Governo Temer: o governo ter maioria numérica na comissão (Evaristo Sa/Getty Images/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 27 de junho de 2017 às 18h34.
Brasília - Membros da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara consideraram grave o conteúdo da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer.
Apesar do governo ter maioria numérica na comissão formada por 66 deputados titulares, parlamentares consideram precipitado fazer uma previsão do resultado da análise do pedido no colegiado.
"São denúncias muito graves e até agora o presidente não deu uma resposta política e jurídica à altura, o que deixa o governo em situação de fragilidade", comentou o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE).
O tucano lembrou que a análise da comissão será sobre o aspecto jurídico e político e que a eventual aprovação da admissibilidade da denúncia não significará a condenação de Temer.
Questionado se PSDB dará apoio a Temer na comissão, Betinho desconversou. "Não sei", respondeu.
Um dos cabeças pretas do PSDB com vaga na comissão, o deputado Fábio Sousa (GO) pediu a saída do partido do governo pelo constrangimento da situação.
"Há consistência na denúncia e o governo se perde em meio a uma tempestade sem fim. O PSDB precisa se desatrelar urgentemente, antes que seja tarde e o partido seja tragado pela tempestade. A denúncia foi bem embasada e manter o apoio está cada vez mais indefensável", disse o deputado de Goiás por meio de nota.
Os deputados sabem que o governo tem maioria na CCJ, mas observam que essa maioria é suscetível a influências externas e pode mudar de posição ao longo do processo.
"É uma maioria que não se dá em cima de valores e princípios, a gente sabe como essa maioria se formou. Os deputados sabem que estão defendendo um governo rejeitado pela maioria da população. O Temer sabe que não pode confiar nessa maioria", observou Wadih Damous (PT-RJ).
O petista, que é ligado a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), disse ter dúvidas técnicas sobre o fatiamento das denúncias porque as acusações estão interligadas.
Damous aponta um posicionamento político da PGR na decisão e a intenção de deixar o governo "sangrar" até o fim.
"O fatiamento é para deixar o plenário cara a cara com a opinião pública", avaliou.
De comportamento independente na CCJ, o deputado Esperidião Amin (PP-SC) disse que a denúncia criava uma situação gravíssima para o governo, uma vez que Temer se tornou o primeiro presidente na história a ser denunciado.
"É um mal pioneirismo. Isso gera mais instabilidade", declarou. O deputado é contra o andamento acelerado da denúncia na Câmara.
"Tem de ser o ritmo da Casa. Nosso ritmo não é o da PGR ou do Supremo (Tribunal Federal), é o ritmo de uma Casa política", afirmou.
Amin faz parte do grupo de parlamentares da base aliada que evitam se posicionar mais claramente sobre como pretende votar antes da chegada da denúncia.
É o caso de Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), candidato a relator da denúncia.
"Enquanto isso não chegar, qualquer manifestação é precipitada", justificou.
Substituído pelo líder da bancada, Áureo (SD-RJ), como membro titular da CCJ, Major Olímpio (SD-SP), voltou a lamentar a decisão do partido, mas deixou claro que vai marcar presença na comissão contra o governo, mesmo na condição de suplente.
"O Temer está morto politicamente. Só estamos escolhendo se ele vai ser cremado ou enterrado", disse.