Dinheiro: de acordo com a ação, os bens do auditor correspondem a 125 vezes a remuneração mensal bruta na Prefeitura (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 3 de dezembro de 2013 às 07h39.
São Paulo - O Ministério Público Estadual (MPE) de São Paulo instaurou nesta segunda-feira, 2, ação civil pública por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito contra o auditor Amílcar José Cançado Lemos.
Suspeito de ser o criador de esquema de fraude no Imposto sobre Serviços (ISS) da capital paulista que pode ter causado prejuízo de R$ 500 milhões aos cofres municipais, Lemos é o primeiro a ter de responder judicialmente pelo caso.
De acordo com a ação proposta pela Promotoria de Patrimônio Público e Social da Capital, os bens dele correspondem a 125 vezes a remuneração mensal bruta na Prefeitura. O levantamento não contabiliza os imóveis que foram vendidos.
Há a suspeita de que o dinheiro pode ter sido usado para comprar outros bens ou ter sido depositado em conta bancária ou da empresa de Lemos, a administradora de bens Alicam. A empresa também é alvo da ação do MPE.
A Controladoria-Geral do Município (CGM) abriu sindicância contra o auditor ao notar o patrimônio elevado e também a propriedade de bens em sociedade com auditores investigados, como Luis Alexandre Cardoso de Magalhães, que delatou o esquema ao MPE.
Magalhães afirmou em depoimento que em 2008 Lemos passou a chefiar o setor responsável pelo ISS. Pelo relato, ele recebia, em média, R$ 60 mil de propina por empreendimento aprovado.
Magalhães afirmou que havia sido Lemos o responsável pela "padronização" da propina, com 50% de desconto para as empresas, 10% da propina para o despachante e 30% para os fiscais. Os 10% que sobravam eram pagos à Prefeitura.
O depoimento afirma que ele se desentendeu com os outros auditores fiscais e foi tirado do esquema. Por isso, diz o relato, teria feito diversas denúncias contra a quadrilha formada por Magalhães e os também auditores Carlos di Lallo Leite do Amaral, Eduardo Horle Barcellos e Ronilson Bezerra Rodrigues, que assumiu, posteriormente, a chefia do esquema.
O MPE suspeita que o dinheiro e os bens comprados foram usados para a integralização da Alicam, da qual as duas filhas dele também são sócias. Testemunha ouvida pela Promotoria afirma que a propina era de conhecimento de toda a família de Lemos.
"A testemunha disse ainda que o auditor fiscal conversava sobre a propina na presença das filhas e que sua mulher ajudava a contar e dividir o produto da corrupção recebido das construtoras", afirma nota do MPE.
No Facebook, Lemos compartilha fotos de viagens internacionais em motos Harley Davidson. Na última atualização, ele condena a liberdade temporária concedida aos detentos no Natal. A Promotoria pede à Justiça a condenação de Lemos e da empresa Alicam à perda dos imóveis e móveis adquiridos desde 2000.
O MPE também pede a perda da função pública, a suspensão dos direitos políticos, o pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial indevido e a proibição de contratar com o poder público por dez anos.
Alegando dificuldades de saúde, ele não compareceu ao MPE nem à CGM quando chamado. A reportagem não conseguiu contato com Lemos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.