Brasil

Militares estariam desconfortáveis com chanceler, diz embaixador exonerado

Paulo Roberto de Almeida, exonerado a pedido do chanceler Ernesto Araújo, falou sobre o clima no Itamaraty sob o governo Bolsonaro

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo (Andre Coelho/Bloomberg)

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo (Andre Coelho/Bloomberg)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 5 de março de 2019 às 10h15.

Última atualização em 5 de março de 2019 às 10h17.

São Paulo – O embaixador Paulo Roberto de Almeida, que foi exonerado a pedido do chanceler Ernesto Araújo do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri), na última segunda-feira, disse que os militares no alto escalão do governo estariam incomodados com as posturas de Araújo.

De acordo com o embaixador, que concedeu na noite desta segunda-feira uma entrevista ao Estado de S. Paulo, os militares teriam adotado um “cordão sanitário” no entorno do chanceler, pois vários dos anúncios feitos por Araújo sobre a política externa brasileira tiveram de ser negados.

Segundo Almeida, os militares teriam dito não para “a base militar nos Estados Unidos, a postura anti-China, a mudança da nossa embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém. Teve também uma primeira reunião do Grupo de Lima em que ele aceitou a cessação de qualquer relação militar com o governo de Nicolás Maduro.”

“Os jornalistas todos têm feito comentários sobre as posturas anti-globalista, anti-climatista, essas questões envolvendo a Venezuela. Os militares parecem também terem visto isso”, disse o embaixador ao jornal. “Há elementos que criaram certo desconforto tanto na Casa (Itamaraty) quanto fora dela. Acho que o fato de eu repercutir um pouco esse debate incomodou”, notou.

O embaixador assumiu o cargo no Inpri em agosto de 2016, durante o governo de Michel Temer, mas é diplomata de carreira desde 1977 e já serviu em diversos postos no exterior, inclusive na Bélgica.

Exoneração

A saída aconteceu no mesmo dia em que Almeida republicou, em seu blog pessoal, artigos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do ex-ministro Rubens Ricupero com críticas à diplomacia brasileira, e também um texto do próprio chanceler, que rebate os outros.

De acordo com o embaixador, o chefe de Gabinete de Ernesto Araújo, Pedro Gustavo Ventura Wollny, que ligou para comunicar a exoneração, já havia reclamado do teor das postagens feitas em seu blog.

E, ainda segundo Almeida, na conversa ficou claro que a exoneração tinha relação com as publicações. O atual chanceler também é dono de um blog pessoal no qual publica desde o ano passado, antes das eleições, suas posições pessoais sobre vários temas e que causaram polêmica.

Para Almeida, no entanto, era uma questão de tempo até que a sua saída de um cargo de chefia fosse anunciada. “Eu já estava preparado. Porque o ministro de Estado demitiu todos os chefes da Casa”, relatou ele ao Estado, “e no lugar, hoje, os embaixadores estão obedecendo a ministros de segunda classe no Itamaraty.”

Questionado sobre a exoneração, o Itamaraty afirmou, por meio de nota, que a mudança estava decidida anteriormente.

Acompanhe tudo sobre:DiplomaciaGoverno BolsonaroErnesto Araújo

Mais de Brasil

'Florianópolis é um orgulho para o Brasil e para a América', diz ministro do Turismo argentino em SC

Lula diz que Brasil vive 'uma turbulência desnecessária' causada por Trump

Em meio ao tarifaço, Eduardo Bolsonaro publica foto com secretário do Tesouro dos EUA

Governo dos EUA cancela vistos de esposa e filha de ministro Alexandre Padilha