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Moro viola sistema acusatório, diriam procuradores em chats da Lava Jato

Mensagens divulgadas pelo The Intercept Brasil mostram procuradores reclamando de violações éticas e temendo perda de credibilidade com Moro indo à política

Sergio Moro: rejeição é mais uma derrota de Moro no Congresso. (Adriano Machado/Reuters)

Sergio Moro: rejeição é mais uma derrota de Moro no Congresso. (Adriano Machado/Reuters)

Mariana Fonseca

Mariana Fonseca

Publicado em 29 de junho de 2019 às 10h24.

Última atualização em 29 de junho de 2019 às 10h25.

Procuradores do Ministério Público teriam criticado a "agenda pessoal e política" do ex-juiz Sergio Moro às vésperas de ele assumir seu cargo como ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro.

Com sua chegada ao universo da política, temiam que a "legitimidade e o legado" da Operação Lava Jato fossem colocados em cheque e que a investigação -- que levou, por exemplo, à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva -- fosse associada à motivações além da esfera criminal. As críticas só cresceram com o anúncio oficial do novo cargo de Sergio Moro.

Tais mensagens privadas dos procuradores com integrantes da Operação Lava Jato foram divulgadas pelo The Intercept Brasil, agência de notícias sobre os poderosos cofundada pelo jornalista Glenn Greenwald. Segundo as conversas, Moro "infringia sistematicamente os limites da magistratura para alcançar o que queria".

As mensagens sobre Sergio Moro

“Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”, teria dito a procuradora Monique Cheker em 1º de novembro, uma hora antes de o ex-juiz anunciar ter aceito o convite de Jair Bolsonaro para se tornar ministro da Justiça. A procuradora Jerusa Viecili, integrante da força-tarefa em Curitiba, teria escrito no grupo Filhos do Januario 3: “Acho péssimo. Só dá ênfase às alegações de parcialidade e partidarismo.”

As reclamações sobre parcialidade e partidarismo do então juiz Sergio Moro teriam crescido junto com os boatos de que ele assumiria o Ministério da Justiça.

"Moro se perdeu na vaidade. Que pena", teria dito a procuradora Janice Ascari. "Ele se perdeu e pode levar a Lava Jato junto", concordaria o procurador João Carlos de Carvalho Rocha. Os procuradores do grupo BD começaram a se preocupar em como a nomeação de Moro serviria de munição para o PT contra a Lava Jato. “Acho que o PT deve estar em festa agora, para justificar todo o discurso deles”, escreveu Alan Mansur.

Outros procuradores do Ministério Público Federal, não envolvidos com a Operação Lava Jato, teriam aderido ao coro após o anúncio oficial da posse.

"Ele nos vê como 'mal constitucionalmente necessário', um desperdício de dinheiro", teria afirmado Ângelo Augusto Costa, procurador do Ministério Público Federal em São José dos Campos (São Paulo). "Fez umas tabelinhas lá, absolvendo aqui para a gente recorrer ali."

Dias depois de Moro ter aceitado o convite, mesmo Deltan Dallagnol, o procurador mais leal a Moro, teria confessado estar preocupado com os danos causados à reputação e à credibilidade do trabalho realizado por cinco anos pela Operação Lava Jato. Com Janice Ascari, concordariam em conversa que a conduta de Moro gerava “uma preocupação sobre alegações de parcialidade que virão”. Mesmo assim, continuariam a defendê-lo.

O outro lado

Segundo o The Intercept, o porta-voz da força-tarefa da Operação Lava Jato insinuou que as conversas podem não ser autênticas.

“O trecho do material enviado à Força-Tarefa não permite constatar o contexto e a veracidade do conteúdo. Autoridades públicas foram alvo de ataque hacker criminoso, o que torna impossível aferir se houve edições no material alegadamente obtido. A Lava Jato é sustentada com base em provas robustas e em denúncias consistentes, analisadas e validadas por diferentes instâncias do Judiciário. Os integrantes da Força-Tarefa pautam suas ações pessoais e profissionais pela ética e pela legalidade.”

A procuradora Monique Cheker disse que “não tem registro da mensagem enviada e, portanto, não reconhece a suposta manifestação”. “A procuradora ainda afirma que são públicas e notórias as incontáveis manifestações de apoio à operação Lava Jato e ao então juiz Sérgio Moro”, acrescentou sua assessoria. O procurador regional da República Luiz Fernando Lessa esclareceu que, desde recentes ataques ao Telegram, não possui mais o aplicativo nem as mensagens trocadas por meio dele, de modo que não reconhece as mensagens.

Demais procuradores que não fazem parte da força-tarefa foram procurados e não responderam até o momento.

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