90% da cidade de Rio Bonito do Iguaçu foi devastada pelo tornado (Roberto Dziura Jr/AEN)
Redação Exame
Publicado em 9 de novembro de 2025 às 20h34.
O tornado que atingiu Rio Bonito do Iguaçu, no Centro-Sul do Paraná, na sexta-feira, 7, destruiu 90% da cidade. Seis pessoas morreram (uma delas em Guarapuava). Segundo o governo, 780 moradores receberam atendimento médico, e mais de mil ficaram desalojados.
Entre os afetados está Romualdo Vovani, 45 anos, morador de Laranjeiras do Sul, que correu para a cidade minutos após a tempestade.
Lá, encontrou os pais com ferimentos leves, mas com a casa e o comércio destruídos.
"Era o ganha-pão deles há mais de 30 anos. Cheguei minutos depois, quando vi as primeiras notícias. O pai estava com alguns cortes, mas bem, assim como minha mãe. [...] A sensação que a gente vive nesse momento é indescritível, porque você não sabe o que vai encontrar. Eu pensava ‘será que vou encontrar meus pais com vida?’, e graças a Deus foi só perda material", contou.
Tornado no Paraná: 'precisamos normalizar a adaptação, não os desastres'Agora, ele ajuda na limpeza e remoção de lixo, mas faz questão de destacar a força da comunidade.
"Primeiro, é remover o entulho. Depois, vamos pensar em como recomeçar, cobrir a casa deles, que é a prioridade, e seguir aos poucos. A gente sente que o poder público está bastante preocupado. Ninguém estava preparado para algo assim, ninguém tem dinheiro guardado para esse tipo de situação. E o que a gente mais tem visto é a solidariedade. Além da ajuda prática, aquece o coração saber que as pessoas estão preocupadas e solidárias nesse momento tão difícil", afirmou, em declaração ao governo estadual.
A esposa de José Godoy, 41 anos, grávida de quatro meses, também viveu momentos de desespero ao ser surpreendida sozinha pelo tornado.
"Antes do temporal, recebemos um alerta da Defesa Civil em Quedas do Iguaçu. Logo vim para cá com a família e, quando chegamos, o desastre já tinha acontecido. Ela estava apavorada, passando mal. Disse que escutou um estrondo, tentou se proteger como pôde, se abaixou debaixo da mesa enquanto caíam pedaços do telhado", disse Godoy.
Ela foi levada para casa dos pais em Foz do Iguaçu, enquanto José, ex-militar da Marinha que serviu em missões no Haiti, garante que permanecerá na cidade para ajudar na reconstrução.
"Os bens materiais a gente recupera. Mas eu fiquei feliz e aliviado por achar ela com vida. Isso é o mais importante. Claro que dá tristeza ver tudo destruído, mas aos poucos se recupera. A vida, não. A vida é irrecuperável", afirmou o morador, que foi categórico quando questionado se pretende se mudar: "Quero ajudar a cidade a se reerguer e seguir em frente."
José Godoy está ajudando na reconstrução de Rio Bonito do Iguaçu (Roberto Dziura Jr./AEN)
O estudante Eduardo Henrique Zanotto, 22 anos, também presenciou o caos. Ele e a mãe se abrigaram no banheiro enquanto o vento arrancava o telhado. O pai ficou para trás e se abrigou debaixo de uma mesa.
"Ele foi arrastado, se machucou todo, cortou a perna, ficou com o braço ferido, com um pedaço de madeira preso. Assim que o vento parou, ele conseguiu entrar no banheiro, retirou a madeira, mas começou a sangrar muito. Improvisamos um pano para estancar o sangue e pedimos ajuda para os vizinhos, porque tudo aqui estava cercado, cheio de fios caídos, e a gente não sabia se estavam energizados", lembrou Zanotto.
Mesmo machucado, o pai foi para a linha de frente e ajudou a dirigir uma ambulância para socorrer vizinhos.
"Tem gente que nunca tinha visto e veio ajudar, famílias de outros municípios, amigos que vieram de longe. Minha irmã veio de Foz do Iguaçu na mesma noite para dar apoio. Ver tanta gente se unindo assim é muito importante. Dá força pra seguir em frente”, celebrou o jovem.
Eduardo Zanotto e os pais viveram momentos de tensão durante a passagem do tornado (Roberto Dziura Jr./AEN)
Carla Kerkhoff, de 24 anos, recorda com detalhes o fim de tarde do tornado. Por sorte, o marido havia chegado mais cedo do trabalho.
"O problema começou por volta das 6 horas da tarde. O tempo já estava muito feio. De repente, vimos o telhado das casas da frente sendo arrancado", contou. O casal se jogou no chão e se abrigou em baixo de uma mesa.
"Logo em seguida, tudo desabou. O telhado caiu, estragou todos os móveis. Foi perda total. As cadeiras, os armários, tudo destruído. Se tivesse atingido a gente diretamente, não sei o que poderia ter acontecido", complementou Carla, que teve ferimentos nas pernas e roxos pelo corpo, após ser atingida pelos estilhaços de vidro da janela e pedaços do telhado.
"As medidas anunciadas, como ajuda financeira e apoio às famílias, trazem um pouco de esperança. Porque, sem isso, não temos condições de recomeçar. A nossa família é simples, ninguém tem como ajudar financeiramente. Essa ajuda é essencial para gente. É o que vai salvar nossa vida agora", complementou a moradora.
Carla Kerkhoff e o marido perderam tudo após o tornado (Roberto Dziura Jr./AEN)
A idosa Anatália Lunardi, de 63 anos, também lembra vividamente do terror provocado pelo tornado.
"Os vidros começaram a estilhaçar, aquele barulho todo, e ficamos apavorados. Foi feia a coisa. Quando conseguimos sair, olhamos a vizinhança, tudo destruído, todo mundo na mesma situação. Foi apavorante", recordou.
Apesar do terror, Anatália acredita que a cidade ainda vai se reerguer (Roberto Dziura Jr./AEN)
Apesar do medo, ela acredita em um novo começo:
"Agora é a hora da reconstrução. Vai ser aos pouquinhos, não tem como fazer tudo rápido. Um ajuda o outro, e assim a gente vai tentando levantar. Não é fácil para ninguém, mas a gente tem que ter força para recomeçar. Eu sempre falo para os meus vizinhos ‘temos que ter força, estamos vivos, vamos à luta’. Agora é reconstruir e seguir a vida aqui em Rio Bonito. A cidade vai se reerguer. Com união e ajuda de todos, logo tudo volta ao normal".