Enxurrada de lama atinge a cidade de Barra Longa (Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2015 às 14h45.
Do alto de seus 71 anos, o aposentado Antônio Pedro da Costa acompanha atento a retirada de toda a lama que danificou a casa onde morava, em Barra Longa (MG).
O município foi atingido pelo que os moradores descrevem como uma avalanche de lama proveniente de duas barragens que se romperam na zona rural de Mariana (MG).
"Vim pra Barra Longa com 9 anos. A última enchente que tivemos aqui foi em 1979, mas foi chuva, água mesmo. Dessa vez, foi só barro", contou. De chinelo e bermuda, seu Tônho, como é conhecido, caminha em meio à lama e mostra o que sobrou da casa de dois quartos onde vivia com a esposa.
Os dois aposentados conseguiram sair com vida da residência e estão recebendo ajuda de parentes e amigos. A esposa de Antônio está na casa da irmã e ele, na casa de vizinhos. "Quando avisaram sobre a chegada da lama, já era 2 horas da madrugada. Não deu tempo de nada. Só salvou a gente mesmo. O barro pegou muita gente dormindo".
A comerciante Elísia Dantas, 51 anos, conseguiu salvar o bar que abriu junto com marido na cidade. Mas a casa de quatro quartos onde morava com os filhos e a neta foi tomada pelo barro. A família perdeu também dois carros e uma criação de galinhas. "Essa catástrofe prejudicou gente demais. Perdemos praticamente tudo. Não tem condição nem de entrar em casa. Era uma casa boa, com sala, copa, cozinha, dois banheiros, varanda e terraço", contou.
Dentro da residência, é possível observar nas paredes uma marca de barro de cerca de um metro meio de altura. A comerciante ainda não sabe se vai conseguir recuperar a casa. "Pode até ser que dê pra limpar, mas tem que vir alguém pra checar se há condições da gente voltar mesmo. Não sabemos se abalou a estrutura", disse.
Enquanto ninguém aparece, a família se divide na casa de vizinhos, no salão comunitário da cidade e na casa de um parente. O prefeito de Barra Longa, Fernando José Carneiro, estima os prejuízos em cerca de R$ 12 milhões. "Perdemos escolas, pontes, estradas e casas". Segundo ele, 42 moradias foram danificadas e 90 famílias estão desabrigadas.
Além disso, quatro pontes foram completamente destruídas com a força da chegada da lama, deixando alguns povoados isolados. "Conseguimos resgatar todos. Só ficou um pessoal no bairro de Barreto. São 42 famílias no total. Estivemos lá de helicóptero e levamos cesta básica, água, remédio. Eles têm condições, mas não conseguem sair porque estão sem ponte para passar", explicou.
A expectativa é que o Exército forneça uma ponte provisória para que o acesso ao local seja reestabelecido. No bairro do Gesseiro, uma igreja com mais de 100 anos de história está ocupada por mais de seis metros de bairro.
"Estou com medo de, na hora que começarem a limpar, ela cair também. Nesse bairro, só ficaram em pé uma casa e essa igreja", contou o prefeito. "Todo o povo da região está ajudando. Fiquei até emocionado. Não esperava tanta ajuda", disse. "Se essa ajuda continuar, vamos conseguir", concluiu.