Suspeitas: mensagens indicam que o ex-ministro da Previdência Social Carlos Gabas intermediou negócios da empreiteira com o governo do DF em 2014 (.)
Da Redação
Publicado em 14 de janeiro de 2016 às 07h51.
Brasília - Mensagens obtidas pelos investigadores da Operação Lava Jato no celular de José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, indicam que o ex-ministro da Previdência Social Carlos Gabas intermediou negócios da empreiteira com o governo do Distrito Federal em 2014, época em que era comandado por Agnelo Queiroz (PT).
Os investigadores afirmam que "sobre Gabas, destaca-se que há trocas de mensagens ao menos desde junho de 2012, sendo um contato de pessoas vinculadas a empresas do grupo OAS com negócios relacionados ao governo".
Atual secretário especial de Previdência Social, Gabas é próximo à presidente Dilma Rousseff.
Em 2013, ele levou a petista para passear de moto em sua garupa. Ele comandou o Ministério da Previdência de janeiro a outubro de 2015, quando a pasta foi fundida com a do Trabalho. Gabas nega qualquer envolvimento com a Lava Jato.
Os diálogos obtidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo" são mantidos sob sigilo em Brasília e na Justiça Federal no Paraná. As conversas envolvendo Gabas ocorreram entre 2012 e 2014, quando ele era secretário executivo do Ministério da Previdência.
Elas foram obtidas pelos investigadores em Curitiba e remetidas à Procuradoria-Geral da República no ano passado por haver menção ao nome de Gabas.
Até o momento, não há inquérito que investigue o envolvimento do ex-ministro na Lava Jato.
Em 27 de outubro de 2014, um número atribuído pelos investigadores a Léo Pinheiro encaminhou mensagem a Gabas citando José Lunguinho Filho, diretor da OAS Defesa. "Amigo, Não deu para o Lunguinho lhe ver. Abaixo a nossa agonia", afirma Pinheiro, citando em seguida as "principais pendências" que envolviam as obras do BRT Sul de Brasília.
Nas mensagens, MM significa "milhões", CEF, "Caixa Econômica Federal" e GDF, governo do Distrito Federa. "Contrato: - Solicitar ao GDF (Casa Civil e Secretaria de Transportes) a aprovação do 7.º Termo Aditivo e a respectiva reprogramação (R$ 60 MM), junto a CEF. - Última medição recebida foi referente ao mês de Junho/14. Saldo financeiro do contrato após este recebimento = R$ 90 MM - Recursos: empenhar e pagar - R$ 30 MM da fonte 100 do GDF (contra partida) desbloquear e pagar - R$ 60 MM do convênio de empréstimo, junto a CEF. Grande abraço, Léo."
Cinco horas depois da primeira mensagem, ela foi respondida por um número que a investigação atribui a Carlos Gabas. "Ok. Cuido daqui."
Obra viária
A OAS é uma das empresas integrantes do Consórcio BRT Sul, responsável por obras viárias no Distrito Federal, como a construção de uma linha de BRT. Fazem parte do consórcio a Andrade Gutierrez e a Via Engenharia, segundo informações da própria OAS.
O chamado "BRT Expresso Sul" já está em funcionamento, embora algumas estações ainda não tenham sido entregues. O projeto total teve investimento de R$ 761,4 milhões, segundo relatório do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Já em 2013, Gabas era apontado como intermediador entre a OAS e o governo do Distrito Federal, como sugere mensagem de 28 de março de José Lunguinho Filho para Léo Pinheiro, citando reunião com o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB-DF), identificado na conversa como TF, e o comando da Terracap, agência de desenvolvimento do Distrito Federal.
Defesa
Gabas afirmou que não representa a OAS e que seu propósito era "ajudar o DF e o governo do DF". "Não estou na Lava Jato, não tenho nada a ver com a OAS nem com nenhuma construtora", afirmou.
O secretário disse que participou de reuniões por integrar, desde 2010, o conselho de administração da Novacap, estatal do Distrito Federal responsável pela execução de obras. Ele admitiu ser autor das mensagens e disse que conheceu Léo Pinheiro no aniversário de um amigo em comum.
A respeito da mensagem a que respondeu dizendo que cuidaria da demanda de Pinheiro, Gabas disse apenas ter encaminhado o apelo ao então governador do DF, Agnelo Queiroz (PT).
"O cara está pedindo pelo amor de Deus. Pela mensagem dele, está desesperado para receber o dinheiro que ele já deve ter gasto, pelo que ele diz aqui. Não acompanhava isso."
A Caixa informou que não repassou recursos diretamente para a OAS. Em nota, a OAS informou que "a empresa não tem nada a comentar a respeito". O ex-vice-governador do DF Tadeu Filippelli disse que não irá se manifestar, assim como Agnelo Queiroz.