Sérgio Moro pediu aos advogados para explicarem o conteúdo das mensagens, antes de ele extrair possíveis “consequências jurídicas” (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 21 de julho de 2015 às 16h44.
Brasília - O juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato, pediu hoje (21) aos advogados do presidente da Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, que prestem esclarecimentos sobre o conteúdo de mensagens interceptadas pela Polícia Federal (PF) no aparelho celular do executivo, que está preso em Curitiba.
No despacho, Moro pediu aos advogados para explicarem o conteúdo das mensagens, antes de ele extrair possíveis “consequências jurídicas” da interpretação dos escritos. Segundo os delegados, Marcelo tentou atrapalhar as investigações.
Durante as investigações, a PF interceptou as seguintes anotações no celular do presidente: “MF/RA: não movimentar nada e reembolsaremos tudo e asseguraremos a família. Vamos segurar até o fim. Higienizar apetrechos MF e RA. Vazar doação campanha. Nova nota minha mídia? GA, FP, AM, MT, Lula? E Cunha?”.
De acordo com o juiz, as siglas MF e RA podem fazer referência a Márcio Faria e Rogério Araújo, executivos da empreiteira investigados na Lava Jato.
Para Moro, as frases indicam que subordinados a Marcelo Odebrecht foram orientados a não movimentar suas contas e que seriam reembolsados, caso uma decisão judicial que determinasse o congelamento dos valores.
“A referência a ‘higienizar apetrechos' e ‘MF e RA’ sugerem destruição de provas, com orientação para que os aparelhos eletrônicos utilizados por Márcio Faria e Rogério Araújo fossem limpos, ou seja, que fossem apagadas mensagens ou arquivos neles constantes eventualmente comprometedores. ‘Vazar doação campanha’ é algo cujo propósito ainda deve ser elucidado, mas pode constituir medida destinada a constranger os beneficiários”, completou Moro.
Em outra mensagem interceptada pela PF, Marcelo Odebrecht cita a frase “Trabalhar para parar/anular (dissidentes PF...)”. A mensagem foi considerada por Moro como trecho mais “perturbador”.
“Sem embargo do direito da Defesa de questionar juridicamente a investigação ou a persecução penal, a menção a ‘dissidentes PF’ coloca uma sombra sobre o significado da anotação. Outras referências como a ‘dossiê’, ‘blindar Tau’ e ‘expor grandes’ são igualmente preocupantes”, disse o juiz.
Em nota divulgada à imprensa, a Odebrecht declarou que a interpretação da PF sobre as mensagens é fora do contexto.
“Em relação a Marcelo Odebrecht, o relatório da Polícia Federal traz interpretações distorcidas, descontextualizadas e sem nenhuma lógica temporal de suas anotações pessoais. A mais grave é a tentativa de atribuir a Marcelo Odebrecht a responsabilidade pelos ilícitos gravíssimos que estão sendo apurados e envolveriam a cúpula da Polícia Federal do Paraná, como a questão da instalação de escutas em celas dentre outras”, disse e empresa.