Pedofilia: diversas mulheres relataram casos de assédio sexual sofridos na infância, assim como os que ocorreram com a participante do MasterChef Júnior (Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 22 de outubro de 2015 às 19h07.
São Paulo - A estreia do programa MasterChef Júnior na última terça-feira (20), que reúne crianças de 9 a 13 anos cozinhando "que nem gente grande" não ficou marcada pelo talento dos participantes, mas sim, pelos comentários com teor sexual direcionados a Valentina, uma das participantes do reality, de apenas 12 anos.
Durante o programa, comentários como "se tiver consentimento é pedofilia?", "com doze anos ela vai virar secretaria de filme pornô", "a culpa da pedofilia é dessa molecada gostosa", "essa Valentina fazendo esses pratos: que vagabunda!" foram feitos no Twitter, em sua maioria, por homens, direcionados à participante.
No texto "quando uma menina de 12 anos no MasterChef Jr desperta o desejo de homens adultos precisamos falar sobre a cultura do estupro", publicado no Brasil Post, a jornalista Carol Patrocínio levantou o enorme problema desta questão:
"É importante falar sobre a cultura do estupro. Ela anda nas entrelinhas de muitos discursos. Ela caminha ao lado da ideia de que homens não conseguem conter seus instintos. Ela está totalmente ligada ao falso consenso que poderia dar uma criança. Ela é reforçada pela infantilização de mulheres adultas. A impunidade é sua melhor amiga e a culpabilização da vítima sua principal arma."
Assim que o caso ganhou as redes sociais, o coletivo feminista Think Olga, que luta contra o assédio em espaços públicos e outros tipos de violência contra a mulher, lançou a hashtag #primeiroassédio no Twitter, incentivando mulheres a contar quando foi a primeira vez que foram assediadas - e expor um problema que é tão enraizado, que é entendido como "brincadeira" ou "normal".
Por favor, compartilhem suas histórias com a hashtag #PrimeiroAssedio. Vamos reunir as histórias e publicá-las na OLGA.
— Think Olga (@ThinkOlga) 21 outubro 2015
Para mostrar que o assédio é algo que deve ser punido - é fundamental não silenciar. As mulheres se sentem intimidadas e, para se preservar de julgamentos, sofrem em silêncio por uma violência que deixa marcas para a vida toda.
Situações de meninas que, aos 7, 8, 9, 10 anos já foram submetidas a situações de violência, assédio e machismo foram compartilhadas na #primeiroassédio.
Abaixo estão 16 histórias compartilhadas por mulheres no Twitter. Até a manhã desta quinta-feira (22), cerca de 2,5 mil tweets mencionaram a hashtag.
Atenção: as histórias abaixo podem ser gatilho para sensações desagradáveis.
13 anos. apê na praia com avós. sou acordada no meio da noite por amigo da família. ele estava bêbado e pelado. #primeiroassedio
— K. (@leitoramedia) 22 outubro 2015
13 anos. Andando na rua pra ir no supermercado. Ouvi de um senhor que eu ja tinha peitos lindos. #primeiroassedio
— massia (@affmarcia) 22 outubro 2015
Eu tinha 7 anos, um cara no bairro se masturbou atrás de um poste vendo eu e minhas vizinhas brincando, nós corremos. #PrimeiroAssedio
— Nathália (@nathaliaraks) 21 outubro 2015
Com 11, fui agarrada por dois colegas mais velhos na escola e ao reclamar a diretora disse que eu dei motivo. #PrimeiroAssedio
— Mariana (@marifoipromar) 21 outubro 2015
Meu #primeiroassédio foi com uns 11 anos. Tava saindo do treino da natação de maiô e roupão e o porteiro da escola disse q eu era "gostosa'
— Denise. (@denisices) 22 outubro 2015
Um primo. Eu tinha 8 anos. Chegou a desabotoar minhas calças e passar a mão em mim. Me escondi por um dia no banheiro. #primeiroassedio
— lola são paulina (@lolaspfc) 21 outubro 2015
No Twitter, as mulheres continuam compartilhando histórias sobre a primeira vez que foram assediadas: 9, 10, 11, 12 anos e já são marcadas pela violência sexual.
Você viveu algo parecido? Divida a sua história com a hashtag criada pelo Think Olga e não silencie este tipo de violência: #PrimeiroAssedio.