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MP do Rio investiga repasse de R$ 286 mil para Flávio Bolsonaro e esposa

Fabrício Queiroz, descrito como "operador financeiro" do senador, pagou mensalidades escolares, plano de saúde e fez ao menos um depósito em conta do casal

Flávio Bolsonaro: o senador nega irregularidades (Roque de Sá/Agência Senado)

Flávio Bolsonaro: o senador nega irregularidades (Roque de Sá/Agência Senado)

AO

Agência O Globo

Publicado em 19 de junho de 2020 às 11h26.

Última atualização em 19 de junho de 2020 às 11h29.

O Ministério Público do Rio (MP-RJ) apontou indícios, no pedido de prisão preventiva de Fabrício Queiroz na quinta-feira, de que o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) pode ter sido o responsável por até R$ 286,6 mil pagamentos e transferências em espécie para cobrir despesas do então deputado estadual e de sua mulher, Fernanda Antunes. Os valores se referem a repasses em 2011 e, principalmente, a pagamentos de mensalidades escolares e do plano de saúde da família de Flávio, entre janeiro de 2013 e dezembro de 2018. O senador nega irregularidades.

A partir do cruzamento de dados bancários com imagens de câmeras de segurança de uma agência na própria Alerj, o MP apontou que Queiroz pagou as mensalidades escolares das duas filhas de Flávia e Fernanda no dia 1º de outubro de 2018, no valor total de R$ 6,9 mil. O pagamento foi feito em espécie. Ainda segundo o MP, Flávio e Fernanda não haviam feito nenhum saque nos 15 meses anteriores a este pagamento, “de forma que não haveria lastro financeiro lícito de dinheiro em espécie para efetuar a operação bancária”, segundo os investigadores.

“Portanto, conclui-se que o dinheiro utilizado pelo operador financeiro para pagar as mensalidades da escola das filhas do líder da organização criminosa não proveio das fontes lícitas de renda do casal, mas sim dos recursos em espécie desviados da Alerj e entregues pelos “assessores fantasmas” a Fabrício José Carlos de Queiroz”, diz o MP.

Os promotores investigam outros 114 boletos bancários das escolas das filhas e do plano de saúde da família de Flávio Bolsonaro cujos valores não foram debitados das contas do então deputado, nem de sua mulher. O valor total desses boletos chega a R$ 261,6 mil. O MP suspeita que o próprio Queiroz possa ter feito parte ou todos esses pagamentos.

Queiroz foi assessor de Flávio Bolsonaro entre 2007 e 2018. Ele deixou o gabinete em outubro, 15 dias antes do segundo turno da eleição presidencial. Dois meses depois, foi revelado um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontava que Queiroz movimentou em sua conta corrente R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017. O relatório fez parte das investigações da "Operação Furna da Onça", pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal.

Os dois últimos boletos de Flávio Bolsonaro investigados pelo MP, em novembro e dezembro de 2018, foram pagos depois da exoneração de Queiroz, mas antes que viesse a público o relatório sobre as movimentações financeiras do ex-assessor.

O Ministério Público do Rio identificou ainda que Fernanda Antunes, mulher de Flávio, recebeu ao menos um depósito em espécie de Queiroz, em agosto de 2011, no valor de R$ 25 mil. O ex-assessor precisou se identificar como autor do depósito por conta do valor elevado.

Investigados por "rachadinha"

Queiroz e Flávio são investigados por uma suposta prática de “rachadinha” - isto é, a devolução de parte dos salários de funcionários, o que é ilegal - no antigo gabinete do deputado estadual na Alerj. No início de 2019, a investigação do MP apontou que Flávio recebeu, no mesmo dia, 48 depósitos de R$ 2 mil - totalizando R$ 96 mil - em sua conta bancária.

À época, o senador afirmou que ele mesmo fez os depósitos, em um caixa eletrônico, e que o dinheiro era proveniente da venda de um apartamento a Fábio Guerra, ex-jogador de vôlei. Guerra confirmou ter pago cerca de R$ 100 mil a Flávio em dinheiro, mas disse ter dado quantias superiores a R$ 20 mil em datas separadas. Guerra e outras pessoas físicas que fizeram negócios imobiliários com Flávio Bolsonaro foram alvos de quebra de sigilo fiscal e bancário, autorizada pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ) em maio do ano passado. Os investigadores suspeitam de indícios de lavagem de dinheiro nas transações.

Queiroz foi exonerado do gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) em 16 de outubro de 2018, antes do segundo turno das eleições presidenciais vencidas por seu pai, Jair Bolsonaro. No dia 6 de dezembro, dois meses depois de ter sido deflagrada a Operação Furna da Onça, uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que um relatório do Coaf apontou movimentação atípica de R$ 1,2 milhão na conta do ex-assessor. A Polícia Federal investiga, a partir de uma denúncia do empresário Paulo Marinho, suplente de Flávio no Senado, se um suposto vazamento da operação levou o senador a demitir Queiroz dois meses antes.

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