Incêndio: ao menos quatro pessoas morreram em consequência do incêndio (Rosa Rovena/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 23 de novembro de 2016 às 19h11.
O Ministério do Trabalho investigará se o incêndio na manhã desta quarta-feira, 23, em um imóvel no Brás, na região central da capital paulista, foi acidente de trabalho, se há eventuais responsáveis pelo ocorrido e se havia trabalho escravo no local.
Informações preliminares apontam que o prédio abrigava ao menos uma oficina de costura operada por bolivianos, que também dormiam no mesmo prédio.
O auditor-fiscal Renato Bignami, da Superintendência Regional do Trabalho em São Paulo, disse que será instaurada uma investigação. "Havia de 20 a 30 pessoas que trabalhavam no local", disse à reportagem.
Ao menos quatro pessoas morreram em consequência do incêndio. Havia pelo menos 30 pessoas no imóvel, que tem risco de desabamento. Até as 13 horas, nove pessoas haviam sido socorridas.
O costureiro boliviano Eilogio Callizaya, de 48 anos, correu o máximo que pode para se proteger do incêndio que atingiu a casa em que estava morando temporariamente enquanto se recuperava de um acidente de trabalho - um ombro quebrado.
Eram por volta de 5 horas quando ele acordou com os gritos do amigo, que dividia o quarto com ele, e dos cerca de 30 outros moradores do cortiço.
Na pressa, ficou tudo para trás: roupas, documentos e até uma máquina de costura que ele tinha acabado de comprar por cerca de R$ 2 mil para não precisar depender dos patrões para ganhar dinheiro. Está no Brasil há 10 anos atuando nas oficinas de costura.
"Saí com a roupa que estava vestindo e essa mochila", disse.
Ele conta que os moradores ficaram desesperados, pois não havia água e o prédio tinha muitos botijões de gás que poderiam explodir a qualquer momento.
Por volta das 13 horas, o costureiro ainda aguardava o trabalho do Corpo dos Bombeiros para tentar reaver algum dos objetos perdidos. "Nem sei para onde vou ainda", afirmou.
Ricardo de Melo, de 39 anos, trabalhava como cortador de tecidos e disse que planejava levar até a mãe para morar com ele no prédio. "Ainda bem que não trouxe, olha o que aconteceu", disse.
Melo contou que acordou com gritos de "fogo, fogo" e deixou todos os pertences para trás. Morava havia um ano no prédio. "Saiu todo mundo assustado, correndo, não deu tempo de pegar nem a carteira."
Agentes da Prefeitura e do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) estavam no local para cadastrar os moradores em abrigos da cidade.