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Militares criticam mea-culpa do PT em documento

Resolução do PT sobre conjuntura política foi recebida com "indignação" pela cúpula militar


	Exército Brasileiro: "o que eles queriam, que os militares tivessem ido para as ruas defender o governo?", diz presidente do Clube Militar
 (Ricardo Moraes/Reuters)

Exército Brasileiro: "o que eles queriam, que os militares tivessem ido para as ruas defender o governo?", diz presidente do Clube Militar (Ricardo Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 20 de maio de 2016 às 11h17.

Brasília - Resolução do PT sobre conjuntura política foi recebida com "indignação" pela cúpula militar.

O texto diz que os petistas foram "descuidados" por não terem modificado os currículos das academias militares e por não terem promovido oficiais com "compromisso democrático e nacionalista".

"O que eles queriam, que os militares tivessem ido para as ruas defender o governo? As Forças Armadas são uma instituição de Estado. O erro deles, entre outros, foi ter tentado nivelar o Brasil por governos populistas como Bolívia e Venezuela", disse ao jornal O Estado de S. Paulo o presidente do Clube Militar, general Gilberto Pimentel.

O trecho do documento do PT diz: "Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromisso democrático e nacionalista; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação".

De acordo com o general Rômulo Bini, ex-chefe do Estado Maior de Defesa, o documento expõe "total desconhecimento de como funcionam as Forças Armadas". "Eles queriam militares que abaixassem a cabeça para eles, como se tivéssemos Forças Armadas bolivarianas como na Venezuela? Isso é um absurdo".

Embora as falas sejam de oficiais da reserva, o mesmo sentimento foi observado entre oficiais-generais da ativa, que não se conformavam com a forma como foram tratados pelos petistas, no texto de mea-culpa do partido. Desde que o documento foi tornado público, ele se transformou em objetivo de discussão nas três Forças.

Na segunda-feira, 16, quando tomou posse no Ministério da Defesa, Raul Jungmann elogiou exatamente o comportamento das Forças Armadas durante "uma das mais severas crises enfrentadas pelo País", lembrando que elas "se mantiveram impecáveis" e "no limite de suas competências".

No mesmo tom, o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato, falando em nome das três Forças, ressaltou que "acertadamente as Forças Armadas se desengajaram da política partidária, deixando para os políticos esse engajamento". Rossatto disse ainda que a missão constitucional das Forças Armadas, hoje, "não deixa dúvidas quanto à priorização da defesa do País".

Um general quatro estrelas do Alto Comando do Exército, que pediu anonimato, disse à reportagem que "isso (mea-culpa do PT) é uma confissão de tentativa de aparelhamento em vão das Forças Armadas".

E questionou: "e qual é o problema de as Forças Armadas terem cumprido o seu papel constitucional? Não é isso que teriam de fazer? O pior é que eles dizem e escrevem isso. O efeito no Exército está sendo semelhante a 1935, quando tentaram implantar o anticomunismo na Força. Estão todos furiosos e incrédulos. Isso é quase uma declaração de guerra a nós", emendou ele, acrescentando que "os petistas queriam que nós fôssemos Forças Armadas bolivarianas, como a da Venezuela ou da Bolívia que as Forças Armadas são instrumento do governo e isso é inadmissível".

Lembrou ainda que as críticas atingiram não só as Forças Armadas, mas várias instituições de Estado, como a Polícia Federal, o Itamaraty e o Ministério Público Federal.

Academia

"Nas escolas militares nós ensinamos honestidade, hierarquia, disciplina, o respeito aos mais velhos", declarou o general Bini. Ele lembrou que uma vez a esposa do então presidente Fernando Henrique Cardoso foi à Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e se surpreendeu com o número de matéria da área de humanas que ensinamos em nossas escolas desde 1961. Você tem entre as disciplinas direito constitucional, estudo da moral, filosofia, psicologia. Ela achava que nós estávamos só preparados para a guerra", contou ele. E ironizou: "será que acham que nós ensinamos tortura?"

Já o general Pimentel emendou dizendo que "as escolas militares ensinam honestidade, competência e trabalho". Para ele, "se eles queriam encontrar em nossos quadros oficiais socialistas para promover com certeza não iam encontrar de jeito nenhum e pode escrever isso com todas as letras". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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