O país está entre aqueles que menos acolhe imigrantes: 0,7% da população é de estrangeiro e a média mundial é 3%. (Nacho Doce/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 17 de dezembro de 2018 às 18h42.
Última atualização em 17 de dezembro de 2018 às 18h46.
São Paulo – Apesar do Brasil estar na rota dos refugiados venezuelanos, ele ainda é de forma geral pouco procurado por estrangeiros.
De acordo com dados da Polícia Federal, 252 mil brasileiros saíram do país em 2018 enquanto outras 94 mil pessoas escolheram o país para morar. O saldo negativo, desse modo, ficou em 157 mil pessoas.
Segundo o Instituto Adus, organização que reintegra refugiados no Brasil, o Brasil tem cerca de três milhões de pessoas vivendo em outras nações, enquanto aqui há apenas 1 milhão de emigrantes.
Uma pesquisa do Instituto Ipsos aponta que o brasileiro acha, em média, que 30% da nossa população é de estrangeiros, mas o número real não chega a 1%. É uma das maiores distorções entre todos os países pesquisados.
Para o Padre Paolo Parise, um dos coordenadores da Missão Paz, uma organização que acolhe imigrantes desde da década de 1930, há uma onda de desinformação no país quando o assunto é imigração, principalmente depois da situação dos venezuelanos.
Segundo ele, os dados da PF confirmam que o Brasil não é um país acolhedor como boa parte dos brasileiros acreditam.
“A ideia de um Brasil que está sendo invadido por imigrantes é um discurso populista que interessa somente a alguns. Até os países vizinhos acolhem mais. Colômbia, por exemplo, recebeu mais de 1 milhão de venezuelanos nessa crise e por aqui chegaram apenas 75 mil venezuelanos”, diz Padre Parise.
A Missão Paz, que tem a Casa do Imigrante desde 1978, tem acomodações para 110 pessoas e oferece cursos de português para a pessoa recém-chegada ao país, além de suporte médico, jurídico e serviços de documentação.
Padre Parise afirma que devem passar por lá este ano 5 mil pessoas, longe do pico de 8 mil imigrantes atendidos em 2016. Atualmente, há pessoas de 19 nacionalidades na casa.
Desde o início do ano, o projeto já acolheu 100 venezuelanos que participaram do processo de interiorização promovido pelo governo federal e outros 250 que vieram de maneira espontânea.
Ele diz que eles são na sua maioria homens e jovens, de 20 a 34 anos, e que metade tem curso superior.
"Geralmente, os imigrantes ficam cerca de 3 meses na casa para ter suporte para conseguirem se ajeitar. Mas, muitos, principalmente venezuelanos, têm outro destino, não ficam no Brasil. Vão para o Chile ou Uruguai, usam aqui como passagem. Não é amigável o nosso país”, ressaltou.
O economista Pedro Coelho Afonso, da corretora Gradual, afirma que o Brasil não atrai os estrangeiros porque não tem estrutura nem atrativos para tal.
“Não temos uma economia que atraia o imigrante. E isso não vai mudar. A questão dos venezuelanos é pontual, como foi na época das guerras mundiais, quando o país recebeu italianos, japoneses. Mas, culturalmente e economicamente, não somos o lugar mais atrativo no mundo”, disse Coelho Afonso.
Ele também não vê possível melhora nas condições de acolhida e prevê que o governo eleito de Jair Bolsonaro tenderá a seguir uma linha mais dura nesse assunto.
Bolsonaro disse em 2015 que os refugiados que chegam ao Brasil eram "a escória do mundo" e seu chanceler Ernesto Araújo já comunicou que vai se afastar do Pacto Global de Migração da ONU (Organização das Nações Unidas)
Para o Padre Parise, a vida do imigrantes e refugiados deve ser mais difícil a partir do ano que vem.
“A tendência é uma política mais restritiva. É mais provável que o imigrante e o solicitante de refúgio se torne culpado de tudo o que está acontecendo no país. Em Roraima, por exemplo, a situação ficou bem complicada. Mas, isso porque o governo federal demorou em entrar em ação. Teria que ter entrado com a política de interiorização, que é distribuir os imigrantes pelo país, mais rápido para evitar conflitos”, disse o padre.