Brasil

Mensalão: Réu, Duda Mendonça faz campanhas para o PT

O homem que quase implodiu o governo Lula trabalha para candidatos, inclusive do PT, mas prioriza o crescimento de negócios no exterior

Depois do escândalo, Duda manteve as atividades de marqueteiro. Em 2010, ajudou a eleger os senadores Marta Suplicy e Cássio Cunha Lima (Ricardo Benichio/Contigo)

Depois do escândalo, Duda manteve as atividades de marqueteiro. Em 2010, ajudou a eleger os senadores Marta Suplicy e Cássio Cunha Lima (Ricardo Benichio/Contigo)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2012 às 18h29.

Em 11 de agosto de 2005, o marqueteiro Duda Mendonça foi responsável por um dos momentos mais delicados da crise do mensalão: em depoimento à CPI dos Correios, ele admitiu ter recebido cerca de 10,5 milhões de reais no exterior, como pagamento pela sua participação na campanha que elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, em 2002.

O valor foi depositado em uma conta nas Bahamas, por meio do empresário Marcos Valério de Souza, o operador do mensalão. "Não quero ficar de santinho, nem de hipócrita, nem de cínico. Mas, na verdade, ou a gente recebia assim ou não recebia. Eu tinha coisas a pagar. Eu não tinha mais poder de decisão. O jogo estava na mão deles", afirmou Duda no depoimento que incendiou Brasília.

A fala deflagrou uma ameaça real de impeachment e levou petistas às lágrimas no plenário da Câmara numa das imagens que entrou para a história. Era o auge de uma crise que ainda se arrastaria por meses, derrubaria ministros em série e afetaria para sempre a imagem do PT. Assustado, Lula foi à televisão para um pronunciamento em que admitiu os "erros" do partido e do seu governo. Pediu desculpas ao país.

Sete anos depois, longe dos holofotes do mundo publicitário, Duda está envolvido na campanha do candidato petista à prefeitura de Fortaleza, Elmano Freitas. Também terá missões a cumprir com a legenda em Jundiaí (SP) e São Luís (MA). Mas é no exterior que hoje ele concentra suas prioridades: as filiais de sua empresa, a Duda Propaganda, em Portugal e na Polônia.

Os contratos públicos sempre foram outra fonte de renda do marqueteiro, especialmente com o governo federal. Em 2011, faturou mais de 100 milhões de reais da União. O montante permite que ele mantenha a rotina extravagante, que inclui restaurantes de luxo, rinhas de galo e viagens em avião e helicóptero particulares.

Depois do escândalo, Duda manteve as atividades de marqueteiro. Em 2010, ajudou a eleger os senadores Marta Suplicy (PT-SP) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB). No ano passado, comandou a campanha derrotada pela separação do território do Pará. O interesse na região vai além da paixão por vaquejadas: ele é dono de uma milionária fazenda no local e, se o plebiscito ganhasse, ele se tornaria um importante líder do novo estado do Carajás.


Crimes - No julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Duda é acusado de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Como ele admite ter recebido os recursos no exterior, sua situação não é das mais fáceis.

Mas o advogado do publicitário, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos mais caros criminalistas do país, diz o contrário: "Tecnicamente, o caso dele é o mais simples, é o único que independe da existência do mensalão. Nossa defesa é 100% técnica", diz.

A defesa alega que o marqueteiro recebeu por serviços que efetivamente prestou ao PT, e não sabia da origem ilícita dos recursos. O destino da bolada, entretanto, nunca foi detalhado. Duda demonstra preocupação com o julgamento. No primeiro dia, quando a sessão do STF se resumiu a análises preliminares, trocou três telefonemas com Kakay. Pelo cronograma inicial do julgamento, sua defesa será apresentada no próximo 14.

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoEscândalosFraudesJustiçaMensalãoPolítica no BrasilSupremo Tribunal Federal (STF)

Mais de Brasil

STF retoma julgamento sobre ampliação do foro privilegiado; mudança pode impactar casos de Bolsonaro

Banco Central comunica vazamento de dados de 150 chaves Pix cadastradas na Shopee

Poluição do ar em Brasília cresceu 350 vezes durante incêndio

Bruno Reis tem 63,3% e Geraldo Júnior, 10,7%, em Salvador, aponta pesquisa Futura