Sérgio Moro: "Não excluo a possibilidade da existência de outras contas secretas no exterior ou no Brasil controladas pelo casal", disse o juíz (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 26 de fevereiro de 2016 às 19h27.
Curitiba - O juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato, afirmou que não excluiu a possibilidade "da existência de outras contas secretas no exterior ou no Brasil controladas pelo casal" de marqueteiros do PT João Santana e a esposa e sócia, Mônica Moura.
Em despacho nesta sexta-feira, 27, prorrogou por mais cinco dias a prisão dos investigados.
Os dois são suspeitos pelo recebimento de pelo menos US$ 7,5 milhões do esquema de corrupção na Petrobras, por meio da conta na Suíça em nome da offshore Shellbill Finance SA.
"Como rastreados no exterior depósitos na conta Shellbill de apenas USD 7,7 milhões, não excluo a possibilidade da existência de outras contas secretas no exterior ou no Brasil controladas pelo casal, já que as planilhas acima apontadas indicam pagamentos bem superiores a este valor", afirmou Moro, ao justificar a nova prisão temporária do casal.
Segundo o juiz, a prorrogação da prisão do casal servirá para propiciar "mais tempo para o rastreamento dos possíveis pagamentos em reais efetuados no Brasil e a sua completa totalização".
A renovação da temporária do marqueteiro e de sua mulher e sócia foi requerida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.
Onze procuradores da República que subscrevem o pedido de renovação da custódia alegam que João Santana e Mônica mentiram em seus interrogatórios.
Eles apresentaram versões que não convenceram os investigadores, principalmente na parte relativa a pagamentos realizados pela empreiteira Odebrecht.
"Revelam-se indícios de que, além de terem faltado com a verdade em seus depoimentos, Mônica Moura e João Santana receberam de forma dissimulada, pelo Grupo Odebrecht, quantidade ainda maior de recursos provenientes de crimes cometidos contra a Petrobras", destacam os procuradores.
Em uma planilha apreendida na casa de funcionária da Odebrecht, nas buscas realizadas segunda-feira, 22, quando foi deflagrada a Operação Acarajé - 23ª fase da Lava Jato -, foi identificado um arquivo de supostos pagamentos suspeitos a João Santana, identificado como "Feira" - alusão a Feira de Santana, na Bahia.
"A planilha de pagamentos apreendida na residência de Maria Lúcia revela a existência de negociação de R$ 24,2 milhões vinculados a Feira. Tal tabela relata claramente a existência de 7 pagamentos em que o status da planilha aponta para totalmente atendida, demonstrando que, dos R$ 24,2 milhões, pelo menos R$ 4 milhões foram entregues pela Odebrecht a João Santana e Mônica Moura, referidos como Feira até a data de 3 de julho de 2014", aponta a Polícia Federal.
Há ainda a descoberta de registros de "18 milhões evento 2008 (eleições municipais) via Feira, que indica, segundo a autoridade policial, pagamentos a João Santana no referido ano para eleições municipais no Brasil", registra Moro.
No depoimento que deu à PF, nessa quinta, 25, Santana confirmou sua atuação em eleições municipais para candidatos do PT no ano de 2008.
Citou as "candidaturas de Marta Suplicy e Gleisi Hoffmann, bem como prestou consultoria específica para as eleições municipais em Campinas/SP"
Há ainda na planilha registros de 10.000.000 para "Feira (atendido 3,5mm de fev a maio de 2011) Salvo evento" e ainda mais 16.000.000 para "Feira (pgto fora = US$ 10MM)" em 2011.
Segundo Moro, a "temporária também prevenirá a prática de fraudes para justificar as transações já identificadas.
"Nesse período, poderão ainda, especialmente João Cerqueira e Mônica Regina, apresentar o extratos e documentação completa da conta Shellbill, o que permitirá ao Juízo uma melhor análise dos fatos e de seu álibi."