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Mergulhado em escândalos, o PT está mesmo enfraquecido?

Denúncias contra ex-presidente, prisão de Palocci e efeitos do impeachment de Dilma são os principais obstáculos da sigla na corrida municipal de 2016


	Após novas denúncias, Lula está abatido. Conseguirá o PT se manter entre os principais partidos mesmo sem a força integral de sua principal estrela?
 (Fernando Donasci / Reuters)

Após novas denúncias, Lula está abatido. Conseguirá o PT se manter entre os principais partidos mesmo sem a força integral de sua principal estrela? (Fernando Donasci / Reuters)

Marcelo Ribeiro

Marcelo Ribeiro

Publicado em 1 de outubro de 2016 às 06h00.

Brasília — Após permanecer no comando do Palácio do Planalto por mais de 13 anos, o PT deve encarar um resultado difícil nessas leições municipais, cujo primeiro turno acontece no domingo.

Principal nome do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é alvo de denúncias de corrupção e reú em dois processos diferentes. Desestabilizado com a nova condição, o petista - considerado o principal cabo eleitoral do partido dos últimos anos - aparentemente já não tem muitas armas para fortalecer as candidaturas municipais.

Mesmo fragilizado, Lula não abriu mão de fazer viagens pelo país com o objetivo de emplacar prefeituráveis do PT. Com candidato próprio em 19 das 26 capitais, o PT lidera as pesquisas de intenção de voto em apenas duas: Rio Branco, no Acre, e Porto Velho, em Rondônia. A legenda está na segunda colocação em outras duas capitais: Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, e Recife, em Pernambuco.

A prisão do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci (PT) nesta segunda-feira (26) deve pesar na decisão dos eleitores na corrida eleitoral. De acordo com a Polícia Federal, há indícios de que o ex-homem forte do governo petista teria atuado de forma direta para obter vantagens econômicas à Odebrecht em diversas áreas de contratação com o poder público em troca de propina. Segundo a PF,  ele próprio e membros de seu grupo político teriam sido beneficiados com cerca de 128 milhões de reais.

A prisão relâmpago do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega - que ficou cerca de cinco horas detido na última quinta-feira (22) - também é vista como um desafio para que os petistas consigam se sair bem nas urnas.

O ex-ministro é suspeito de ter pedido R$ 5 milhões para Eike Batista, ex-presidente da OSX, no interesse do Partido dos Trabalhadores (PT) em novembro de 2012. O pagamento, segundo a PF, teria sido operacionalizado por Mônica Moura, esposa do ex-marqueteiro do PT João Santana. A informação teria sido confirmada pelo próprio Eike em depoimento para a Polícia Federal.

Segundo os investigadores, há indícios de que Mantega teria atuado "diretamente junto ao comando de uma das empresas para negociar o repasse de recursos" para o PT com o objetivo de sanar dívidas de campanhas políticas.

A EXAME.com, membros da cúpula do PT reforçam a tese de que as investigações e a atuação da Polícia Federal têm motivação política. Para eles, o objetivo seria impossibilitar as chances de Lula na eleição presidencial de 2018. Mas qual seria o objetivo no curto prazo? Petistas avaliam que o objetivo dos opositores é minimizar as chances do partido nas eleições de 2016.

O desempenho do PT nas disputas municipais ainda pode sofrer impacto do recente impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A saída traumática da petista do poder deve abater o potencial do partido nas urnas.

Ainda assim, o pessimismo não prevalece dentro do PT. Após reviravoltas como a do prefeito Fernando Haddad, em 2012, a ordem é aguardar a resposta das urnas. Na época, porém, nem Lula, nem o PT estavam tão implicados em investigações de corrupção. Mesmo assim, a sigla ficou em terceiro no ranking de partidos que mais elegeram prefeitos e vereadores. PMDB e PSDB, que hoje dominam a esfera federal, dominaram o topo. 

Perda da hegemonia

Diante de tantos escândalos, o PT acabou perdendo a hegemonia que detinha sobre os demais partidos da esquerda. Com isso, a legenda se tornou menos competitiva para a disputa municipal de 2016, pois não conseguiu coordenar uma reunificação da esquerda antes da eleição.

Segundo Victor Oliveira, da Pulso Público, a eleição municipal servirá de termômetro para que o PT saiba se ainda tem potencial para emplacar um presidenciável no pleito de 2018. “É um ciclo preparatório. Parece pouco razoável dizer que o PT não sairá chamuscado dessa eleição. Mas também não se pode dizer que acabou”, afirma. 

No mesmo sentido, Murilo Aragão, da Arko Advice, acredita que as chances do PT “encolheram muito” por causa da fragmentação da esquerda. Indagado sobre a possibilidade de o bloco se reorganizar até a eleição presidencial, o cientista político da Arko Advice diz que não há espaço para isso. 

“Ninguém quer pagar o preço pelos erros do PT. Os partidos de esquerda querem aglutinar o voto do petista frustrado. A tendência é que o partido esteja muito mais fraco mesmo, por causa da perda do espaço eleitoral e da narrativa”, avaliou Aragão. 

Por outro lado, o PT tem maior capacidade de reação em relação a outros partidos que passaram por momentos difíceis. Motivo: Com estrutura invejável quando o assunto é distribuição dos diretórios municipais, o “PT tem musculatura e capacidade de articulação”.

“Em tese, é pouco tempo para se recuperar. Mas nada é impossível. Porém, se perder a prefeitura de São Paulo, não conseguir eleger nenhum prefeito em uma capital importante, continuar com [o governador] Fernando Pimentel fragilizado em Minas Gerais e com Lula impossibilitado de concorrer, o PT talvez não tenha candidato em 2018”, diz Oliveira.

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