Debate da Band: primeiro debate das eleições 2022 entre os presidenciáveis opôs pela primeira vez Lula e Bolsonaro (BAND/Reprodução)
Carolina Riveira
Publicado em 29 de agosto de 2022 às 18h51.
Última atualização em 6 de setembro de 2022 às 20h51.
A presença de Jair Bolsonaro (PL) no debate da TV Bandeirantes e embates no ar com Lula (PT) foram suficientes para fazer do presidente o principal destaque nas redes sociais na noite de domingo, 28. Apoiado por sua militância ativa, o presidente teve mais menções do que Lula e também maior aprovação nas postagens, segundo levantamento da agência de inteligência .MAP feito a pedido da EXAME.
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Perfis classificados como à direita (incluindo o próprio presidente, sua família e influenciadores alinhados ao governo) responderam por mais de 48% de participação nas publicações sobre o debate e dominaram a pauta. Já os perfis à esquerda tiveram fatia só de 17%.
O comportamento foi o contrário do que ocorreu nas participações dos presidenciáveis no Jornal Nacional, quando a esquerda dominou.
"A estratégia dos perfis de direita no debate não foi só de defesa de Bolsonaro, mas de criticar seu principal adversário, que é o ex-presidente Lula", diz Giovanna Masullo, diretora-executiva da .MAP. "A militância de esquerda não entrou muito, mas a da direita entrou com o pé na porta."
O levantamento da .MAP foi feito com base em uma análise qualitativa amostral em um universo de mais de 1,4 milhão de posts diários no Twitter e perfis abertos no Facebook. A análise é relativa ao domingo, 28, período durante o debate, e vai até 6 horas desta segunda-feira, 29.
Os apoiadores de Bolsonaro se usaram de temas como corrupção para criticar Lula e alavancar o atual presidente, enquanto a esquerda se manteve mais silenciosa.
O domínio dos apoiadores de Bolsonaro na discussão sobre o debate nas redes fez com que o percentual de apoio fosse maior para o presidente e muito baixo para Lula. O dado é medido em análise qualitativa amostral em uma metodologia da .MAP.
Um destaque do debate foi a senadora Simone Tebet, que chegou a um de seus picos nas redes desde o início da campanha.
A senadora, que costuma não chegar ao 1% de participação na discussão nas redes, foi tão falada quanto Lula e, além disso, mais apoiada:
A positividade alta de Tebet veio apesar de críticas que também sofreu da base de Bolsonaro durante o debate, uma vez que a senadora protagonizou, no ar, alguns dos principais embates da noite com o ex-presidente - como quando falou sobre CPI da covid-19 ou temática das mulheres.
Metade da discussão sobre a ex-senadora veio de perfis à direita, com zero de positividade no índice da .MAP. Ao mesmo tempo, a senadora teve a positividade ampliada por causa do apoio que recebeu de outros públicos, explica Masullo.
Se considerado só o público classificado como "opinião pública não militante" (que a .MAP chama de "nem nem", por serem perfis não influenciadores e não alinhados diretamente nem a Lula, nem a Bolsonaro), Tebet teve apoio acima de sua média geral, com 56% de positividade. Bolsonaro e Lula tiveram zero positividade nesse grupo.
"A opinião pública não militante avaliou de forma crítica tanto Lula, quanto Bolsonaro. Tebet foi quem mais capitalizou nesse público", diz Masullo.
O resultado do debate para a esquerda foi na contramão do Jornal Nacional, na semana passada. No programa da TV Globo, a participação de Lula levantou a militância e fez a esquerda dominar a pauta nas redes, como mostrou a EXAME.
"O JN serviu para levantar, gerou uma grande euforia na militância de esquerda. Agora, o debate foi um balde de água fria, eles praticamente não entraram [na conversa]", diz Masullo.
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Fora das redes, as participações tanto de Bolsonaro quanto de Lula foram analisadas como negativas em vários momentos do debate na Band. Uma das principais críticas a Bolsonaro veio no ataque à jornalista Vera Magalhães, enquanto Lula foi criticado por não ter respondido de forma mais contundente a críticas de Bolsonaro e dos rivais durante as perguntas.
Mas, nas redes, o "falem mal, mas falem de mim" segue sendo crucial na batalha pela relevância no algoritmo. Apesar do bom engajamento no debate, Tebet, que gira em torno de 4% das intenções de voto, tem o desafio de manter a atenção do eleitorado. Já a esquerda sofre com a falta de continuidade e picos esporádicos, embora Lula lidere nas pesquisas.
"A militância de esquerda é muito irregular nas redes. Não mantém a frequência e baixa a guarda", diz Masullo.
"Já a direita está sempre muito coesa. No debate, é possível ver como os perfis até mesmo se alimentam de falas de Bolsonaro, como a discussão sobre mulheres, para ficarem mais mobilizados e blindar seu candidato."
Há todo um universo para além do Twitter, como o público com renda inferior a dois salários mínimos, jovens e mulheres, que Bolsonaro tenta conquistar para tirar os pontos de vantagem de Lula nas pesquisas - um público para quem o debate pode ter leituras que extrapolam muito àquela das redes sociais.
Mas, nas redes, diz Masullo, a boa presença digital da base de Bolsonaro pode seguir ajudando a cercar o presidente das críticas, seja nos debates ou no resto da campanha.