O deputado Jair Bolsonaro (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Luiza Calegari
Publicado em 1 de novembro de 2017 às 11h13.
Última atualização em 1 de novembro de 2017 às 13h13.
São Paulo – Em segundo lugar na última pesquisa de intenção de votos, o deputado Jair Bolsonaro já começa a parecer a melhor alternativa à Presidência para alguns analistas do mercado financeiro, segundo a Coluna do Estadão. A avaliação desses analistas é que o temor de um novo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva pode afugentar capitais estrangeiros do Brasil – uma repetição do cenário pré-eleição de 2002.
Mas o que o pré-candidato pensa sobre economia? A reportagem de EXAME tentou marcar uma conversa com ele sobre o tema no início deste ano, mas não conseguiu. Em outras entrevistas, no entanto, ele tem adotado a mesma resposta: “quem precisa entender de economia é o ministro da Fazenda que eu vou nomear”.
Uma versão dessa declaração foi feita à jornalista Mariana Godoy, em seu programa de entrevistas na RedeTV, quando um espectador perguntou a opinião de Bolsonaro sobre o tripé macroeconômico (meta fiscal, câmbio flutuante e controle de inflação): "Quem vai falar de economia por mim é minha equipe econômica no futuro". A apresentadora, então, pergunta se ele já está montando uma equipe. "Estou”. Mas não fala em nomes.
“O que o pessoal exige de mim de entendimento em economia, então teria que exigir o conhecimento em medicina: eu vou indicar o ministro da Saúde. Tem que ter um entendimento em questão de Forças Armadas: vou indicar o ministro da Defesa. O entendimento na questão da agropecuária: vou indicar o ministro da Agricultura. Então é um exagero nessa parte aí. Você pode ver, dos cinco presidentes militares, qual deles era formado em economia? Nenhum. E trouxeram o Brasil da 49ª para a 8ª economia do mundo".
Mariana Godoy, então, se choca e confronta o pré-candidato à Presidência com a história econômica brasileira. "Oi? Não, eles deixaram o Brasil com muita inflação, fizeram a dívida externa do tamanho que ficou..."
Bolsonaro engasga: "a dívida externa, mesmo com a dívida externa que era grande naquela época, teve inflação no governo Figueiredo", afirma. E depois desconversa: "Mas olhe a infraestrutura deixada por eles, inclusive nas telecomunicações. Rodovias, portos, aeroportos, a integração da Amazônia. Mesmo com os problemas da Transamazônica, o que ficou de legado pra nós, porque a nossa Amazônia estava condenada a ser perdida, se nós não investíssemos na Zona Franca de Manaus, que foi com o Castelo Branco, os territórios criados. Teve muita coisa boa, não podemos apenas pensar as coisas ruins, que todo governo, nós temos até em casa, Mariana, nós temos nossos problemas, quem dirá governando o país".
Na mesma entrevista para Mariana Godoy, ele critica a “estatização das empresas brasileiras para a China” e defende as privatizações. Gravou vídeos para seus seguidores na internet criticando a PEC do Teto de Gastos, mas acabou votando a favor da medida no Congresso. Elogiou o legado da ditadura militar no campo econômico para Godoy, mas antes de viajar aos Estados Unidos no começo do mês tinha defendido a extinção de algumas estatais (muitas delas criadas no governo militar) que teriam se tornado “cabides de emprego”.
As contradições dificultam o trabalho de Bolsonaro de achar nomes para compor sua equipe econômica. Segundo a coluna Primeiro Lugar, da revista EXAME, "os economistas sondados têm dúvidas sobre as posições do candidato, que já adotou um tom por vezes liberal, por outras intervencionista".
À Folha de S.Paulo, o pré-candidato disse, após voltar dos EUA que vai “estudar” em janeiro as informações que vem recebendo nos últimos meses. Bolsonaro é deputado na Câmara há sete mandatos (desde 1991, são 27 anos). As candidaturas à Presidência precisam ser registradas até agosto.
Assista ao trecho da entrevista, que está circulando nas redes:
Diante da crise econômica, olhem o preparo do "mito" para salvar a pátria pic.twitter.com/c87MI7sADn
— David Miranda (@davidmirandario) November 1, 2017