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Microcefalia associada ao vírus zika preocupa gestantes

Quando o Ministério da Saúde confirmou a relação do vírus com o aumento dos casos de microcefalia, grávidas têm encarado uma gestação cheia de temores


	Grávidas: uso constante de repelente, de roupas que encobrem todo o corpo, a instalação de telas contra mosquitos e a vistoria de criadouros da dengue são algumas das práticas comuns entre as mulheres
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Grávidas: uso constante de repelente, de roupas que encobrem todo o corpo, a instalação de telas contra mosquitos e a vistoria de criadouros da dengue são algumas das práticas comuns entre as mulheres (Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 12 de dezembro de 2015 às 14h48.

“Não saio de casa se não for para trabalhar. Estamos prisioneiras mesmo, porque o medo é muito grande aqui. Abri mão de tudo”, relata a policial militar pernambucana Monique Cordeiro, 27 anos, grávida de 11 semanas.

Ela mora no município de Arcoverde, no sertão de Pernambuco, estado que registra o maior número de casos de microcefalia associado ao vírus Zika.

Dos mais de 1,7 mil casos suspeitos, cerca de 800 são no estado. “Já tive crise de nervos, de achar que estava pintada [com manchas], sem estar. Está sendo muito difícil e a minha cidade tem muita gente doente [com sintomas de Zika]”, afirmou Monique.

Desde o fim de novembro, quando o Ministério da Saúde confirmou a relação do vírus com o aumento dos casos de malformação congênita, especialmente na Região Nordeste, Monique e grávidas de vários estados têm encarado uma gestação cheia de temores.

“É meu primeiro filho e já tive um aborto há três anos, por isso é ainda maior a preocupação”, declarou. Ela lamenta que não esteja aproveitando, como gostaria, a gravidez. “São muitas notícias erradas, desencontradas, que deixam a gente com dúvidas e em pânico”, lamentou.

O uso constante de repelente, de roupas que encobrem todo o corpo, a instalação de telas contra mosquitos e a vistoria de criadouros da dengue são algumas das práticas comuns entre as mulheres entrevistadas pela Agência Brasil. No Ceará, estado que registra 40 casos suspeitos de microcefalia associada ao Zika, a analista de recursos humanos Fernanda Mendes, 34 anos, que está grávida há 17 semanas, adotou como medida principal o uso do repelente. "Comecei a ficar mais ansiosa para saber como me prevenir, buscar informações, mas também procuro não enlouquecer”, relatou.

Mas as dúvidas em relação ao uso do repelente também intrigam as gestantes. O médico Marcelo Burlá, presidente da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, informa que não existem estudos sobre o uso intenso e prolongado desse produto em grávidas. Por outro lado, também não há relatos de efeitos adversos em relação aos agentes químicos dos repelentes habituais. A substância que tem sido mais recomendada pelos médicos é a icaridina, cujo nível de concentração permite proteção mais prolongada. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o uso é seguro para mulheres grávidas.

Burlá orienta que o ideal é evitar o mosquito no ambiente em que se permanece a maior parte do dia, para que não seja necessário passar constantemente o repelente. “Quando sair para a rua, usar repelente e tentar, de maneira razoável, cobrir a superfície corporal o máximo possível”, sugeriu. A grande procura por repelentes fez com que a demanda no laboratório Osler, que produz a marca com icaridina no Brasil, aumentasse mais de 1000%, informou Paulo Guerra, diretor-geral da empresa.

“Tínhamos a substância em estoque, mas fizemos adaptações. Como o produto é importado e trazíamos de navio, agora estamos trazendo semanalmente de avião”, acrescentou.

Apesar disso, algumas farmácias têm adotado estratégias para garantir a distribuição do produto, como lista de espera e limite de compra por cliente.

“Estava procurando o Exposis, que todo mundo fala que é o que tem maior tempo de duração, mas aqui em Fortaleza ele praticamente esgotou em todos os lugares em que procurei. Deixei meu nome em uma loja e consegui comprar um frasco”, relatou. Jacqueline Oliveira é vendedora em uma farmácia na capital paulista e também confirma a falta do produto. “Está com lista de espera. Não tem mais em lugar nenhum”. Nesta semana, o Ministério da Saúde anunciou que negocia parceria com o Exército para produzir repelente.

