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Mulheres de presidenciáveis assumem papéis de destaque na busca por votos

A primeira-dama Michelle Bolsonaro, assim como Janja, a namorada de Lula, e Giselle Bezerra, casada com Ciro, são vistas como trunfo para atrair eleitorado feminino

Michelle Bolsonaro fala em evento (Alan Santos/PR/Divulgação)

Michelle Bolsonaro fala em evento (Alan Santos/PR/Divulgação)

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Agência O Globo

Publicado em 14 de maio de 2022 às 11h48.

BRASÍLIA — As mulheres dos principais candidatos a presidente da República entraram de vez na trincheira eleitoral que terminará na escolha do próximo ocupante do Palácio do Planalto. Em lados opostos, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, que se casará na quarta-feira com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fizeram movimentos públicos recentes na direção do público feminino, que corresponde a 53% do eleitorado.

No domingo passado, Dia das Mães, Michelle fez um pronunciamento em cadeia de rádio e TV. No sábado, Janja pediu a palavra no palco do lançamento do pré-candidatura do namorado, em São Paulo. Daqui para frente, se depender das campanhas do presidente Jair Bolsonaro e de Lula, nenhuma delas deve sair dos holofotes.

A mulher de Ciro Gomes (PDT), a produtora e ex-dançarina Gisele Bezerra, também começou a apresentar uma live semanal ao lado do marido. Mais discretos, Eduardo Rocha, marido da senadora e pré-candidata do MDB Simone Tebet, e a mulher de João Doria, Bia Doria, não deverão assumir papéis de destaque durante a campanha.

Dentre todas, a missão da atual primeira-dama tende a ser a mais difícil. Bolsonaro soma apenas 21% das intenções de voto entre as mulheres, de acordo com levantamento do Datafolha divulgado no dia 24 de março. Líder das pesquisas, Lula soma 46%. A mesma sondagem revelou que o titular do Palácio do Planalto acumula 60% de rejeição no eleitorado feminino, o que é um dos principais motivos de preocupação do grupo que atua pela reeleição do presidente.

Esses aliados de Bolsonaro enxergam em Michelle um trunfo para suavizar a imagem do presidente. É consenso entre os integrantes da campanha que a primeira-dama deva acompanhar o marido em viagens pelo país e passar a se expor mais para defender as ações do governo, como fez no último domingo. Na ocasião, ele foi à TV ao lado da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Cristiane Britto. Ambas defenderam políticas do governo voltadas às mulheres. A participação de Michelle não foi combinada com a campanha, segundo O GLOBO apurou, mas deu resultado. O número de acessos ao Sistema Nacional de Direitos Humanos, plataforma do ministério, aumentou sete vezes em maio, após o pronunciamento.

No governo, a primeira-dama se empenha em eventos do programa Pátria Voluntária, de incentivo ao voluntariado, e em causas de defesa de pessoas com doenças raras e na inclusão da comunidade surda com a Língua Brasileira de Sinais (Libras).

A importância de Michelle extrapola a disputa pela preferência feminina. Evangélica fervorosa, ela também ajuda a reforçar os laços com grupos religiosos, uma das mais fieis parcelas do eleitorado do chefe de Executivo federal. Michelle também capitaneia eventos com crianças em situação de vulnerabilidade, alguns dele no próprio Palácio do Alvorada, onde brinca na piscina com os pequenos convidados e já chegou a se fantasiar de Branca de Neve, durante uma agenda com eles.

Na campanha, ainda não se sabe exatamente como serão investidos os ativos da imagem da primeira-dama. Uma das ideias é que, além de divulgar as ações do governo, ela grave depoimentos sobre como ela enxerga o presidente, por trás da exposição pública cotidiana a que ele é submetido.

Companheira Janja

No extremo oposto do espectro político, a participação de Janja na campanha de Lula é tratada como algo natural pelos petistas. Na tentativa reforçar a imagem dela como a de uma mulher engajada, integrantes do partido gostam de frisar que a atuação política da namorada de Lula antecede a relação deles.

Janja tem participado de encontros com mulheres e pavimentado pontes com importantes artistas, com os quais Lula historicamente teve boa relação. Foi graças a essa proximidade que ela mobilizou artistas para participarem do clipe de regravação do jingle da campanha de Lula de 1989, o famoso “Lula lá”. Também é atribuído a ela o destaque das pautas LGBTQIAP+ nos discursos do namorado.

— Ela tem colaborado muito na pré-campanha com ideias, participando de atividades, ajudando a organizar, principalmente nesse debate sobre a participação das mulheres — diz a presidente do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR).

Uma das explicações para a vantagem de Lula entre as brasileiras, segundo Bruno Soller, cientista político e especialista em comunicação política pela George Washington University, é a ligação do eleitorado feminino com temas sociais. Candidatos da esquerda costumam tratar com mais intensidade de pautas dessa natureza.

— A Michelle tem o papel de contornar a situação, de mudar voto. Quando você coloca a Michelle, evangélica, mulher, ela dialoga com essa mulher evangélica que por vezes tem preconceito com o Bolsonaro. A atuação dela pode mudar a cabeça dessa eleitora.

De acordo com Soller, além de consolidar o processo de identificação das mulheres com o petista, Janja terá a função de mostrar uma versão do Lula para além da política. O evento para lançar sua pré-candidatura foi a primeira amostra dessa estratégia. A reunião de apoiadores teve beijos, confirmação do casamento, que ocorrerá na semana que vem em São Paulo, e frases apaixonadas ditas pelo casal.

— A Janja pode criar uma identificação. Ela vai sim ter uma função de diálogo, mas vai mostrar o Lula mais família, que sai só da política. Mostrar que ele está bem, feliz, eles sempre falam sobre o relacionamento, sobre a paixão. Tem uma preocupação sobre a idade do Lula. Quando ele aparece apaixonado, fazendo exercício, eles mostram um Lula saudável.

Terceiro colocado corrida pela Palácio do Planalto, Ciro Gomes também conta com o suor da mulher na busca por votos. Giselle Bezarra tem assumido papel de destaque na campanha. Ela apresenta a live semanal “Ciro Games” ao lado do pré-candidato, além de participar dos eventos públicos com o cearense. Em alguns desses atos, tem feito rápidos discursos, como ocorreu no lançamento da pré-candidatura da senadora Leila Barros ao governo do Distrito Federal, no mês passado. Giselle é considerada um personagem importante para fazer o contraponto ao temperamento explosivo de Ciro.

Embora no último domingo o pré-candidato do PSDB, o ex-governador de São Paulo João Doria, tenha divulgado um vídeo em homenagem ao Dia das Mães ao lado da mulher, a artista plástica Bia Doria não deve ter protagonismo na campanha. Na ocasião em que o ex-governador ameaçou desistir da pré-candidatura ao Planalto, ela cvhegaou a dizer que preferia tê-lo em casa, mas depois reforçou seu apoio à decisão de o marido concorrer.

Pré-candidata à presidência, a senadora Simone Tebet, do MDB, não tem no cônjuge seu trunfo para atrair o eleitorado feminino. Ela aposta na identificação que pode despertar por ser a única mulher na disputa.

— Tenho dois ativos: a baixa rejeição e o fato de ser a única mulher em um eleitorado majoritariamente feminino — resumiu Tebet em entrevista concedida ao GLOBO em fevereiro.

Ela é casada com o secretário estadual de Gestão Estratégica do Mato do Grosso do Sul, Eduardo Rocha. Filiado ao MDB e eleito três vezes deputado estadual, ele não tem tido participação ativa na pré-campanha e só costuma estar ao lado da senadora em agendas no estado.

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