Brasil

Monumento em SP homenageia mortos e desaparecidos políticos

Monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos políticos foi inaugurado na tarde de hoje no Parque Ibirapuera

Público durante inauguração de monumento que homenageia mortos e desaparecidos políticos em SP (Fernando Pereira/Secom/PMSP/Fotos Públicas)

Público durante inauguração de monumento que homenageia mortos e desaparecidos políticos em SP (Fernando Pereira/Secom/PMSP/Fotos Públicas)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de dezembro de 2014 às 22h21.

São Paulo - Um monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos políticos foi inaugurado na tarde de hoje (8) no Parque Ibirapuera, na capital paulista.

A iniciativa é da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.

Concebido pelo artista plástico e arquiteto Ricardo Ohtake, o monumento, tem 6 metros de altura por 12 de comprimento e é formado por diversas chapas de aço. Algumas das chapas foram pintadas de branco e nelas estão os nomes de 436 mortos e desaparecidos políticos de todo o país.

As demais, de aparência enferrujada, significam os diferentes pontos de partida e trajetória dos militantes.

Transpassando a obra, uma lança perfura as hastes e representa as vidas perdidas durante a ditadura.

“A ditadura foi um movimento irracional, particularmente na questão de direitos humanos. E essa coisa irracional e caótica da ditadura causou a morte de 463 brasileiros. Pusemos os nomes desses brasileiros na placa branca, que é a luz de toda paisagem”, explicou o artista à Agência Brasil.

Presente ao evento, a ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, disse que o monumento “resgata a memória e a verdade” sobre o período. “Todo esse resgate é de fundamental importância para aqueles que não vivenciaram o momento. Resgatar a memória, a verdade e fazer justiça é de fundamental importância, principalmente para as novas gerações”, assinalou.

Um dos nomes é o de Antônio Raymundo Lucena, pai de Adilson de Oliveira Lucena. “Meu pai tombou em combate no dia 20 de fevereiro de 1970, em Atibaia [São Paulo]. Ele está desaparecido até hoje. Não conseguimos recuperar os restos mortais, uma das lutas da família”, contou Adilson, que também foi preso político e viveu exilado em Cuba.

Segundo ele, o pai era militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e desapareceu após tiroteio em Atibaia. Adilson ainda espera que os torturadores sejam punidos pelos crimes. “Eles têm de pagar pelo que cometeram.” Para Adilson, o momento é de resgate da história do país para as novas gerações. "É um símbolo para todos aqueles que lutaram pela democracia.”, disse ele, referindo-se ao monumento.

Outro nome inscrito no monumento é o de David Capistrano da Costa, que militava no Partido Comunista Brasileiro e está desaparecido desde 1974. “Ele desapareceu em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Desde então, nunca tivemos notícias dele”, informou sua filha, Cristina Capistrano.

Para ela, o pai foi preso em Uruguaiana, levado para São Paulo e,depois para o Rio de Janeiro. “Talvez o corpo tenha sido incinerado na Usina de Cambaíba, em Campos, no Rio de Janeiro, após a passagem dele pela Casa da Morte, em Petropólis”, ressaltou. Cristina também destaca a importância do monumento no resgate da “memória dos acontecimentos e da ditadura militar” e para “para que a população, principalmente a mais jovem, saiba o que ocorreu”.

“O monumento é um marco histórico e também um compromisso de que a luta continua, porque a Comissão Nacional da Verdade não informará onde estão os corpos e quem os matou e nem responsabilizará os que mataram. Portanto, a luta continua”, afirmou, por sua vez, a ex-presa política Maria Amélia Teles,, integrante da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo e membro da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos.

Para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, a instalação do monumento é representativa: “muitos órgãos da repressão se instalaram na região do Ibirapuera, que, talvez, seja o parque mais visitado da cidade de São Paulo. É um gesto importante lembrar o que aconteceu em período relativamente recente da história do Brasil e evitar, definitivamente, que nossa liberdade seja comprometida. Esperamos um estado cada vez mais democrático, participativo, livre e que os cidadãos sejam cada vez mais críticos, participativos e soberanos. Para isso, só com eleições periódicas e imprensa livre.”

Enquanto Haddad falava, algumas pessoas que vivem na região do Parque dos Búfalos protestaram contra aprovação de um empreendimento imobiliário no local. Eles pediram uma audiência pública, com a presença do prefeito, para discutir o projeto. Os manifestantes informaram que o empreendimento, se for consruído, destruirá o meio ambiente e as nascentes do Parque dos Búfalos.

Haddad adiantou que audiência será na próxima segunda-feira (15). Moradores da Favela do Moinho também protestaram durante a inauguração do monumento e cobraram a presença do prefeito na área. Eles reivindicaram instalação de redes de luz, água e esgoto e a reocupação organizada do terreno. Haddad comprometeu-se a visitar o local na próxima semana.

Também participaram da inauguração do monumento Paulo Vannuchi, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o secretário municipal de Direitos Humanos, Rogério Sottili, além de vereadores, deputados e membros das comissões municipal e estadual da Verdade.

Acompanhe tudo sobre:cidades-brasileirasDireitos HumanosDitaduraHistóriaMetrópoles globaissao-paulo

Mais de Brasil

Moraes deve encaminhar esta semana o relatório sobre tentativa de golpe à PGR

Acidente com ônibus escolar deixa 17 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo