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Ministro Celso de Mello diz que pode deixar STF neste ano

Ele é o mais antigo dos onze ministros. Se sair, significa que o presidente Michel Temer, mantido no cargo, poderá indicar seu segundo ministro em 2018

 (Adriano Machado/Reuters)

(Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 30 de abril de 2017 às 09h44.

Última atualização em 19 de março de 2018 às 11h56.

Brasília - O ministro Celso de Mello está começando a sair do Supremo Tribunal Federal (STF), onde é juiz há quase 28 anos. É o mais antigo dos onze ministros - o decano, como se diz. "Pode ser que este seja o meu último ano aqui", disse ele ao Estado, em seu gabinete, na noite já avançada da terça-feira passada.

Se for, significa que o presidente Michel Temer, mantido no cargo, poderá indicar seu segundo ministro em 2018. "De todo modo, se não for neste ano, eu certamente não pretendo ficar até os 75", afirmou o ministro. É a idade limite para o cargo, que, aos 71 anos, só atingirá em 2021.

"Já vou caminhando para 48 anos de serviço público (os outros 20 foram no Ministério Público de São Paulo) e está na hora de parar um pouco", complementou, na única mesa vazia de seu amplo gabinete no terceiro andar do anexo 2. As outras duas mesas estavam tomadas por processos em andamento. O acervo do decano registrava, naquela terça-feira, 3.298 processos, quarto lugar no ranking dos onze ministros (o primeiro é Ricardo Lewandowski, com 3.020; o último, para não variar, Marco Aurélio Mello, com 7.639).

O ministro tem um visível e crônico problema no quadril, com o desgaste do osso do fêmur, que o obriga a andar de bengala, se a distância é curta, ou de cadeira de rodas, se é maior, como tem feito em shoppings de São Paulo, que frequenta eventualmente com as duas filhas, ambas publicitárias.

"Estou com a mobilidade cada vez mais reduzida, e é uma dor 24 horas, todo dia", contou o paulista de Tatuí (que volta e meia aparece na conversa). "Não posso tomar anti-inflamatórios, que me fazem subir a pressão. Então tenho que tomar analgésicos comuns, que já não fazem mais efeito. Vou ter que fazer uma cirurgia, para colocar uma prótese de quadril. Já fiz uma série de exames, só falta marcar a data. Mas eu preciso fazer, ainda neste ano, porque está ficando a cada dia mais difícil."

E por que já não marcou? "A minha família me pressiona, mas eu me preocupo com o volume de serviço que tem aqui. Talvez tenha que ficar dois meses de licença. E isso vai onerar os outros ministros." Não se aborreceu, data vênia, com o comentário "é melhor parar por bem do que parar por mal". Sopesou, olhou para a bengala encostada na parede próxima, e disse: "É. Eu vou marcar".

Bengala

O decano recebeu o Estado às 19 horas da terça-feira passada - logo depois de uma cansativa sessão da Segunda Turma da Corte, começada às 14h30. É a turma que herdou o ministro Edson Fachin como o novo relator da Operação Lava Jato, substituindo o falecido Teori Zavascki, a toda hora lembrado nas sessões.

Os demais são os ministros Gilmar Mendes, que a comanda, da poltrona central, e os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Celso de Mello é o vice-presidente. É visível a dificuldade que tem para ocupar o lugar de Gilmar Mendes, apenas duas cadeiras adiante, quando este se ausenta. Vai bengalando, com um assessor por perto caso precise de apoio.

Depois das sessões - sejam as da Turma, sejam as de plenário, nas quartas e quintas - o decano continua a trabalhar no gabinete, madrugada afora. Houve época em que saía às cinco, seis da manhã seguinte. "Agora, com o quadril atrapalhando, eu saio mais cedo, ali pelas duas", disse ao Estado, já perto da meia-noite. O expediente noturno é o que mais o agrada. Os assessores são chamados quando ele precisa de livros ou pesquisas, o garçom de plantão aparece volta e meia com água e café, ou coca-cola; o motorista do plantão, ou o que o serve, já sabem que é sempre o último a sair - e esperam na garagem, onde ele chega pelo elevador privativo.

Música

No gabinete, além de trabalhar (sem juízes auxiliares, que nunca quis ter), desfruta o tempo todo de uma pouco conhecida paixão: a de ouvir música. Seu acervo de canções é maior do que o processual: quatro mil delas, estima, de quase todos os gêneros, muitas verdadeiras raridades que garimpa em programa de streaming que sabe manejar com habilidade.

O som é permanente, baixo, mas bem audível, e o repertório muito variado, a depender do estado de espírito. Música clássica tem para todo gosto. MPB das antigas nem se fala. Standards americanos, jazz, sertanejos do arco da velha, conjuntos vocais inimagináveis.

Além da audição, o decano oferece, se questionado, impressionante erudição musical. Às vezes, além das músicas, ele procura áudios de discursos históricos - Churchill, Kennedy, Lênin... Conhece as circunstâncias e o contexto em que foram feitos. Acompanha os oradores - tudo com emoção, mesmo que a meia-noite já vá longe.

Mc Donald�s

O detalhe, daquela terça, é que até aquela hora tardia o ministro estava sem almoçar. Na boa. É comum que isso aconteça. Às vezes, no caminho de volta para casa, já madrugada, ele pede que o motorista pare num drive-thru do McDonald�s ainda aberto. Paga dois sanduíches - um para o próprio motorista, e outro que leva para comer em casa.

O decano é um frequente consumidor dos sanduíches da lanchonete de fast food, vício adquirido nos dois anos que morou nos Estados Unidos, 1963 e 1964, com uma família norte-americana ultraconservadora e racista. Morava lá, por exemplo, quando o presidente John Kennedy foi assassinado, episódio histórico que o marcou.

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