Brasil

Moradores de Itaóca contabilizam prejuízo causado pela chuva

Entre eles, paredes caídas, móveis retorcidos, muita lama, além do lamento pelas 12 mortes já confirmadas na tragédia

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de janeiro de 2014 às 06h19.

Itaóca – Levou menos de 30 minutos, depois que começou a chuva no município do Vale do Ribeira, para que a funcionária pública Salene Martins, 36 anos, tivesse que sair pelos fundos da casa, já com água na cintura.

“Foi muito rápido. Ouvi o barulho do rio muito forte, vi que a ponte estava cheia de entulho. Só deu tempo de pular o muro e me alojei com o meu filho em uma firma aqui perto”, relata, ao conferir os estragos que a enxurrada do último domingo (12) deixou na casa dela.

Nos arredores, o cenário é o mesmo: paredes caídas, móveis retorcidos, muita lama, além do lamento pelas 12 mortes já confirmadas na tragédia.

A casa de Salene, no centro da cidade, fica a poucos metros da ponte sobre o Rio Palmital, que foi obstruído nesse ponto com entulhos levados pela enxurrada. Segundo avaliação dos governos estadual e municipal, um emaranhado de galhos de árvores que ficou retido na ponte principal do município mudou o curso do rio, provocando a inundação da cidade.

De acordo com a Defesa Civil Estadual, a tromba d'água que atingiu o Palmital teve origem nas serras onde estão os afluentes que alimentam o rio. “Foram 200 milímetros em cinco horas”, apontou o coordenador do órgão, coronel Aurélio Alves Pinto.

Também a poucos metros do rio, Rosicléia Monteiro, 28 anos, retorna à casa onde vivia com os pais para tentar encontrar algum mantimento que tenha resistido à chuva.

“Não restou nada. Só a carcaça. Vamos ter que começar do zero”, relatou. Por enquanto, a família está abrigada na casa de parentes. Apesar do prejuízo, ela considera que teve sorte. “Só perdemos bens materiais. A última grande enchente aqui foi em 1997. Naquela época, a ponte rodou [foi levada pela enxurrada] e não causou tantos prejuízos”.

A família de Daiane Machado, 27 anos, por outro lado, não teve tempo de se abrigar. A casa, em que a mãe, a irmã, o cunhado e os dois sobrinhos estavam, foi carregada com a força das águas.

A jovem veio de Sorocaba para acompanhar as buscas pelos parentes. “Até agora só encontraram minha irmã e minha sobrinha. Nem consegui chegar a tempo, já tinham enterrado”, contou.

A família morava em Lajeado, um bairro que fica a cerca de seis quilômetros do centro de Itaóca, mas que foi bastante afetado pela tromba d'água.

As pontes que existiam nessa comunidade foram destruídas e, agora, o deslocamento dos moradores é feito pelo rio, com a água na cintura. É o caso de Aurélio Petris, 40 anos, que não sabe como vai fazer para chegar ao trabalho, pois o deslocamento era feito de carro pela ponte.

“Sou operário de uma fábrica de cimento. Não sei como vou me locomover. Dá uns seis quilômetros daqui”, disse. Enquanto aguarda o retorno do trabalho, ele, que perdeu dois parentes na tragédia, ajuda, como voluntário, carregando mantimentos e água para os vizinhos.

De acordo com a prefeito de Itaóca, Rafael Camargo, as pontes serão refeitas, mas não haverá mais pilastras de alvenaria na base delas.

“Agora vai ser mudada toda a ideia da estrutura da ponte. Vai ser feita em arco, sem apoio em baixo, para facilitar o fluxo do rio”, prometeu. Ele informou ainda que a ponte do Lajeado já era em forma de arco, mas que a altura dela foi insuficiente para não ser atingida pela água.

O último balanço da Defesa Civil, divulgado às 20h de ontem (14), contabiliza, além das 12 mortes, oito pessoas desaparecidas. Segundo a Defesa Civil, 19 casas foram destruídas totalmente.

A maior parte das famílias desabrigadas, um total de 83, foi para a casa de parentes e amigos. Apenas três famílias estão em escolas da prefeitura. Cerca de 80% da cidade já tiveram a energia restabelecida, mas o fornecimento de água ainda está sendo feito, em sua maior parte, por meio de caminhões-pipa.

Acompanhe tudo sobre:ChuvasDesastres naturaisEnchentesEstado de São Paulo

Mais de Brasil

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdermar

As 10 melhores rodovias do Brasil em 2024, segundo a CNT

Para especialistas, reforma tributária pode onerar empresas optantes pelo Simples Nacional

Advogado de Cid diz que Bolsonaro sabia de plano de matar Lula e Moraes, mas recua