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Moro: Há movimento claro para anular condenações e impedir investigações

O atual ministro da Justiça afirmou que a divulgação por trás da divulgação de mensagens trocadas por ele com Deltan tem o objetivo de atacar instituições

Moro: "Pode ser que tenha havido um estrangeiro, não necessariamente poder estrangeiro", respondeu o ministro (Pedro França/Agência Senado)

Moro: "Pode ser que tenha havido um estrangeiro, não necessariamente poder estrangeiro", respondeu o ministro (Pedro França/Agência Senado)

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Clara Cerioni

Publicado em 19 de junho de 2019 às 11h58.

Última atualização em 19 de junho de 2019 às 12h07.

São Paulo — Em audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, nesta quarta-feira (19), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, apontou que há movimento de um "grupo criminoso" para anular condenações, impedir investigações e atacar instituições por trás da divulgação de mensagens trocadas por ele com procuradores da Lava Jato durante a operação.

"Todas as hipóteses estão abertas. Não é um grupo de pessoas despreparadas; me parece ser um grupo de pessoas que parece ter muito dinheiro", declarou Moro, ao ser perguntado pelo senador Marcos do Val (Cidadania-ES) se suspeitava do envolvimento de estrangeiros na invasão de celulares. "Pode ser que tenha havido um estrangeiro, não necessariamente poder estrangeiro", respondeu. 

O ministro afirmou que a Polícia Federal está investigando o caso e manifestou expectativa de que o trabalho chegue nos responsáveis. Ele declarou que não interfere nem acompanha as diligências. 

Moro fez um apelo para que o Congresso se concentre no presente e no futuro, e não em "falsos escândalos". "Não tenho nenhum problema com a divulgação de material, desde que não adulterado ou veiculado como sensacionalismo, como de fato foi feito."

Ele negou que tenha sido parcial na condução dos julgamentos e disse que as decisões foram submetidas a instâncias recursais superiores.

"Qual é o conluio? Qual é a convergência? O que havia no fundo era muita divergência. Agora, também houve parcial convergência, não quer dizer que eu, absolvendo alguém, tenha conluio com advogado e que, condenado alguém, tenha conluio com o Ministério Público", declarou, citando que, dos 291 acusados, 211 foram condenados e 63 foram absolvidos.

Questionado sobre a frase "in Fux we trust", revelada pelo site de notícias, Moro sugeriu que o veículo entregue o conteúdo das mensagens para serem verificadas por uma autoridade independente, como o Supremo Tribunal Federal (STF).

A declaração foi dada em resposta ao senador Weverton Rocha (PDT-MA), que, entre outros questionamentos, perguntou se Moro entende que provas obtidas ilegalmente podem servir para condenar alguém.

Ao responder, o ministro da Justiça apenas reforçou que não lembra de mensagens enviadas nem "um mês atrás". "Querem que eu lembre de mensagens que mandei há dois anos", disse, voltando a afirmar que as mensagens vazadas podem ter sido parcial ou totalmente adulteradas.

Moro destacou, ainda, que, do que foi veiculado pelo site, "tirando o gritante sensacionalismo", não há demonstração de ilicitude.

O ex-juiz da Lava Jato ainda reforçou o ponto de que a troca de mensagens é uma prática corriqueira no âmbito do Judiciário, explicando ser "normal" que depois de proferida uma decisão haja uma discussão sobre "questão de logística".

Segundo ele, nesse contexto, pode ter tido uma mensagem "nesse sentido". "Não tem nada de revelação de imparcialidade ou conteúdo impróprio. É absolutamente corriqueiro e normal, principalmente no contexto de uma grande investigação", disse.

Entenda o caso

Desde o último dia 10, o site de notícias revela uma série de conversas vazadas que mostram Moro e Dallagnol combinando estratégias de investigação da Operação Lava Jato.

Segundo as revelações, o ex-juiz agiu para implicar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em atos criminosos, sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações.

Ontem à noite, em nova revelação, o Intercept mostra que Moro teria questionado investigações da força tarefa contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Segundo Moro, investigar FHC “melindra alguém cujo apoio é importante”, em mais um episódio que reforça a tese de parcialidade da Lava Jato.

O site é de Glenn Greenwald, jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.

O MPF divulgou uma nota afirmando ter sido vítima de um ataque hacker e Moro disse que as mensagens foram tiradas de contexto. 

Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda será necessária uma extensa investigação, provavelmente conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.

Mas a veracidade dos conteúdos não foi questionada pelas notas distribuídas na noite de domingo (09) pelo Ministério Público Federal (MPF), Moro e Dallagnol.

O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.

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