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Metade da população é a favor da reforma da Previdência, diz pesquisa

Levantamento exclusivo da consultoria CVA mostra também que brasileiro está mais aberto a privatizações e ao fim da estabilidade no funcionalismo público

Fila do INSS: rombo da Previdência foi de 280 bilhões de reais em 2018 (Antônio Cruz/Agência Brasil)

Fila do INSS: rombo da Previdência foi de 280 bilhões de reais em 2018 (Antônio Cruz/Agência Brasil)

AJ

André Jankavski

Publicado em 14 de fevereiro de 2019 às 12h23.

A poucos dias de apresentar à população e ao Congresso Nacional a proposta do governo para a reforma da Previdência, o presidente Jair Bolsonaro pode estar diante de uma janela de oportunidade jamais vista por outro presidente.

Uma pesquisa da consultoria brasileira CVA Solutions, feita com 2.500 entrevistados e obtida com exclusividade por EXAME, mostra que 49% são favoráveis a reforma da Previdência, enquanto outros 19% ainda se mantêm neutros. Do percentual restante, 25% se colocam contra e 7% dos entrevistados não quiseram responder.

O apoio da maioria (70%) também é percebido na proposta de um mesmo teto e regras de aposentadoria para funcionários públicos, privados, militares e políticos.

Mais do que o apoio da população da reforma, Bolsonaro começa o governo com uma popularidade (54%) acima da maioria dos ex-presidentes em início de mandato após a ditadura militar — a exceção foi Dilma Rousseff em seu primeiro mandato (58%). Isso pode indicar que a lua de mel do governo com a população pode ser um pouco mais longa, segundo Sandro Cimatti, fundador da CVA.

Logo, a hora de seguir com a reforma é agora. “Dificilmente se terá uma janela mais favorável para a reforma”, afirma Cimatti. A questão, agora, é saber quanto as crises políticas do governo podem afetar esse apoio.

Ao mesmo tempo, o apoio popular a pontos considerados chave não registram o mesmo eco. A idade mínima é um exemplo. A consultoria perguntou se os entrevistados concordavam com as idades estabelecidas pela proposta do governo do ex-presidente Temer – 65 anos para homens e 62 anos para mulheres.

Aí o percentual de apoio se inverte: 42% são contra e 40% concordam com essa regra. Esse é um dos principais pontos de discordância dentro do governo federal. Enquanto a equipe econômica gostaria de estabelecer 65 anos como idade mínima para ambos os sexos, Bolsonaro e o núcleo político devem reduzir a pedida para 62 anos para homens e 57 para mulheres.

O déficit da Previdência chegou a 280 bilhões de reais no ano passado e a dívida bilionária cresce ano após ano. Não é à toa que especialistas colocam a reforma como o principal desafio de Bolsonaro e o termômetro de que o governo dele pode colher bons resultados na economia.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, defende uma economia mínima de 1 trilhão de reais em dez anos. Para fazer com que isso saia do papel, o governo precisará investir e ser efetivo na comunicação. E o próprio Bolsonaro terá que sair como garoto propaganda da reforma.

Para Renato Follador, ex-secretário de Previdência do Paraná e consultor especializado na área, a reforma precisa ter regras simples para conseguir o apoio popular. Os problemas precisam estar claros para a população e os congressistas e discursos técnicos não são absorvidos por boa parte das pessoas.

O mesmo discurso tem que ser refletido na propaganda que o governo está preparando. “Se a campanha não for transparente e verdadeira ao mostrar que todos vão pagar as contas, isso pode até aumentar a raiva interna e o conflito que o país vive”, afirma o publicitário Hugo Rodrigues, presidente da agência WMcCann.

Um Brasil mais liberal?

Outro questionamento feito a pesquisa foi a respeito das privatizações. Cerca de 47% dos respondentes acreditam que as privatizações reduzem o uso das empresas estatais para a corrupção dos políticos – 23% se colocaram contra essa afirmação.

Quando perguntados se o Estado deveria usar os recursos públicos apenas nas áreas de educação, saúde e segurança, 77% se mostraram favoráveis ao tema – 8% foram contra e 12% se posicionaram como neutros.

Há também um apoio para o fim da estabilidade dos funcionários públicos. A pesquisa perguntou se concursados devem ser avaliados e também estar sujeitos a demissões: 46% apoiaram a ideia e 15% se mantiveram neutros. Cerca de 33% acreditam que as regras diferentes para o funcionalismo devem ser mantidas.

“A eleição mostrou que a intolerância com privilégios e injustiças está maior e o recado foi dado nas urnas. Agora, o Bolsonaro tem que fazer aquilo que prometeu”, afirma Cimatti, da CVA.

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