Mozart Neves: educador expõe a sua versão do vai e vem da nomeação para o Ministério da Educação (Marcos Oliveira/Agência Senado)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de janeiro de 2019 às 09h46.
Última atualização em 29 de janeiro de 2019 às 09h57.
São Paulo - "Não fui cogitado (para ser ministro da Educação). Fui convidado, mesmo. O que me deixou mais triste em todo esse processo, foi quando o próprio (presidente Jair) Bolsonaro disse que o convite foi fake news."
Quem revela o descontentamento é Mozart Neves Ramos. Ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco e ex-secretário da Educação daquele Estado, Mozart, que atualmente é diretor de articulação e inovação do Instituto Ayrton Senna, é um dos profissionais mais respeitados do setor.
Ele promoveu nas escolas pernambucanas uma das mais bem-sucedidas reformas educacionais do País. Também já liderou o projeto Todos pela Educação, uma iniciativa de empresas para resgatar a qualidade do ensino no Brasil.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele falou sobre o "desconvite" em novembro. Disse que continua militando na área e o caso, que o deixou tenso, ficou para trás.
"A bancada evangélica tinha um outro candidato para o MEC, que era vinculado ao ensino superior privado (e pressionou). Acho que, nesse sentido o Bolsonaro tomou a decisão certa enquanto gestor, buscando um terceiro", afirmou Mozart.
Ele ainda diagnosticou os principais desafios educacionais do País daqui para frente e não fugiu de polêmicas, como o Escola sem Partido.
"Na prática, cada escola é muito a cara do seu diretor e de seus professores. Não podemos deixar de reconhecer que há escolas com posicionamento político diferente do governo. A pergunta é: isso é a larga maioria? Para mim, não. Não podemos fazer de exceções e de casos - seja de escolas ou professores - uma regra para que agora fiquemos em um amplo debate com a sociedade daquilo que não é maioria ou o mais importante."
"O Brasil é um país muito diversificado. Eu acho que devemos respeitar os ritos e valores de cada pessoa. Eu não posso querer que uma pessoa pense igual a mim. Eu acho que tem uma complexidade, que os livros didáticos, por exemplo, não podem ter algum tipo de homofobia. Cabe à escola, de alguma maneira, contribuir para o processo de uma convivência sadia, de respeito mútuo."
"Você não vai resolver o problema de educação no País colocando todas as escolas públicas como militares. Primeiro, porque seria impossível do ponto de vista de custo; segundo, do ponto de vista de gestão; terceiro, por causa dos processos seletivos."
"Excluir Paulo Freire é simplesmente não ter uma visão sistêmica de mundo e não compreender que a beleza se encontra na diversidade e, principalmente, na capacidade de ter até mesmo uma visão oposta para uma escolha."
"Não conhecia o novo ministro (com quem se encontrou na semana passada). E milito na gestão da educação desde 1990. Ninguém conhecia."
"Devemos focar em cinco grandes eixos desafiadores para avançar a educação no País, tanto do ponto de vista da qualidade como da equidade. O primeiro é o desafio da alfabetização das nossas crianças na idade certa, aos 7 anos. O segundo eixo, a formação dos professores, a valorização da carreira do magistério. O terceiro é a questão da gestão de recursos: somente colocar mais dinheiro sem cobrar dos gestores dados mais eficientes e mais proficientes não vai resolver. Depois, o Brasil precisa fazer um esforço para o aumento de qualidade em termos de aprendizagem, de eficiência - para que um número maior de crianças chegue ao fim do ensino médio -, e ao mesmo tempo reduzir a desigualdade. E o quinto eixo é trabalhar mais por território, e não por município. Trabalhar nas regiões, principalmente naquelas mais desfavorecidas do ponto de vista sócio econômico, como Norte e Nordeste."