentes químicos, foi apontado por apenas 2,6%. Metade dos entrevistados disse saber o que são os Caps. Mas, mesmo entre os que conhecem, 46% nunca procuraram os serviços.

O levantamento foi feito com 3.142 famílias de dependentes químicos em tratamento. As entrevistas foram feitas entre junho de 2012 e julho de 2013, abrangendo todas as regiões do país.

As instituições investigadas foram as comunidades terapêuticas, clínicas de internação e grupos de mútua ajuda.

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