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Melhorar a inserção no mundo é o foco do Itamaraty, diz Aloysio

No momento em que Trump volta os olhos para questões internas e deixa de lado acordos internacional há sim oportunidade para o Brasil, disse o ministro

Aloysio Nunes: "Hoje todos convergem para que a gente possa transformar o Mercosul realmente em uma zona de livre-comércio" (Ueslei Marcelino/Reuters)

Aloysio Nunes: "Hoje todos convergem para que a gente possa transformar o Mercosul realmente em uma zona de livre-comércio" (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Reuters

Publicado em 14 de março de 2017 às 22h33.

Brasília - O Ministério das Relações Exteriores tem um novo ministro, mas o foco se mantém: ampliar a inserção do Brasil no comércio mundial é a prioridade, resolvendo entraves no Mercosul, acelerando o acordo comercial com a União Europeia e aumentando os esforços na aproximação com a Aliança do Pacífico, disse em entrevista à Reuters o novo chanceler, Aloysio Nunes Ferreira.

No momento em que o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, volta os olhos do país para questões internas e deixa de lado acordos como as alianças Transpacífico e Transatlântica - com países asiáticos e com a União Europeia, respectivamente- há sim uma oportunidade para o Brasil, disse o ministro em entrevista nesta terça-feira.

"Não há dúvida de que abre oportunidades novas para o Brasil especialmente no âmbito dos acordos Mercosul-União Europeia", disse o ministro.

Mas mais do que o aspecto externo, afirma Aloysio, o mais propício é "a convicção do atual governo de que é preciso inserir melhor o Brasil no mundo", a começar pelo Mercosul e pela América Latina, onde, diz que há uma "convergência de pensamento" das principais economias.

"É preciso dar um passo adiante e buscar uma inserção mais ampla e desenvolta do Brasil no mundo, sem exclusão. À medida que caminhemos para uma integração maior com o mundo desenvolvido temos também que, ao mesmo tempo, aprofundar as relações com o Sul. Muitas vezes aquele comércio que se desequilibra com um lado pode se equilibrar com o outro", afirmou.

Sempre um ferrenho crítico dos governos de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, o senador tucano -que está no cargo há apenas uma semana- fez um elogio indireto ao presidente petista. Entre as regiões que o Brasil não pode deixar de lado estão, segundo ele, a África e o Oriente Médio.

"É uma relação que cresceu no governo do presidente Lula e foi deixada de lado depois no governo Dilma, com muitas promessas não cumpridas", afirmou.

Nos próximos meses, no entanto, o foco do chanceler é levar adiante três projetos: o acordo Mercosul-União Europeia, a aproximação com a Aliança do Pacífico e a desburocratização do Mercosul.

A tentativa de acordo com os europeus se arrasta há quase 18 anos, mas no final deste mês mais uma rodada de negociações, em Buenos Aires, parece promissora, de acordo com o ministro.

"Começamos a entrar em uma etapa que nos levará a uma decisão. Há um interesse de ambas as partes para chegarmos ao final do ano pelo menos com um amplo acordo político, para depois negociarmos questões mais delicadas", disse.

As primeiras negociações começaram em 1999, mas pararam em 2004 depois de uma troca de ofertas mal-sucedida. Foram retomadas em 2010, mas pararam novamente em 2014 por falta de interesse dos europeus e depois, pela crise política brasileira. Agora, há uma estimativa otimista de que pode ser fechado em 2018.

"Existe hoje uma intensificação dos nossos entendimentos para chegarmos a um acordo real de livre-comércio", afirmou Aloysio.

Barreiras

Outro foco é a reorganização do Mercosul. "O necessário agora é fazer do Mercosul aquilo que ele se dispôs a ser quando foi criado. Não adianta alargar demais a agenda sobre temas que fogem dos aspectos econômicos e comerciais perdendo de vista seu foco inicial", disse o ministro.

"Hoje todos convergem para que a gente possa transformar o Mercosul realmente em uma zona de livre-comércio."

Os quatro países -Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, já que a Venezuela continua suspensa- fizeram um levantamento e chegaram a 80 barreiras comerciais de diversos tipos dentro de um bloco que faz 26 anos este ano e foi concebido inicialmente como uma zona de livre-comércio.

"Quando você começa a examinar ponto a ponto aqueles 80 itens que têm problema de embaraço, cada barreira dessas têm um interesse corporativo, burocrático, econômico que às vezes permanece muito depois de já ter perdido o sentido", disse.

Aloysio defende, ainda, uma aproximação mais forte com a chamada Aliança do Pacífico, que reúne Chile, Peru, Colômbia e México, países com economia mais aberta do que o Mercosul.

"Nosso objetivo é caminharmos cada vez mais para a integração da América do Sul e o comércio é grande fator de aproximação", afirmou, lembrando que há uma reunião de chanceleres dos dois blocos no mês que vem.

"Há muita expectativa que a gente possa anunciar algumas decisões, ou pelo menos convergências concretas em alguns temas, como regras de concorrência."

Venezuela

Para além dos temas econômicos, a situação venezuelana é um dos principais problemas que o novo chanceler terá que lidar. Crítico do atual governo de Nicolás Maduro, Aloysio Nunes já trocou farpas com a chanceler do país vizinho, Delcy Rodríguez, no seu primeiro dia no cargo.

Aloysio citou o fato de um partido de oposição ter conseguido cumprir as exigências da Corte Eleitoral venezuelana para se credenciar às próximas eleições regionais como um fato "auspicioso".

"Para resolver divergências entre dois Poderes eleitos pelo voto popular só dando oportunidade para o povo falar. É uma oportunidade e é um fato auspicioso. Não pode haver beco sem saída na política", disse.

A Venezuela está suspensa do Mercosul sem previsão de volta. O país teria que cumprir uma série de normas econômicas que ainda não conseguiu para voltar ao bloco, mas abriu um painel no mecanismo de solução de controvérsias do próprio Mercosul para tentar reverter a decisão, o que não deve acontecer

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