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Moody´s: Brasil perdeu transparência fiscal

Vice-presidente da agência de classificação de risco diz que não adianta o governo fazer ginástica contábil para cumprir as metas

Moody´s pode melhorar a nota de risco do Brasil em 2011 (.)

Moody´s pode melhorar a nota de risco do Brasil em 2011 (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - O vice-presidente sênior de Crédito da Moody's, Mauro Leos, diz que é preciso aguardar o início do novo governo para definir uma eventual elevação na nota de risco do Brasil. "Isso pode acontecer no segundo trimestre de 2011."

O mexicano Mauro Leos, que trabalha no escritório da agência de classificação de risco em Nova York (EUA), veio ao Brasil nesta semana e concedeu uma entrevista ao site EXAME na sede da Editora Abril, em São Paulo.

A falta de transparência fiscal nas contas públicas e o papel do BNDES estão entres os pontos acompanhados pelos analistas da Moody's. "Não adianta o governo fazer ginástica contábil. Os pontos que interessam são o resultado nominal e a dívida bruta", diz Leos.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Site EXAME - O que falta para o Brasil ter uma elevação na nota de risco?

Mauro Leos - A nota do Brasil já tem uma perspectiva positiva e é grau de investimento pela Moody's desde setembro do ano passado. Precisamos esperar o novo governo e os novos ministros para conhecer os planos, os objetivos e as metas, e principalmente entender qual é a estratégia fiscal, que não foi boa nesse ano eleitoral. Queremos saber se o próximo governo quer corrigir as contas fiscais e retomar a tendência positiva que havia antes. Uma eventual elevação da nota pode ocorrer no segundo trimestre de 2011.


Site EXAME - Muitos analistas afirmam que o governo tem adotado práticas pouco transparentes no cumprimento das metas fiscais. O governo desconta as obras do PAC da meta de superávit primário e agora vai utilizar a capitalização da Petrobras para melhorar o resultado. Como o sr. avalia isso tudo?

Leos - A transparência fiscal também é fundamental. Os últimos anos têm sido menos transparentes por causa de várias operações. Quanto mais claras, simples e transparentes, mais seguras são as contas. A Moody’s sempre disse que o tema mais importante para a classificação do rating do Brasil é fiscal. Analisamos o resultado nominal e não apenas o superávit primário. A Moddy’s sempre levou em consideração a dívida bruta e não a líquida. Agora, finalmente, os analistas e os bancos perceberam que é isso que importa. Portanto, a ginástica contábil não é necessária, pois o que importa são o resultado nominal e a dívida bruta. Os números não mentem e o mercado já sabe que a dívida bruta está crescendo.

Site EXAME - O governo tem turbinado o BNDES e essas operações não aparecem na dívida líquida, mas pioram a bruta, o que tem gerado muita polêmica. Como o sr. avalia o papel do BNDES?

Leos - O BNDES teve um papel muito importante durante a crise. Agora, o Brasil já se recuperou e não precisa mais da ajuda do banco. Cabe ao próximo governo definir qual será o papel do BNDES. Por enquanto, a Moddy’s não está preocupada, pois a avaliação de créditos do BNDES é positiva, apesar do crescimento das operações.

Site EXAME - A valorização do câmbio no Brasil gera reclamações dos empresários. Há algo que o governo brasileiro possa fazer ou o caminho natural é o real ser uma moeda forte?

Leos - O problema do Brasil é o mesmo vivido por outros países emergentes. O fluxo de recursos dos países ricos para os emergentes ainda vai se manter intenso por pelo menos dois anos, pois as taxas de juros nos países desenvolvidos continuará baixa. O câmbio valorizado pode causar problemas para as exportações dos emergentes. Os bancos centrais podem comprar dólares, mas o câmbio continuará pressionado. Essa é a realidade. No caso do Brasil, o Banco Central corre o risco de elevar os juros por causa da inflação e acabar atraindo ainda mais recursos. Então a questão é como reduzir os juros. A resposta passa por uma política fiscal mais restritiva, ou seja, um ajuste fiscal que corte gastos. Com menos estímulo do setor público, a economia não cresce tanto, permitindo que o Banco Central reduza ou pelo menos não eleve os juros.

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