PM de São Paulo: falhas na formação dos oficiais quando se trata de direitos humanos é causa da violência, na visão de tenente-coronel (Marcelo Camargo/ABr)
Da Redação
Publicado em 13 de novembro de 2013 às 05h12.
São Paulo - Sete em cada dez brasileiros não confiam na polícia paga para protegê-los, segundo a FGV. Tão ruim quanto a desconfiança, é o nível de satisfação entre as pessoas que já foram, de alguma forma, atendidas pela Polícia Militar: em São Paulo, de apenas 30%.
Na opinião do tenente-coronel da Polícia Militar paulista, Adilson Paes de Souza, os dados sozinhos já mostram que uma mudança na polícia é urgente.
Souza está lançando nesta semana o livro "O Guardião da Cidade" (editora Escrituras), resultado de sua dissertação de mestrado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), em que aponta as consequências da falta de formação em direitos humanos na atuação dos policiais.
Segundo ele, essa falha é a principal causa da violência policial, com casos que ganham destaque cotidianamente.
No final do mês passado, por exemplo, a morte de um adolescente de 17 anos por um PM na zona norte de São Paulo terminou em protestos dos moradores, com suspeita até mesmo de infiltração de membros do PCC.
Despreparo
Segundo o tenente-coronel, a violência policial não é abordada em nenhum momento da formação para que o oficial, antes de ir para a rua, entre em contato de forma crítica com situações de conflito e se torne capaz de adotar posturas adequadas à realidade das ruas.
Sua tese é de que quando um policial chega à sociedade despreparado, o choque de realidade desenvolve vários tipos de conduta.
Entre elas, a crença de que o sistema não funciona. "O policial passa a acreditar que tem que resolver tudo sozinho e proteger a sociedade à sua maneira", diz Adilson.
Dessa crença é que surgem os policiais que fazem parte de "grupos de extermínio". Durante a pesquisa para o seu livro, Adilson entrevistou ex-policiais que foram condenados por homicídio.
A ele, esses ex-policiais - que foram punidos e expulsos da corporação - disseram que, apesar de não receberem ordens diretas para matar, viam na omissão dos comandantes um incentivo. "Eles eram tidos como bons policiais de rua, exemplos de conduta, policiais de linha de frente", conta.
Em sua pesquisa, Adilson comparou o currículo de Direitos Humanos do curso de formação de oficiais da Polícia Militar com os documentos nacionais e internacionais sobre o tema.
“Muitos dos temas preconizados nos documentos não estão presentes no currículo”, afirma o tenente-coronel.
De acordo com dados do 7º Anuário de Segurança Pública, ao menos cinco pessoas morrem vítimas da intervenção policial no Brasil todos os dias. Em 2012, 1.890 pessoas foram mortas em confronto com policiais - número largamente superior aos de Estados Unidos e México, por exemplo.