Portas da estação Campo Limpo depois do acidente, à esquerda; à direita, vídeo de câmeras de segurança que captaram o momento da morte de Lourival Nepomuceno (Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 7 de maio de 2025 às 08h38.
Lourivaldo Nepomuceno, de 35 anos, morreu na terça, 6, após ficar preso entre as portas do trem e da plataforma da estação Campo Limpo, na linha 5-Lilás do metrô de São Paulo. Sua morte chamou atenção para uma possível falha em um sistema que deveria dar mais segurança aos passageiros. As causas da morte da vítima ainda são investigadas, pela polícia e pela Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp).
Presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp), Luis Kolle explica que as portas de segurança servem para impedir o acesso dos passageiros aos trilhos do metrô e prevenir acidentes graves, em especial nos horários de pico.
A ViaMobilidade informou, em nota, que no sistema adotado na linha 5-Lilás as portas de segurança possuem sensores que detectam se as portas estão sendo obstruídas no momento do embarque e desembarque dos trens. Mas no pequeno espaço entre a plataforma e o trem, que aparece quando as portas se fecham, não existem sensores de presença.
“Como tanto as portas de plataforma quanto as do vagão estavam fechadas, o trem partiu”, informa a empresa, que frisa ter um sistema usado “nacional e internacionalmente”.
Kolle, no entanto, sublinha que os sensores de presença no espaço entre as portas do trem e da plataforma são adotados em outras linhas do metrô de São Paulo. Em entrevista para a TV Bandeirantes Francisco Pierrini, presidente da ViaMobilidade, afirmou que os sensores de presença serão implementados até fevereiro de 2026.
— Na linha 3-Vermelha, por exemplo, em que as portas estão em implementação, já existe o sensor de presença. A Via Mobilidade não previu (a possibilidade de alguém ficar preso entre as portas do trem), o sistema deles não tem. É triste falar agora que deveriam ter previsto, a tecnologia existe — diz o presidente da Aeamesp.
— Quando você desenvolve um sistema de segurança, precisa prever que as pessoas o desafiarão. Precisa intensificar a campanha para evitar que as pessoas saiam ou entrem do trem quando escutam o sinal, algo que acontece muito na linha 5. E prever melhorias para o sistema, o que é imprescindível — explica Kolle.
A ViaMobilidade informa que já realiza “diversas campanhas sobre embarque seguro” e que vai “intensificar os avisos sonoros e a comunicação visual nos trens e estações com essas recomendações de segurança”.
O Sindicato dos Metroviários divulgou um comunicado sobre a morte, pedindo que o caso seja investigado. “A linha 5-Lilás não foi construída originalmente com portas de plataforma. A instalação dessas portas é um elemento de segurança importante para a população usuária. Porém, se for um trabalho focado em custo reduzido, pode ter impacto negativo sobre a segurança da população. A sociedade deve cobrar a ViaMobilidade sobre o funcionamento dos sensores das portas de plataforma da Linha 5. Esses sensores podem impedir o fechamento das portas com presença de pessoas e, por consequência, impedir o deslocamento de trens, evitando situações trágicas como a de hoje”, informa o texto.
A Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), responsável pela concessão da linha 5-Lilás, também fará uma apuração sobre a morte de Lourivaldo Nepomuceno. O órgão estatal informa que, conforme previsto em contrato, “um processo sancionatório deverá ser instaurado para apurar as circunstâncias do caso”. O caso foi registrado na Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom), órgão da Polícia Civil responsável por investigar casos ocorridos nas dependências do metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno tinha 35 anos e faria aniversário no próximo domingo, 11 de maio, quando é celebrado o dia das Mães. Segundo a TV Globo, Nepomuceno tinha três filhos, era casado e trabalhava como promotor de vendas. Ele vivia com a família em Taboão da Serra, cidade da região metropolitana de São Paulo.
As imagens da câmera de segurança mostram que o acidente ocorreu às 8h05. A plataforma da estação estava cheia no sentido Chácara Klabin instantes antes do trem seguir viagem. As luzes começam a piscar, indicando que as portas seriam fechadas. Quando o trem começa a se movimentar, passageiros que não conseguiram entrar se afastaram bruscamente da área de embarque, momento em que ocorre o acidente.