Mudança de planos

O aumento dos casos de microcefalia fez com que a servidora pública Nathalia Zaranza, 29 anos, mudasse de planos em relação à gravidez. Também moradora de Fortaleza, ela iniciaria tratamento médico para acompanhar a tentativa de engravidar, mas decidiu não seguir com esse esforço agora. “Se for para acontecer, a gente vai ficar com medo, mas também não desistimos totalmente. Decidimos arriscar até pela vontade de engravidar”. Não há recomendação do Ministério da Saúde para que se evite a gravidez, mas as mulheres que planejam engravidar precisam avaliar os riscos antes de tomar uma decisão.

Na capital paulista, embora a Secretaria Municipal de Saúde não tenha registrado casos suspeitos de microcefalia associada ao Zika, cujo vírus tenha sido contraído em São Paulo, o temor da doença já é uma constante entre as grávidas.

A jornalista Ana Maria Straube, 32 anos, grávida de 18 semanas, relata que mudou os planos de uma viagem ao Recife ao saber do surto. “Foi a única coisa que achei que deveria fazer no começo. Agora, que está aparecendo em outros estados, decidimos tomar algumas medidas de prevenção aqui em São Paulo mesmo. Comprei repelente que tem icaridina, que é o mais recomendado. Tinha bromélias que juntavam um pouco de água e tirei todas”, contou.

Foi comum encontrar entre as paulistanas que fazem o pré-natal no Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros, na zona leste da capital paulista, relatos de grávidas que desconheciam o risco do vírus Zika. A boleira Mônica Rodrigues, 37 anos, está grávida de quatro meses do quarto filho e as informações que tem sobre a doença vieram da televisão e da internet.

“Não adotei nenhum medida de prevenção, só os cuidados com água parada que a gente já tinha por causa da dengue”, explicou. A operadora de caixa Rosilene Nascimento, 23 anos, está grávida de cinco meses e passou a usar repelente depois do alerta da cunhada. “Ela que se informou e foi me dizendo o que fazer”, disse.

A auxiliar de limpeza Luciana Nogueira, 31 anos, já está no final da gestação, com 37 semanas. Apesar de conhecer a doença, ela está aliviada por saber que tudo está bem com o bebê. “Vi pela televisão e pelo jornal que está afetando as mulheres grávidas, mas com ele está tudo certo”.

A operadora de caixa Flávia Silva, 26 anos, também está tranquila em relação ao parto que deve ocorrer nas próximas semanas. “Soube pelas reportagens que está mais no Nordeste. Meu médico não falou sobre isso. Fiquei assustada. Falam que não tem em São Paulo por enquanto, mas deve chegar, então a gente fica preocupada”, declarou.

Tensão

Para Marcelo Burlá, este é um momento de tensão e é preciso ter responsabilidade nas orientações às gestantes. “Não adianta ir muito cedo, com 12, 13 ou 14 semanas, para fazer ultrassom. É um período ainda precoce para avaliar. Toda gestante que teve contato com alguém ou ela mesma teve sintomas do Zika deve procurar um obstetra para fazer a avaliação a partir de 20 semanas. Uma única avaliação é suficiente para afastar completamente [o diagnóstico de microcefalia]”, destacou.

A doula Priscila Rabelo, fundadora da organização não governamental Parto Normal Fortaleza, também chama a atenção para a abordagem desse ambiente de temor entre as mulheres. “A gestação já é cheia de tensões, ansiedades. Diante deste fato novo, que está em estado de alerta, é normal que haja receio coletivo. As orientações estão em construção e isso causa muita ansiedade”.

Ela coordena um grupo no Facebook que reúne mais de 8 mil mulheres e este é um tema constante. “Temos chamado a atenção para as medidas de prevenção, mas, sobretudo, para o combate ao mosquito, que é dever, não só das gestantes, mas de toda a sociedade”

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