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Da morte ao desemprego: mapa traz extremos da desigualdade de São Paulo

Moradores de Cidade Tiradentes vivem, em média, 23 anos a menos que a população de Moema; abismo é influenciado por fatores externos

Cidade Tiradentes (Google Maps/Reprodução)

Cidade Tiradentes (Google Maps/Reprodução)

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Clara Cerioni

Publicado em 5 de novembro de 2019 às 15h20.

Última atualização em 5 de novembro de 2019 às 16h47.

São Paulo — A desigualdade que atinge a cidade de São Paulo faz com que um morador de Cidades Tiradentes, bairro do extremo leste, viva, em média, 23 anos a menos do que os habitantes de Moema, uma das regiões mais nobres da capital paulista.

Dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Saúde mostram que a idade média de morte dos moradores da Cidades Tiradentes foi, no ano passado, de 57,31, ao passo que em Moema foi de 80,57. A média de São Paulo é de 68,7.

A estatística faz parte do Mapa da Desigualdade de 2019, divulgado nesta terça-feira (05) pela Rede Nossa São Paulo, organização dedicada a identificar desafios e propor políticas públicas para a capital paulista.

Neste ano, o levantamento conta com 53 indicadores que apontam as diferenças entre os 96 municípios da cidade. A análise dos números revela um abismo entre as regiões mais pobres e as mais ricas de São Paulo. Os dados contemplam áreas como habitação, meio ambiente, educação, cultura e segurança viária.

Na comparação entre Cidade Tiradentes e Moema — os dois extremos de menor e maior tempo de vida —, é possível identificar fatores que influenciam diretamente na idade média de vida dos moradores.

Enquanto a taxa de mortalidade infantil, que considera a proporção de óbitos para crianças menores de um ano para cada mil crianças nascidas nos distritos, é de 15,68 no extremo leste, na região nobre, o índice é 3,53. Já a taxa de mortalidade materna, que considera os óbitos de grávidas para cada dez mil crianças nascidas vivas, em Cidade Tiradentes chega a 5,5. Em Moema, o índice é zero.

Já em relação à disponibilidade de leitos hospitalares públicos ou privados disponíveis para cada mil habitantes, a desigualdade entre os dois bairros também é alta: a região do extremo leste tem índice de 0,77, ao passo que o bairro nobre registra 17,99.

Ainda nos aspectos relacionados à saúde, a estatística mais negativa de Moema é a proporção de mortes por câncer para cada cem mil habitantes. Enquanto o bairro nobre da capital paulista apresenta taxa de 148, Cidade Tiradentes tem 77,19. Uma das explicações para a diferença, é a quantidade de idosos que moram nas regiões.

"Ainda que o envelhecimento e a genética influenciem no desenvolvimento da doença, alguns fatores relacionados à vida urbana contribuem diretamente para seu surgimento. A exposição constante a poluentes, o sedentarismo, o estresse, a má qualidade do sono e o consumo de alimentos contaminados por agrotóxicos são alguns deles", diz o Mapa da Desigualdade.

Em outros eixos também é possível verificar raízes para as diferenças entre a vida dos moradores das duas regiões: a taxa de emprego formal por dez habitantes com idade igual ou superior a quinze anos em Moema é de 9,40. Na Cidade Tiradentes, o índice despenca para 0,24.

O acesso à equipamentos públicos municipais de cultura para cada cem mil habitantes no bairro nobre da capital paulista é de 6,81. Já no extremo leste a proporção é de 2,63.

Feminicídio

Em relação a 2017, o homicídio de mulheres cresceu 167% em toda a cidade de São Paulo no ano passado. Já as ocorrências de violência contra a mulher subiram 51%.

Essa foi a primeira vez que o estudo trouxe dados comparativos sobre feminicídio. Apesar da relevância da estatística, não é possível afirmar com precisão que houve uma alta de morte de mulheres por serem mulheres. O mais provável é que, por ser uma lei recente, de 2015, as delegacias de polícia estejam tipificando com mais detalhes esses casos como feminicídio.

Os dados mostram que os distritos da Sé e Barra Funda concentram as maiores taxas nos dois indicadores. Na Sé, que lidera os casos de violência contra a mulher, foram registradas 8,4 ocorrências de feminicídio para cada 10 mil mulheres na faixa de 20 a 59. O número é 56 vezes maior que em outros 20 distritos da cidade. A violência contra a mulher também é maior nesse mesmo distrito, com 803,9 registros.

Veja na íntegra o Mapa da Desigualdade de 2019

(Com Estadão Conteúdo)

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