MPF: suspeitas foram levantadas a partir da análise de oito terabytes de imagens provenientes das câmeras de segurança da Câmara Legislativa (Wikicommons)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2016 às 16h39.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MP-DFT) deflagrou hoje (17) a terceira fase da Operação Dracon, que investiga o pagamento de propinas na Câmara Legislativa do DF. Os recursos teriam sido desviados de contratos na área de saúde.
Foram cumpridos mandatos de busca e apreensão nos endereços de dois servidores da Câmara Legislativa, Alexandre Cerqueira e Sandro Vieira.
Os promotores suspeitam que eles tenham retirado da Casa documentos e um computador com possíveis provas. Ambos foram levados coercitivamente para depor.
As suspeitas foram levantadas a partir da análise de oito terabytes de imagens provenientes das câmeras de segurança da Câmara Legislativa, que mostraram os dois servidores retirando caixas e uma bolsa do local após a deflagração da primeira fase da Dracon, em agosto.
“A gente trabalha em tese com a prática de crime de associação criminosa, de que eles teriam se associado para esconder ou suprimir provas que estariam na Câmara Legislativa”, disse o promotor Clayton Germano, à frente do caso.
Em depoimento prestado hoje, Cerqueira disse se tratarem de documentos pessoais. Os promotores chegaram a pedir a prisão temporária do servidor, mas tiveram o pedido negado pela Justiça do DF. Vieira ainda não foi ouvido.
A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Sandro Vieira.
Funcionário há vinte anos da Câmara, Cerqueira era responsável por contratos e pagamentos da Casa à época dos crimes investigados. Atualmente, ele é subordinado ao deputado distrital Bispo Renato Andrade (PR), que encontra-se afastado pela Justiça de sua função como terceiro secretário da mesa diretora.
Cerqueira foi também apontado em depoimentos dados por empresários como sendo emissário para a cobrança de propinas em nome de deputados distritais.
Sandro Vieira, por sua vez, era assessor legislativo da presidente afastada da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS), também suspeita de envolvimento no esquema de corrupção, e acredita-se que ele tenha ocultado documentos que poderiam contribuir para as investigações.
Além de Celina e Renato Andrade, a Justiça do DF afastou também da mesa diretora o primeiro-secretário, Raimundo Ribeiro (PPS), e o segundo, Júlio César (PRB). A justificativa é impedir que se valham dos cargos para atrapalhar as investigações.
Apesar do afastamento da mesa diretora, todos os afastados continuam a exercer seus mandatos como deputados distritais. Está marcado para amanhã o julgamento de um recurso de Celina Leão para voltar à presidência da Câmara. O MP-DFT é contra o pedido.
“A manutenção do afastamento cautelar da mesa direitora ainda se faz necessário, tendo em vista que as investigações estão em curso, outros fatos estão sendo analisados e um fato tão grave como a supresão de provas demonstra isso”, afirmou o promotor Clayton Germano.
Operação Dracon
O MP-DFT investiga se os envolvidos teriam participado de um suposto esquema que destinou R$ 30 milhões de sobras orçamentárias de 2015 a empresas que prestam serviços à Secretaria de Saúde do DF, principalmente na área de UTI, Unidade de Terapia Intensiva.
É investigada também a compra de emendas legislativas, de modo a beneficiar empresas envolvidas no esquema. As suspeitas foram levantadas após a deputada distrital Liliane Roriz (PTB) apresentar gravações feitas por ela nas quais o esquema é mencionado.