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Médicos cubanos ajudam Brasil a reduzir carência

Dilma flexibilizou as leis de imigração e as regras para enviar médicos formados no exterior, incluindo 4.000 vindos da Cuba


	Equipamentos médicos: apesar das deficiências, as organizações de médicos condenaram o programa de Dilma, afirmando que trata-se de um atalho para certificar médicos sem qualificação
 (Getty Images)

Equipamentos médicos: apesar das deficiências, as organizações de médicos condenaram o programa de Dilma, afirmando que trata-se de um atalho para certificar médicos sem qualificação (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 20 de setembro de 2013 às 22h19.

Rio de Janeiro - Pintura fresca e novas mesas de exame são sinais da recente inauguração de uma clínica em Duque de Caxias, nos subúrbios empobrecidos do Rio de Janeiro. A única coisa em falta são médicos suficientes.

Essa carência afeta a maior economia da América Latina, que precisa de 168.000 médicos, segundo o governo brasileiro. Em reação aos protestos realizados em junho contra a má qualidade do atendimento à saúde e outros serviços públicos, a presidente Dilma Rousseff flexibilizou as leis de imigração e as regras para enviar médicos formados no exterior, incluindo até 4.000 vindos da Cuba comunista, para as áreas que mais os necessitam.

“De onde os doutores são não faz diferença”, opinou Sandro Fernandes, coordenador de saúde familiar de Duque de Caxias, em entrevista desde a clínica do local no mês passado. A cidade, a 25 quilômetros do centro do Rio, quer dobrar até 170 o número de médicos contratados para cumprir sua meta de estender a atenção básica para 70 por cento dos mais de 800.000 moradores. Atualmente, a cobertura chega a 28 por cento.

Embora as maiores cidades brasileiras contem com hospitais de nível internacional, como o Hospital Sírio-Libanês em São Paulo, onde Dilma recebeu tratamento contra o câncer, o número de formados em Medicina não consegue acompanhar a crescente demanda por serviços de saúde. O número de 1,8 médicos por cada mil pessoas está abaixo da média de 3,2 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, conforme dados do grupo sediado em Paris.

Os profissionais médicos também estão mal distribuídos. Aproximadamente 70 por cento dos 370.000 médicos do país trabalham nos estados mais ricos do Sudeste, como no Rio, onde há 3,44 doutores por cada mil pessoas, segundo dados do governo. Isso quadruplica os dados do Pará, com uma área do tamanho da África do Sul. Mais de 700 municípios não têm um médico sequer.

Oposição dos médicos

Apesar das deficiências, as organizações de médicos condenaram o programa de Dilma, afirmando que trata-se de um atalho para certificar médicos sem qualificação nem conhecimentos de português ou do sistema médico do País. Para atrair candidatos, o governo está renunciando a um exame exigido aos médicos formados no exterior – aprovado por somente 77 dos 884 candidatos no ano passado – para que obtenham a licença.


“O caminho escolhido é de alto risco e constitui um vexame nacional”, disse o Conselho Federal de Medicina (CFM), responsável por regular a profissão, em um comunicado publicado em 25 de junho, quatro dias depois que Dilma anunciou o plano em um discurso transmitido pela televisão para acalmar os protestos. “É uma medida paliativa e populista que oculta os verdadeiros problemas” que afetam o sistema de saúde do País, disse o CFM.

A maioria dos 4.000 doutores cubanos que chegou ao Brasil neste ano será enviada ao nordeste, tradicionalmente a região mais pobre do país, onde se focarão em saneamento e prevenção de doenças.

Os necessitados nas metrópoles Além de florestas e outras regiões remotas, as grandes áreas metropolitanas também sofrem com as carências. Em uma visita realizada em 11 de setembro a São Gonçalo, um subúrbio de classe baixa no Rio com 1 milhão de moradores, Dilma afirmou que não se pode adiar a resposta à exigência de melhores serviços de saúde que impulsionaram os protestos de junho.

Wendel Paiva, médico de 26 anos de idade, afirma que entrou no programa “Mais Médicos” por querer fazer uma diferença. Formado há poucos meses, Paiva conta que ele já viu problemas suficientes no sistema – esperas de anos por uma IRM (Imagem de Ressonância Magnética), falta de bandagens e outros insumos básicos – para perguntar-se quanto tempo ele conseguirá aguentar as frustrações diárias.

Embora a nova clínica em Duque de Caxias, onde ele trabalha, esteja bem equipada e seja celebrada pela comunidade local, a anterior, que ficava em uma favela próxima dominada por traficantes, era evitada por todos exceto os mais desesperados, conta Paiva.

“Nenhum médico trabalhará onde é necessária a permissão de bandidos para se entrar”, disse Paiva, que é de São Paulo, em entrevista enquanto atendia pacientes. “Não importa se for brasileiro ou estrangeiro”.

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