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Ago/2019: Moraes suspende investigação da Receita contra ministros do STF

No entendimento do ministro, há graves indícios de ilegalidades na investigação e "direcionamento das apurações em andamento"

Alexandre de Moraes: decisão acontece no mesmo dia que reportagens mostram Dallagnol incentivou colegas a investigar o ministro Dias Toffoli, em 2016 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Alexandre de Moraes: decisão acontece no mesmo dia que reportagens mostram Dallagnol incentivou colegas a investigar o ministro Dias Toffoli, em 2016 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Clara Cerioni

Publicado em 1 de agosto de 2019 às 16h12.

Última atualização em 3 de maio de 2020 às 19h05.

Brasília — O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decidiu nesta quinta-feira (01) suspender investigação fiscal aberta pela Receita Federal contra 133 contribuintes, entre elas ministros da Corte, para apurar suspeitas de irregularidades fiscais.

No entendimento do ministro, há graves indícios de ilegalidades na investigação e "direcionamento das apurações em andamento". Na mesma decisão, Moraes determinou o afastamento temporário de dois servidores da Receita Federal por quebra de sigilo.

"Considerando que são claros os indícios de desvio de finalidade na apuração da Receita Federal, que, sem critérios objetivos de seleção, pretendeu, de forma oblíqua e ilegal investigar diversos agentes públicos, inclusive autoridades do Poder Judiciário, incluídos ministros do Supremo Tribunal Federal, sem que houvesse, repita-se, qualquer indicio de irregularidade por parte desses contribuintes”, decidiu.

A decisão acontece no mesmo dia que reportagens, publicadas pela Folha em parceria com o site The Intercept Brasil, mostram que o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, incentivou colegas a investigar o ministro Dias Toffoli, em 2016.

Contexto das investigações

Em 2018, a Receita criou a Equipe Especial de Programação de Combate a Fraudes Tributárias (EEP Fraude) com o objetivo de fazer uma devassa em dados fiscais, tributários e bancários de agentes públicos ou relacionados a eles. A partir de critérios predefinidos, o grupo chegou a mais de cem nomes.

Da relação constam ainda Blairo Maggi, ex-senador e ex-ministro da Agricultura no governo Michel Temer, o desembargador Luiz Zveiter e o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Marcelo Ribeiro.

Em fevereiro deste ano, a Receita negou que o ministro do STF Gilmar Mendes e sua esposa, Guiomar Mendes, sejam investigados pelo órgão.

A manifestação foi divulgada após a imprensa noticiar que o casal seria citado em uma apuração preliminar de "possíveis fraudes de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio ou tráfico de influência". Reportagens também afirmaram que a esposa do ministro Dias Toffoli, Roberta Rangel, seria alvo do Fisco.

O pedido de suspensão das investigações foi assinado dentro do inquérito aberto pelo presidente, Dias Toffoli, para apurar notícias falsas e ofensas que tenham a Corte como alvo. O inquérito tramita de forma sigilosa e foi prorrogado hoje por mais 180 dias pelo ministro Alexandre de Moraes, que é relator do caso.

"Informações detalhadas"

Em sua decisão de hoje, Moraes também pediu informações detalhadas sobre "constatação da CGU de indícios de irregularidades tributárias e participação de agentes públicos em esquemas escusos", bem como quais os "subsídios apresentados pelo Tribunal de Contas da União; ainda em 2016 (...) apontando indícios de incompatibilidade entre a variação patrimonial e as receitas informadas por agentes públicos em declaração anual de bens e rendas", que levaram à escolha de fiscalização de 133 contribuintes.

O ministro também solicitou esclarecimentos a respeito do compartilhamento dessas informações com outros órgãos.

Leia a decisão na íntegra

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(Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)

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