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'Meta é vacinar 90% das crianças de SP', diz secretário de Saúde do estado

Em entrevista exclusiva à EXAME, Jean Gorinchteyn explica as estratégias e desafios de garantir proteção contra o coronavírus às crianças

Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde do estado de São Paulo. (Governo de São Paulo/Divulgação)

Jean Gorinchteyn, secretário da Saúde do estado de São Paulo. (Governo de São Paulo/Divulgação)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 27 de fevereiro de 2022 às 08h30.

Na última semana o estado de São Paulo ultrapassou a taxa de 65% das crianças de 5 a 11 anos vacinadas com pelo menos a primeira dose contra a covid-19. O número foi alcançado em menos de um mês, algo nunca visto em todas as campanhas de imunização, como explica o secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn, em entrevista exclusiva à EXAME. Para as próximas semanas o estado tem uma meta ousada: imunizar 90% da população pediátrica.

O valor supera, e muito, a vacinação em países que começaram a imunização meses antes do Brasil. Segundo dados oficiais, os Estados Unidos tem uma taxa de 32,08% de imunizados na faixa entre 5 e 11 anos, considerando a aplicação de pelo menos a primeira dose. A Itália tem 36,92%, e Canadá está com 54,61% de vacinados.

O médico infectologista explica que o valor superior ao de países desenvolvidos foi alcançado graças a um esforço que envolveu os 645 municípios do estado, com uma estrutura de mais de 5.200 postos de vacinação. "Nós temos várias estratégias que vão desde as buscas ativas nos municípios dessas crianças não vacinadas até a utilização de aparelhos como as escolas, sejam públicas municipais, estaduais ou privadas", afirmou.

Além disso, a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, em parceria com a chinesa Sinovac, também fez a diferença. Assim que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do imunizante na população pediátrica, o estado comprou diretamente do laboratório paulista vacinas para iniciar a aplicação. O Ministério da Saúde fez a aquisição de doses da Coronavac para a aplicação em crianças quase um mês depois da liberação da Anvisa.

Apesar de todo o esforço de primeira dose, o estado enfrenta o problema de conscientizar as pessoas para a aplicação da segunda dose. Pouco mais de 2 milhões de pessoas estão com o esquema de vacinação incompleto, sendo mais da metade na faixa etária de 12 a 19 anos. Para Gorinchteyn, o trabalho das escolas na comunicação com responsáveis é primordial para avançar na proteção contra o coronavírus. Veja os principais trechos da entrevista exclusiva.

Qual foi a estratégia adotada pelo estado de São Paulo para chegar a mais de 65% das crianças vacinadas com pelo menos a primeira dose?

Dois fatores foram extremamente importantes para a vacinação do nosso público infantil em tempo recorde de aproximadamente 28 dias: planejamento e estrutura. Esta velocidade é algo que nunca foi atingido em nenhuma outra campanha de imunização para outros agentes, sejam virais ou bacterianos. Isso se deve a uma questão chamada planejamento, mas também é uma questão relacionada a toda uma estrutura de apoio que temos dos 645 municípios, com 5.200 pontos de vacinação, vacinadores habilitados e a disponibilidade de vacinas. Isso foi algo extremamente importante e fez com que nós tivéssemos uma estrutura preparada para vacinar. Aliado a tudo isso, teve a intenção, o desejo por parte dos responsáveis para imunizar as crianças.

O estado tem um grande número de adultos que faltaram à aplicação da segunda dose. Como vai ser a estratégia para que o mesmo não ocorra com as crianças?

Nós temos várias estratégias que vão desde as buscas ativas nos municípios dessas crianças não vacinadas até a utilização de aparelhos como as escolas, sejam públicas municipais, estaduais ou privadas. Temos um número considerável de 2,1 milhões de pessoas que não tomaram a segunda dose de vacina no estado de São Paulo, e, portanto, não estão devidamente imunizadas. Porém, 1,1 milhão estão na faixa de 12 a 19 anos. Por isso nós vamos resgatar por meio desse apoio das escolas. A nossa meta é vacinar, no mínimo, 90% das crianças ainda em março.

O estado fez uma semana de vacinação nas escolas para acelerar a imunização. A ação, que terminou na sexta-feira, 25, vai continuar?

A semana foi muito mais de conscientização, com a utilização dos educadores, e que seguramente não vai terminar agora no dia 25, uma vez que os educadores continuam comunicando aos responsáveis, cobrando as carteirinhas de vacinação e fazendo as orientações necessárias. Nós temos visto aumentos consideráveis de doença respiratória aguda grave em crianças. Então, esse público tem que ser protegido, principalmente agora que nós temos a circulação da variante ômicron, com alta capacidade de transmissão. Com o passar da semana, mais e mais pessoas são vacinadas e a necessidade de ter um ponto fixo dentro de uma escola perde o sentido, e ele retorna para a unidade de saúde mais próximo das pessoas.

Qual foi a importância da Coronavac na estratégia de vacinação das crianças?

Todas as vacinas disponíveis foram avaliadas e chanceladas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, mostrando claramente serem seguras. A Coronavac já vinha sendo usada em vários países do mundo e, em grande parte, em crianças, ou seja, na condição de vida real. Essa aplicação mostrou que ela é capaz de diminuir a transmissão, a forma da doença grave e reduzir internações no grupo pediátrico. Os estudos também revelaram que ela tem uma resposta muito mais robusta nessas crianças, produzindo um nível de anticorpos alto e com uma tendência de se manter altos de uma forma prolongada.

São Paulo bateu de frente com o governo federal por diversas vezes ao longo da pandemia e tomou decisões diferentes em muitos momentos. Como foi convencer as pessoas de que era preciso vacinar as crianças?

Todas as medidas que foram adotadas durante a pandemia tiveram o protagonismo de São Paulo, desde a obrigatoriedade da máscara, dizer que a vacina era importante, até ter a primeira pessoa imunizada no país, no dia 17 de janeiro do ano passado. Nós também ampliamos a imunização para grupos que nem sequer estavam contemplados no Programa Nacional de Imunizações. Sempre gritamos o quanto seria necessário se fazer doses de reforço e elas se mostraram extremamente importantes, principalmente com a circulação da variante delta. Da mesma forma ocorreu com a vacinação de crianças e adolescentes. Muitas dessas medidas foram adotadas posteriormente pelo governo federal.

Estamos no meio do carnaval e, apesar das festas públicas terem sido adiadas, festas privadas estão liberadas. Como o estado vai monitorar o resultado das aglomerações depois das festas?

A festividade do carnaval foi postergada para abril exatamente entendendo que esse não é o momento para ocorrência de aglomerações que acontecem sem a utilização de um artefato extremamente importante que é a máscara. Desta forma, o governo estado de São Paulo desencorajou os municípios a realizarem a festividades, seja de bloco, seja carnavalescas, e orientar a população que não façam isso. Toda a fiscalização das vigilâncias que estão acontecendo visam averiguar se ocorre infração, como o respeito da capacidade de 70%, assim como a obrigatoriedade do uso de máscara para que não haja necessidade de realizar multas. Além disso, vamos acompanhar os números nos dias posteriores ao carnaval.

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