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Ministério Público investiga denúncias de fura fila na vacinação contra covid-19

Em Manaus, circulam na internet fotos de duas irmãs da família que comanda uma das maiores universidades privadas da cidade, comemorando o fato de terem sido vacinadas

Vacina: em nota, a Prefeitura de Manaus negou irregularidades na vacinação das duas médicas (Breno Esaki / Agência Saúde/Divulgação)

Vacina: em nota, a Prefeitura de Manaus negou irregularidades na vacinação das duas médicas (Breno Esaki / Agência Saúde/Divulgação)

AO

Agência O Globo

Publicado em 20 de janeiro de 2021 às 16h59.

O início da primeira fase da campanha de vacinação contra covid-19 no país foi marcado por flagrantes de pessoas fora do grupo de risco furando a fila de imunização. Há casos que estão sendo investigados pelo Ministério Público em Pernambuco, Sergipe e amazonas.

Em Manaus, foi aberta uma investigação para apurar suspeita de desvio de vacinas, após fotos circularem na internet mostrando duas irmãs, da família que comanda uma das maiores universidades privadas da cidade, comemorando o fato de terem sido vacinadas. As duas são médicas, mas foram nomeadas em cargos comissionados na Prefeitura de Manaus na véspera e no dia do início da vacinação na cidade.

As médicas são Isabelle Kirk Maddy Lins e Gabrielle Kirk Maddy Lins. As duas são filhas de Andrea Kirk Maddy Lima, que é casada com Nilton da Costa Lins Júnior, presidente da mantenedora da Universidade Nilton Lins, uma das maiores de Manaus.

Na terça-feira, as duas fizeram postagens no Instagram mostrando o momento em que foram vacinadas. Em Manaus, a vacinação começou na terça-feira e foi destinada para profissionais de saúde que atuam na linha de frente do combate à Covid-19. Nas redes sociais, as imagens geraram revolta e questionamentos em relação à suspeita de que as duas poderiam ter “furado a fila” da vacinação.

As críticas ficaram ainda mais intensas porque as duas foram nomeadas horas antes de a imunização ser iniciada em Manaus. Segundo o Diário Oficial do Município (DOM), Gabrielle foi nomeada em cargo comissionado na Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) no dia 18 de janeiro, um dia antes do início da vacinação. A irmã foi nomeada no dia seguinte. Além disso, o Amazonas vive, desde a semana passada, uma crise no sistema de saúde causado pelo aumento acelerado nos casos de Covid-19 e pela escassez de oxigênio hospitalar em algumas unidades de saúde da capital e do interior.

"Ontem à noite os órgãos de controle se reuniram com a Prefeitura, e aí já entrando pela madrugada, foi expedida a recomendação para que a Semsa observe, em razão da escassez da vacina as pessoas que serão vacinadas. Nós não podemos deixar que grupos prioritários e pessoas com comorbidades que estão à frente de todo esse trabalho com Covid sejam substituídos por outros grupos que tem condições de enfrentar esse trabalho contra a Covid com menos riscos", disse a Procuradora de Justiça Silvana Nobre Cabral, que coordenadora do Grupo de Covid-19 montado pelo MP-AM.

Em nota, a Prefeitura de Manaus negou irregularidades na vacinação das duas médicas. Segundo a nota, as duas foram nomeadas de forma regular e estão atuando “legitimamente”.

“Sobre o caso das médicas Gabrielle Kirk Lins e Isabelle Kirk Lins, vacinadas neste primeiro dia de imunização, não há nenhuma irregularidade, uma vez que se encontram nomeadas e atuando legitimamente no plantão da unidade de saúde, para a qual foram designadas, em razão da urgência e exceção sanitárias, estabelecidas nos primeiros 15 dias da nova gestão”, diz um trecho da nota. A reportagem não conseguiu localizar as duas médicas para comentar o assunto.

Prefeito imunizado

Em Sergipe, o prefeito do município de Itabi, Júnior de Amynthas, (DEM), de 46 anos, tomou a vacina no lançamento da campanha na cidade. Em rede social, ele justificou o ato como sendo "uma forma de incentivar a população". O município recebeu 31 doses para a primeira fase de imunização.

"O prefeito Júnior de Amynthas foi imunizado, em um ato de demonstração de segurança, legitimidade e eficácia da vacina, para incentivar a população Itabiense a vacinar-se, tendo em vista os receios existentes a esse respeito – o que não configura um ato de caráter político", diz o texto.

O Ministério Público Federal enviou ofício ao prefeito cobrando explicações.

Investigação em Pernambuco

Em Pernambuco, a promotoria de Justiça de Jupi, no interior do estado, recebeu a denúncia de que um cidadão, fora do grupo prioritário estabelecido pelo Plano Nacional de Imunização e diretrizes estaduais de vacinação contra a Covid-19, foi vacinado.

"Vamos oficiar a Secretaria Municipal de Saúde para prestar esclarecimentos, bem como os profissionais de saúde que realizaram o procedimento, além da delegacia local para apurar conduta penal acerca do caso", disse a promotora de Justiça da cidade Adna Vasconcelos.

Foram vacinados, segundo reportagem da "Folha de S.Paulo", a secretária municipal de Saúde de Jupi, Maria Nadir Ferro, e o fotógrafo oficial da prefeitura, conhecido como Guilherme JG. A informação foi confirmada pelo GLOBO. O vídeo foi postado nas redes sociais. “Aqui, olha, Jupi recebendo as primeiras doses. Aproveitando o embalo”, diz o fotógrafo.

Em nota divulgada em rede social, a prefeitura de Jupi informou que afastou a secretaria municipal de saúde. “Cabe esclarecer que a gestão repudia totalmente qualquer ilegalidade na não observação do plano estadual e municipal de imunização”, diz a nota.

O município de Jupi recebeu 136 doses da vacina contra a Covid-19 para aplicar em duas etapas nos profissionais de saúde.

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